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Ataques sangrentos de Paris revelam 'próxima fase' do EI

Especialistas dizem que Estado Islâmico pretende, agora, deslocar ataques na Síria e Iraque para o Ocidente


	Equipes trabalham para retirar pessoas perto de casa de shows em Paris, após ataques: especialistas consideram ataques uma nova fase do Estado Islâmico
 (Christian Hartmann/Reuters)

Equipes trabalham para retirar pessoas perto de casa de shows em Paris, após ataques: especialistas consideram ataques uma nova fase do Estado Islâmico (Christian Hartmann/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 14 de novembro de 2015 às 17h41.

São Paulo - A destreza com que o Estado Islâmico executou os ataques sangrentos em Paris revela a sofisticação crescente e o alcance de sua rede jihadista mundial, indicam analistas neste sábado.

Pelo menos 129 pessoas morreram na sexta-feia na capital em tiroteios e ataques com homens-bomba, que o presidente francês, François Hollande, qualificou de "atos de guerra".

Ao reivindicar os atentados, o Estado Islâmico se vangloria de que "oito irmãos com cintos explosivos e fuzis de assalto" lançaram o "bendito ataque... à França Cruzada".

Os ataques, simultâneos e coordenados, ocorreram um dia depois de 40 pessoas morrerem em dois atentados suicidas a bomba em um subúrbio ao sul de Beirute, que também foram reivindicados pelo EI.

A rede jihadista tem ameaçado insistentemente os países europeus, inclusive a França, com atos violentos.

Em um vídeo difundido em julho, um combatente diz, em francês, que o EI "matará vocês nas ruas de Paris".

Mas os ataques na capital francesa são o primeiro caso de grande magnitude na Europa.

Especialistas afirmam que os ataques demonstram a evolução do EI em sua passagem de operações localizadas no Iraque e na Síria para o Ocidente.

"A passagem para a França representa, aparentemente, a próxima fase do EI", afirmou Clint Watts, do Foreign Policy Research Institute.

"Agora, veremos que se distanciarão pouco a pouco das operações convencionais e insurgentes no Iraque e na Síria para uma realização de ataques terroristas por parte de sua ampla rede", acrescentou.

'Ataque sem precedentes'

Desde o ataque, em janeiro, contra o semanário satírico Charlie Hebdo, agentes da polícia e e interesses judaicos, a polícia francesa deteve vários indivíduos com supostos vínculos com o EI.

A série de eventos, segundo o analista do jihadismo Aymenn al Tamimi, indica que "é questionável considerar (os ataques de Paris) como uma mudança na estratégia" do EI. Mas, sim, demonstram uma mudança no percentual de êxito, acrescentou Tamimi.

"É, sem dúvida, um ataque sem precedentes para eles em termos de resultados na Europa. Mostra que têm redes sofisticadas na Europa, não só compostas por fanáticos lobos solitários", acrescentou.

Na medida em que a França centraliza seu combate contra o fanatismo, enquanto ao mesmo tempo há um número importante de cidadãos franceses ingressando nas fileiras dos combatentes do EI, Paris se tornou um alvo lógico, acrescentou Tamimi.

Os ataques simultâneos consistiram em tiroteios, ataques suicidas com cintos carregados de explosivos e tomadas de reféns no Stade de France, ao norte de Paris, e em restaurantes, cafés e na casa de shows Bataclan, situados em bairros do leste de Paris.

Charlie Winter, acadêmico especializado no EI, diz que "é a trajetória lógica na estratégia do EI".

O grupo EI "está passando da expansão e consolidação no Iraque, na Síria e na Líbia para a certeza de que este é o momento indicado para realizar ataques em países estrangeiros como o Líbano, o Golfo e a França".

Para Watts, a demora da França em "reconhecer seus problemas com o extremismo" abriu uma via para o EI construir uma rede jihadista.

"A França tem um sério problema. Per capita, tem o maior número de combatentes estrangeiros que vão e vêm da Síria", assim como uma série "de vias fáceis para (a ação d) os terroristas" que não tem paralelo na Europa.

Investindo contra o Ocidente

"Grande parte do que estamos vendo agora surge do excesso de combatentes estrangeiros que se deslocam para o interior da União Europeia", acrescentou.

E na medida em que os esforços do governo tornarem mais difícil a ida de radicais franceses para o Iraque a Síria, agora eles "podem agir em casa", afirmou.

Na sexta-feira, a polícia e uma fonte próxima às investigações indicaram que um francês seria um dos quatro atacantes que invadiram o show no Bataclan.

Em sua reivindicação, o EI acusa a França de "atingir muçulmanos no califado com seus aviões" e ameaça lançar mais ataques "se [Paris] prosseguir sua campanha cruzada".

A França faz parte de uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, que faz uma guerra aérea contra o EI tanto na Síria quanto no Iraque. Lançou ataques aéreos no Iraque por mais de um ano, estendendo-os para a Síria em setembro.

Na sexta-feira, as forças curdas iraquianas, apoiadas por ações aéreas da coalizão liderada pelos Estados Unidos expulsaram o EI da estratégica cidade iraquiana de Sinjar, que está em uma importante rota de abastecimento.

No mesmo dia e na mesma rota, uma coalizão de árabes e combatentes curdos tiraram o EI da cidade de Al Hol, situada no nordeste da Síria.

E as forças do governo sírio acabaram na quarta-feira com o assédio de um ano do EI ao redor de uma base aérea no norte do país.

Na medida em que a rede jihadista enfrenta derrotas em zonas de seu "califado", ela aumentará suas ações em outros locais no exterior.

"Se o EI não obtém êxitos em sua zona de operações, aumentará sua violência na região e no Ocidente", disse Watts.

"Paris parece o local onde podem fazê-lo", concluiu.

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