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O Novo “Pacto de Varsóvia” que derrotou o governo na Polônia

Para Maurício Moura, sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital, o partido Lei e Justiça caiu diante da reprovação do povo, má gestão da economia e polêmicas sobre ações de apoio à Ucrânia

Líder da Coalização Cívica, Donald Tusk: oposição comemora resultado da eleição na Polônia realizada neste domingo (Janek Skarzynski/AFP)
Da Redação
Da Redação

Redação Exame

Publicado em 15 de outubro de 2023 às 18h11.

Última atualização em 15 de outubro de 2023 às 19h05.

*Por Maurício Moura

O Pacto de Varsóvia foi uma aliança militar assinada em Varsóvia, Polônia , entre a União Soviética e sete outras repúblicas socialistas do Bloco Oriental da Europa Central e Oriental em maio de 1955, durante a Guerra Fria. O Pacto foi estabelecido como um equilíbrio de poder ou contrapeso à OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

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Nesse domingo, 15, aproximadamente 20 milhões de poloneses foram as urnas, para eleger 460 de deputados e 100 cadeiras no Senado, sob um clima de divisão, polarização e tensão. Para formar governar, é preciso eleger (ou formar uma coalizão) com mais de 231 deputados.

Desde 1989, com a queda do Muro de Berlin, nenhum pleito eleitoral carregava tanta relevância para o país. A apuração aponta que um novo “pacto de Varsóvia” derrotou o atual grupo político detentor do poder (o partido Lei e Justiça, PIS na sigla em polonês). A potencial coalizão vencedora é uma espécie de “frente ampla” com partidos que vão da centro-direita a esquerda. E isso significa mudanças políticas estruturais para o futuro polonês.

Ao testemunhar presencialmente a reta final da campanha na Polônia pude compreender os fatores centrais da derrota do PIS.

Primeiro, o Lei e Justiça caiu diante de um padrão amplamente conhecido de tendências eleitorais. Governos mal avaliados raramente conseguem se manter no poder. O nível de aprovação do governo liderado pelo PIS, segundo apontavam diversas pesquisas de opinião, não passava de 35%. Ou seja, 2/3 dos poloneses reprovavam a administração atual. São raríssimos os casos, mesmo em países parlamentaristas como a Polônia, em que uma gestão com esse patamar de popularidade tem êxito eleitoral. Nenhum grupo político polonês conseguiu vencer três ciclos eleitorais consecutivos. Essa regra segue intacta.

Os motivos da avaliação negativa passavam essencialmente pela gestão da economia, das controversas decisões sobre direito de minorias e de polêmicas ações em relação ao apoio do país a Ucrânia na guerra contra a Rússia. A sensação geral é que o PIS acumulou embates políticos e ideológicos em diversos fronts enquanto a economia passava por inúmeras turbulências.

Do lado da oposição, capitaneada principalmente por Donald Tusk, líder da Coalizão Cívica, se ventilou fortemente durante a campanha que uma nova vitória dos atuais governantes poder levar a Polônia a deixar a União Europeia. Além disso, a oposição (incluindo a Nova Esquerda e a Terceira Via) na busca por votos de diversos espectros do eleitorado, acusaram o PIS de erodir o Estado de Direito no país.

Não custa lembrar que a democracia é recente no estado polonês (retornou em 1989 com o fim do regime comunista apoiado pela União Soviética ). Nos últimos anos, o parlamento aprovou um projeto de lei sobre a posse de veículos de comunicação que atingiria diretamente um canal crítico ao governo; e uma reforma do Judiciário deixou a Justiça mais sujeita a interferências dos poderes Executivo e Legislativo, que ganharam mais poderes sobre a nomeação e a demissão de magistrados. Essas medidas dividiram a opinião pública e ajudaram na consolidação de votos da oposição.

Por fim, um tema central da eleição foi o conflito na Ucrânia, que faz fronteira extensa com a Polônia. O governo do primeiro-ministro Mateusz Morawiecki (PIS) foi um dos primeiros a enviar apoio militar aos ucranianos resistirem a invasão russa.

Todavia, o apoio da opinião pública polonesa aos ucranianos tem se deteriorado. Por causa disso, no meio da campanha eleitoral, o PIS resolveu interromper a ajuda a Kiev. Essa oscilação dos eleitores em relação a Ucrânia também contribuiu para o encolhimento do partido de Morawiecki. O líder da Coalização Cívica, Donald Tusk, prometeu manter o apoio aos ucranianos.

Todavia, a provável coalizão que deve governar a Polônia vai herdar uma nação com profundos aspectos de divisão social, econômica e ideológica. A crise de imigração (a Polônia foi o país que mais recebeu ucranianos deslocados da guerra), as fragilidades da economia (com pressão inflacionaria e baixo crescimento), a polarização de valores e a divisão social de grupos pró e contra a União Europeia trarão muita complexidade para esse novo “pacto de Varsóvia”. O caminho a frente é tortuoso, para dizer o mínimo.

*Maurício Moura é sócio do fundo Zaftra, da Gauss Capital

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