Xi Jinping: o Socialismo com características chinesas inaugura uma nova era (Aly Song/Reuters/Reuters)
Da Redação
Publicado em 25 de outubro de 2017 às 18h00.
Última atualização em 25 de outubro de 2017 às 19h58.
Pequim – É a caminhada mais esperada do mundo. Logo após a cerimônia de fechamento dos sete dias do 19o Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), evento político quinquenal que é considerado o mais importante do país, os novos líderes do partido surgiram nesta quarta-feira no tapete vermelho.
Como esperado, coube ao reeleito Xi Jinping puxar a fila como o escolhido para liderar a segundo maior economia do planeta até 2022. Na sequência, vieram os outros seis membros do Comitê Permanente do Politburo, cinco deles novatos.
Xi inaugura seu segundo mandato ao lado de dois políticos que têm em comum o sobrenome Li. À esquerda do secretário-geral do PCC, em uma fila horizontal milimetricamente organizada para apresentar ao mundo a nova geração de comandantes, permanece o primeiro-ministro Li Keqiang.
Ao lado direito, sobe Li Zhanshu, chefe do escritório geral do PCC e amizade antiga do presidente, que carrega a qualidade de não representar nenhum tipo de oposição.
Mais ao fundo, chamou atenção Wang Huning, personalidade que diverge dos demais membros do novo Comitê Permanente: Wang Yang, vice-premier, Zhao Leji, chefe do esquadrão anticorrupção, e Han Zheng líder do partido em Shanghai, o centro econômico do país.
O motivo da divergência é que Huning é um teórico acadêmico que jamais ocupou a posição de governante.
“Nunca na história do PCC um teórico fez parte do Comitê Permanente,” afirma Qiu Zeqi, diretor do Centro de Pesquisa Sociológica e Estudos de desenvolvimento da Universidade de Pequim.
A promoção de um pesquisador à elite administrativa da nação é uma informação que carrega muitas entrelinhas. Huning é um dos conselheiros mais próximos do presidente, e também o idealizador da nova versão do “Socialismo com características chinesas”, a doutrina ideológica de Xi.
Do começo ao fim do Congresso, o presidente não só anunciou e repetiu extensivamente esse conceito, mas também o inseriu na constituição do Partido com suas próprias mãos.
Desde que Mao Tsé-Tung – fundador do PCC e único líder socialista a ter exercido poderes absolutos na China – inseriu a teoria Maoista na carta magna, nenhum outro presidente ousou regulamentar a própria ideologia. Até que veio Xi.
O Socialismo com características chinesas inaugura uma nova era nas políticas interna e externa chinesas, que buscam se adequar à atual condição de desenvolvimento do país.
Se o Maoismo se inseriu no contexto de um país pobre com altos níveis de subnutrição, o Socialismo com características chinesas se adequa à nação do milagre, que nas últimas três décadas ostentou um crescimento médio de 10% ao ano, tornando-se o país que mais exporta no mundo, ao passo que resgatou 670 milhões de pessoas da situação de extrema pobreza, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI).
“As contradições sociais mudaram: antes, a necessidade de alimentar a população contrastava com a necessidade de aumentar a produção industrial, enquanto hoje a busca por bem-estar social e sofisticação se contrapõe às desigualdades econômicas e culturais,” diz Ouyang Jinggen, cientista político e professor da Universidade de Guangzhou.
Na esfera internacional, o Socialismo com características chinesas encontra um cenário de grandes competidores, como a União Europeia, os Estados Unidos e os BRICS, numa dispersão que contrasta com o período de Guerra Fria que atravessou o governo de Mao.
Na nova realidade, a China busca posicionar-se como potência global em moldes econômicos, políticos e ambientais.
“A nova realidade social vai moldar as ações internas e a diplomacia do país, e a doutrina de Xi vai estabelecer todas as diretrizes,” afirma Jinggen.
Em outras palavras, o Socialismo com características chinesas surge como manobra de resgate da legitimidade do Partido.
Na condição de detentor de todas as esferas governamentais do país, o organismo que tenta estabilizar a sociedade chinesa ao mesmo tempo em que o país desacelera o crescimento econômico, precisa atender ao clamor social por justiça e liberdade.
“O novo socialismo dará base às mudanças anunciados no 19o Congresso, que prometem promover maior equilíbrio, inclusão e acesso à informação,” explica Zeqi, da Universidade de Pequim.
Essas transformações serão executadas por uma nova geração de líderes, já alinhada ao novo pensamento de Xi Jinping, em um processo de transição geracional de poder.
Este ano, todos os membros do Politburo nascidos antes de 1950 precisaram se aposentar e foram substituídos.
Quanto ao Comitê Central, estância hierárquica posicionada logo abaixo do Politburo, dos 204 membros que o compõem, 78 foram eleitos ao cargo pela primeira vez.
No 19o Congresso do PCC, Xi Jinping fortaleceu seu poder político com a inserção da doutrina ideológica no legislativo.
Sob o comando dele, a nova geração de líderes chineses promete instalar uma revolução na forma como o mundo enxergará o socialismo, ou pelo menos o socialismo chinês.
A inédita promoção de um teórico à elite do poder nacional demonstra a importância que o Partido dá à ideologia como parte intrínseca das diretrizes governamentais.
Se até hoje a China conquistou espaço global graças à robustez econômica que garante a ela uma coleção de parceiros comerciais e destinos de investimento, já se pode esperar que num futuro próximo a solidez teórica favoreça o crescimento da influência política que o gigante asiático exerce sobre o mundo.
Os chineses sabem que têm uma oportunidade única com a Europa e os Estados Unidos às voltas com populistas de plantão.
E Xi acredita ter uma solução chinesa para os problemas globais de baixo crescimento e de instabilidade política e social. Ele agora tem até 2022 para colocá-la em prática.