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O que é a Celac, cenário em que o Brasil pode assumir cargo de liderança

Trata-se de "reconstruir pontes" com a comunidade internacional, resumiu o atual ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira

Lula e ministros na posse: mundo agora é "infinitamente mais complexo, analisa assessor do presidente (Ricardo Stuckert/PT/Divulgação)

Lula e ministros na posse: mundo agora é "infinitamente mais complexo, analisa assessor do presidente (Ricardo Stuckert/PT/Divulgação)

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AFP

Publicado em 22 de janeiro de 2023 às 18h00.

Luiz Inácio Lula da Silva quer devolver ao Brasil um protagonismo na cena política internacional, e a cúpula dos presidentes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) será o primeiro cenário para testar um objetivo que, segundo especialistas, parece difícil de ser alcançado.

Ficaram para trás os anos em que o Brasil, com Lula na Presidência, era um articulador preponderante entre países emergentes e nações industrializadas no G20, promovendo o grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), ou promovendo a Unasul e a Celac.

O mundo agora é "infinitamente mais complexo", disse recentemente à imprensa brasileira Celso Amorim, então ministro das Relações Exteriores de Lula e hoje principal assessor de política internacional do presidente.

A participação de Lula na VII Cúpula da Celac, na terça-feira, 24, em Buenos Aires, "não se trata de uma volta da liderança regional brasileira", mas "de uma volta do Brasil aos mecanismos regionais de concertação política", para "eliminar essa noção de pária, de afastamento", de que o país se cercou nos últimos anos, explicou à AFP o diretor acadêmico do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), Feliciano de Sá Guimarães.

Bernabé Malacalza, pesquisador do Conicet, na Argentina, considerou "auspicioso" o sinal do Brasil para retornar à Celac, um mecanismo "a partir do qual podem ser estabelecidas agendas mínimas para a região".

De qualquer forma, "qualquer aspiração de liderança de Lula em sua política externa se chocará com a urgência interna. Este não é o Brasil das primeiras presidências de Lula. No horizonte atual, o maior desafio que o Brasil terá pela frente será recompor o tecido democrático", acrescentou Malacalza.

Nessa mesma linha, Ignacio Bartesaghi, especialista em Relações Internacionais e Integração pela Universidade Católica do Uruguai, duvida da capacidade atual do Brasil de se tornar a voz da América Latina, sobretudo, devido à "fraqueza interna" do governo Lula, que venceu as eleições por uma margem estreita e é obrigado a costurar alianças no Congresso.

Trata-se de "reconstruir pontes" com a comunidade internacional, resumiu no sábado (21) o atual ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, em entrevista à agência oficial de notícias argentina Télam.

EUA, China e o fiel da balança

Em 2008, com Lula no poder e o republicano George W. Bush na Casa Branca, o Brasil desempenhou um papel crucial de articulador do G20, um fórum que usou como plataforma para debater os caminhos possível para sair da crise financeira global iniciada nos Estados Unidos.

Com o democrata Joe Biden na presidente, a "confluência de interesses" entre ambos é muito maior, concordam os analistas consultados: ambos têm a extrema direita como inimigo interno comum, e ambos atribuem às mudanças climáticas um lugar de destaque em suas agendas.

Há, no entanto, um ator que ganhou peso no mundo desde os anos da crise, principalmente na América Latina: a China.

Para Guimarães, o Brasil tem muito a ganhar com o "aumento da influência chinesa na região".

"O histórico dos estudos sobre política americana para a América Latina mostra que os americanos só fazem política externa ativa na América Latina quando há uma potência externa competindo com os EUA", afirmou, mencionando o caso da então União Soviética, na década de 1960.

Os Estados Unidos "têm pouco a oferecer ao Brasil em contraposição ao que a China tem a oferecer em questões econômicas e financeiras, e a Casa Branca "percebe isso", disse o especialista, que espera que o governo Lula aproveite essa competição para estabelecer uma relação "pendular" com os dois gigantes, da qual possa se beneficiar.

Fórum de 33 países criado em 2010 a pedido do próprio Lula, a Celac se torna, assim, um espaço privilegiado para Brasília.

Celac, um marco-chave

“A Celac é relevante, porque é o espaço que China e União Europeia (UE) escolheram para negociar com a região diretrizes para agendas comuns de cooperação (...) nos âmbitos do fórum Celac-China e durante as cúpulas Celac-UE", observou Malacalza.

É justamente no vínculo com China e UE que o Brasil tem mais chances de mostrar liderança na prática, avaliou Bartesaghi.

"A América Latina está falida do ponto de vista institucional" e, além disso, "não consegue se inserir coletivamente no mundo", afirmou.

Se o Brasil vai "apostar na coesão", então, precisa "fazer concessões", entre elas, promovendo rapidamente a entrada acordo Mercosul-UE em vigor, exemplificou o especialista.

O acordo comercial entre Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai com a União Europeia foi negociado por mais de duas décadas e enfrenta vários obstáculos, como a relutância dos agricultores europeus, ou a devastação da Amazônia que irrita os europeus e que Lula prometeu corrigir.

"Em questões comerciais, não é um acordo tão importante para o Brasil assim. Mas é politicamente muito importante. É como se abrisse uma terceira opção política, em meio a rivalidade entre EUA e China", resumiu Feliciano Guimarães.

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