A Liga Árabe também criticou a violência na Síria (Adem Altan/AFP)
Da Redação
Publicado em 12 de agosto de 2011 às 20h06.
Damasco - Dezesseis pessoas morreram nesta sexta-feira durante manifestações organizadas em várias cidades da Síria, onde a mobilização permanece forte no momento em que os apelos pelo fim da violência das tropas leais ao presidente Bashar al-Assad se intensificam.
A secretária de Estado americana Hillary Clinton exortou nesta sexta-feira os parceiros comerciais da Síria a suspender seus intercâmbios comerciais com Damasco.
"Pedimos aos países que continuam a comprar gás e petróleo sírios, aos países que continuam a enviar armas a Assad (...) que fiquem no lado certo da História", disse Hillary. Na quinta-feira, ela havia feito esse apelo a China, Índia e Rússia.
Como em toda sexta-feira depois do início do movimento de contestação no dia 15 de março, os manifestantes se reuniram bradando "Nós nos submeteremos apenas a Deus", lema criado esta semana por militantes no Facebook.
No início da tarde, cerca de 8.000 pessoas protestavam em Lattaquié (norte) e em Hama e Homs (centro), segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), com sede no Reino Unido.
Na região de Homs, um homem foi morto por um atirador escondido próximo a uma mesquita, indicou o OSDH. Em outro ataque, um microônibus foi atingido por tiros em Qousseir.
"Milicianos pró-regime abriram fogo contra o ônibus, ferindo seus passageiros" que fugiam para o Líbano, indicou um militante no local.
Em Qusseir, as forças de segurança prenderam na tarde desta sexta-feira o escritor e poeta Abdel Rahmane Ammar, de 68 anos, no lugar de seu filho, um militante procurado pelas autoridades.
Perto de Damasco, um militante relatou a morte de cinco civis em Duma, abatidos pelas forças de segurança que dispararam com balas reais para dispersar os manifestantes.
Em Deir Ezzor (leste), onde dezenas de pessoas morreram no final de semana passado, um civil foi morto, de acordo com um militante na área.
No norte, em Alep, segunda maior cidade do país, quatro civis foram mortos e um ficou gravemente ferido ao ser baleado pelas forças de segurança que tentavam dispersar uma passeata, segundo o OSDH.
No centro do país, dois homens foram mortos em Hama, de acordo com um militante. Três outros ficaram feridos por tiros disparados pelas forças de segurança que dispersavam manifestantes reunidos na saída das orações.
O Exército havia anunciado na quarta-feira a sua retirada de Hama, depois de dez dias de uma ofensiva que deixou mais cem mortos, segundo os militantes.
Antes das manifestações, dois civis já tinham sido mortos durante a manhã pelas forças de segurança, em Saqba (subúrbio de Damasco) e na cidade de Khan Sheikhoun (província de Idleb, noroeste), invadida no início da manhã por dezenas de tanques, blindados e ônibus transportando agentes de segurança, indicou o OSDH.
Ainda na província de Idleb, em Bench, uma mulher baleada na terça-feira pelas forças de segurança não resistiu aos ferimentos.
A mobilização contra o governo e as condenações cada vez mais severas da comunidade internacional não reduziram a brutalidade do regime.
Para amordaçar ainda mais os movimentos por reformas, as autoridades prenderam na quinta-feira o presidente da Liga Síria dos Direitos Humanos, Abdel Karim Rihaui.
Militante muito ativo, ele é graças à rede de militantes da Liga no país, uma fonte importante de informações para a imprensa estrangeira, que tem seu trabalho no país restringido pelas autoridades.
Paris e Roma exigiram a sua libertação imediata. "A França condena (esta) prisão (...). A repressão violenta e as prisões políticas devem parar na Síria", declarou a porta-voz adjunta do Ministério das Relações Exteriores, Christine Fages.
A Itália também pediu nesta sexta-feira que o Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas faça "sua voz ser ouvida com força pelas autoridades de Damasco pela libertação de Abdel Karim Rihaui juntando-se aos apelos já feitos por outros líderes ocidentais".
O presidente americano Barack Obama e o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan evocaram na quinta-feira à noite a necessidade "de uma transição democrática" na Síria. O Canadá denunciou as "ações brutais" e "inadmissíveis" do governo sírio.
O presidente turco Abdullah Gul pediu a Assad que realize reformas democráticas rapidamente, segundo a agência turca Anatólia nesta sexta-feira: "Não quero que um dia, ao olhar para trás, vocês lamentem ter agido tarde demais e muito pouco", escreveu a seu colega sírio.
Pelo menos 1.800 civis foram mortos desde março, segundo um novo registro de ONGs.