Nova Orleans depois do Katrina em 2005: uma décadadepois, bairros de Nova Orleans adquiriram um inequívoco sabor latino, mas muitos imigrantes continuam ameaçados pela deportação (.)
Da Redação
Publicado em 10 de setembro de 2015 às 10h36.
Nova Orleans - Os latinos que chegaram aos Estados Unidos após o furacão Katrina para reconstruir Nova Orleans receberam o nome de "cazahuracanes" ("caça-furacões") e foram empregados com falsas promessas, explorados até o limite e deportados quando não faziam mais falta.
Uma década se passou e bairros de Mid-City em Nova Orleans adquiriram um inequívoco sabor latino, mas muitos imigrantes continuam ameaçados pela deportação, condenados a ser cidadãos de segunda classe.
Após o desastre do "Katrina", os recursos para iniciar a faraônica reconstrução da cidade começaram a ir para empresas terceirizadas que fizeram vista grossa e começaram a contratar imigrantes ilegais, ameaçando-os com a deportação caso exigissem condições melhores.
"Depois se deram conta de que havia uma forma mais barata e que, além disso, é legal", destacou em declarações à Agência Efe Daniel Castellanos, o peruano que fundou a Alianza de Trabajadores Huéspedes (NGA), em 2007.
A forma mais barata é o visto de trabalho temporário. Os trabalhadores são recrutados em seus países de origem, tem que pagar todos os trâmites e a viagem (muitos deles acumulando dívidas) e, quando chegam, muitas vezes as condições não são as prometidas.
A história de Castellanos é a mesma de milhares de latinos que chegaram à Louisiana após o furacão e que seguem sendo explorados.
A ele foi prometido um visto H-2B para trabalhar na construção por US$ 15 (perto de R$ 60) a hora após pagar US$ 5 mil (quase R$ 20 mil) no processo. Quando chegou, o trabalho era em um hotel e a remuneração era de apenas US$ 5 (R$ 20). Além disso, a estadia e a comida também eram cobradas.
"Dormíamos em espreguiçadeiras com ratos e baratas e depois soubemos que a comida que a gente pagava era doação do governo federal. Agora, além da construção e da indústria pesqueira, também há os estaleiros. Têm imigrantes soldando e respirando gases tóxicos. Quando acontece algo ruim, o empresário se faz de desentendido", criticou Castellanos.
Os Estados Unidos reservam anualmente mais de 120 mil vistos H2 para trabalhadores estrangeiros temporários. A maioria é usada nos campos de cultivo, na construção ou no setor de hotelaria em todo o país.
"É um trabalhador refém. É tratado como uma coisa e não como um ser humano", lamentou Castellano, que contou que seu grupo se organizou em tornou de uma causa comum com os afro-americanos e outros grupos esquecidos do sul dos EUA.
A advogada do Southern Poverty Law Center (SPLC), Meredith Stewart, afirmou que essas pessoas são forçadas a continuar trabalhando com um empregador, apesar de haver abuso, porque não querem voltar com dívidas.
"O avanço é lento e ainda falta muito", disse Meredith, que ressaltou que após anos de pressão e trabalho conseguiram com que o Departamento de Trabalho criasse novas regulações para que sejam pagos salários dignos e o trabalhador não seja obrigado a bancar a promessa de um sonho que não é cumprido.
No mês passado, o presidente do maior sindicato do país, AFL-CIO, Richard Trumka, afirmou que a falta de uma reforma migratória, que mantém como clandestinos mais de 11 milhões de imigrantes, é utilizada por empresas para satisfazer "sua dependência de mão-de-obra barata".
No início deste ano, o SPLC, que ajudou na representação legal dos litigantes, obteve uma grande vitória na defesa de trabalhadores indianos que também foram atraídos com falsos empregos temporários.
A sentença histórica acusava empresários de crimes que costumam recair nas máfias que trazem imigrantes ilegais aos Estados Unidos: tráfico de pessoas, trabalho forçado e desvio de dinheiro.