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Por que Trump não deve ir longe na disputa pela Casa Branca

Com uma vitória expressiva jamais vista entre candidatos republicanos nas prévias, Trump está forte. Mas será que isso será suficiente para levá-lo adiante?


	Donald Trump: o empresário arrasou os seus rivais durante as prévias da Super Terça
 (Getty Images)

Donald Trump: o empresário arrasou os seus rivais durante as prévias da Super Terça (Getty Images)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 3 de março de 2016 às 14h31.

São Paulo – Não há mais dúvidas: o empresário Donald Trump arrasou os seus rivais durante as prévias da chamada Super Terça. Dentre os 11 estados nos quais os republicanos realizaram eleições primárias ou caucus nesta semana, Trump se consagrou vitorioso em sete deles.

De acordo com o jornal americano The Washington Post, é a primeira vez que um pré-candidato republicano coleciona vitórias tão significativas.

Dono de um portfólio invejável de declarações polêmicas e incendiárias, o famoso empresário está se consolidando como provável candidato. Mas será que a força que ele vem expressando é suficiente para mantê-lo na liderança? Ao que tudo indica, Trump não é consenso nem mesmo entre seus pares dentro do Partido Republicano.

“Ele (Trump) tem vencido com ampla vantagem, mas há uma oposição ferrenha dentro do partido de gente que não o vê como um candidato que possa ser aceito pela tradição republicana”, explica José Pio, membro do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (CEBRI). Na sua visão, na ocasião de Ted Cruz e Marco Rubio abandonarem a corrida presidencial, nenhum deles manifestará apoio à candidatura do empresário.

Outro exemplo que mostra que a aparente força de Trump traz mais preocupações que alegrias para o seu partido é o posicionamento dos dois líderes republicanos no Congresso americano, Paul Ryan e Mitch McConnel.

Enquanto o empresário celebrava vitórias na Super Terça, a influente dupla concedia uma coletiva de imprensa na qual se manifestaram contra a sua ascensão e criticaram sua postura leniente em relação ao apoio que recebeu de David Duke, ex-líder do grupo supremacista branco Ku Klux Klan (KKK). Trump se recusou a rejeitar categoricamente esse apoio de Duke e apenas negou saber quem ele é ou que já fez.

“Esse é o momento em que deveríamos debater as políticas necessárias para restaurar o ideal americano”, disse Ryan, “mas nos últimos dias, falamos sobre grupos que defendem a supremacia branca”. “Se alguém quer ser nomeado candidato, não pode haver evasão ou jogos, deve-se rejeitar grupos ou causas que são baseados na intolerância”, continuou o líder republicano. “Esse é o partido de Lincoln (Abraham) ”, pontuou com firmeza.

Com apoio do partido ou não, especialistas apostam que Trump permanecerá o favorito entre os eleitores republicanos, cujos votos estão motivados pelo sentimento anti-establishment e ranço contra a política tradicional que domina Washington. Falta a ele, contudo, um apoio importantíssimo e que impacta na viabilidade da sua campanha: o financeiro.

Para Yann Duzert, Professor de Negociação e Resolução de Conflitos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ter a preferência popular com base em palavras espetaculosas, patriotismo belicoso e agressividade é uma coisa. Outra é ser visto como um candidato sério entre as grandes empresas. Na alta cúpula empresarial, Trump é considerado um marqueteiro sem qualquer credibilidade. “E o partido também tem observado isso”, nota.

A saída republicana

O desgaste que a campanha de Trump está trazendo ao partido começa a ficar óbvio. Na última quarta-feira, enquanto os votos da Super Terça ainda eram contabilizados, o clima entre os republicanos era de tumulto, conforme informaram Matea Gold e Philip Rucker, correspondentes políticos veteranos do The Washington Post. Há uma ala que quer parar Trump a todo custo e outra que acha que é tarde demais.

“É a primeira vez em 50 anos ou mais que o partido chegará rachado na sua convenção”, avalia Pio.

O que acontece agora ninguém sabe, mas uma das apostas é a de uma convenção aberta, na qual qualquer candidato pode se apresentar e disputar a nomeação oficial com Trump. Perdedores das prévias, inclusive. E isso é possível, uma vez que as regras eleitorais americanas permitem que os delegados mudem os votos obtidos nas prévias.

Neste caso, as saídas poderiam ser a condução de uma manobra institucional, com o foco na campanha de Cruz, ou um plano B com um candidato independente. Entre os nomes viáveis estariam Mitt Romney, que disputou a presidência com Obama em 2012, e Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York e empresário bilionário que está fora do establishment.

Mas e se o Trump for o candidato oficial?

Se isso se consolidar, a sua derrota na disputa contra Hillary é dada como certa. “Ela leva os sindicatos, as minorias, as mulheres e os votos centristas de conservadores moderados que não vão votar em Trump”, prevê Márcio Coimbra, coordenador do MBA de Relações Institucionais do Ibmec e diretor do Comitê de Política Acadêmica do Institute of World Politics (EUA). Trump também não contará com o apoio de seus pares pré-candidatos e de muitos governadores que já se manifestaram contra a sua candidatura. 

Uma derrota em 2016 será mais do que apenas um detalhe corriqueiro na trajetória do partido. Supondo a vitória de Hillary hoje e sua reeleição em 2020, os republicanos terão passado ao menos trinta anos sem conseguir emplacar um presidente. Quer dizer, com exceção do período entre 2001 e 2009, quando o cargo foi ocupado por George W. Bush. 

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