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Noites de nostalgia russa em Cuba são ameaçadas por Obama

Flexibilização de relações diplomáticas estão frustrando russos, que não querem ver o país caribenho, governado por um Castro, fazendo as pazes com os EUA


	Bandeiras de Cuba (E) e Estados Unidos: influência russa sobre Cuba data da era da União Soviética
 (Enrique De La Osa/Reuters)

Bandeiras de Cuba (E) e Estados Unidos: influência russa sobre Cuba data da era da União Soviética (Enrique De La Osa/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 24 de dezembro de 2014 às 13h16.

Caracas/Moscou - O guitarrista Rey Fernández está marcando o tempo com os pés no esfumaçado bar ToBARish em Havana, um trocadilho com a palavra russa para camarada.

Seu quarteto de jazz está tocando a canção-tema do desenho animado soviético Os Músicos de Bremen, de 1969, arrancando sorrisos dos cubanos e palmas de turistas ingleses e holandeses.

“Essa é a canção que todo cubano cresceu escutando”, disse Fernández. “Esses laços culturais sempre nos unirão com a Rússia”.

Poucos meses depois de o presidente Vladimir Putin cancelar US$ 32 bilhões em dívidas cubanas, os laços da Rússia com a ilha caribenha estão sob crescente pressão devido ao colapso do rublo e em um momento em que o presidente dos EUA, Barack Obama, restabelece os laços diplomáticos e flexibiliza um embargo de cinco décadas.

Com seu poder econômico e militar na região parecendo mais uma lembrança distante, números musicais russos como o de Fernández podem se transformar em algo incomum em um país que encara a perspectiva de uma invasão de turistas e dólares americanos.

“É frustrante para a Rússia ver uma Cuba governada por Castro fazendo as pazes com os EUA”, disse Masha Lipman, pesquisadora-visitante do Conselho Europeu de Relações Exteriores, por telefone, de Moscou. “Passaram-se mais de duas décadas desde a época em que União Soviética e Cuba eram ideologicamente próximas”.

Embora o ToBARish seja um símbolo da antiga influência da Rússia na ilha caribenha, é também um indicador de sua minguante importância. As únicas pessoas que faltavam na noite de nostalgia eram os próprios russos, pois muitos deles já não são capazes de pagar férias tão longe de casa devido ao colapso do rublo.

Há um cenário similar no Central Park Hotel, no centro histórico de Havana, que tradicionalmente recebe grupos turísticos russos. Não havia um único casal russo em seu bar colonial no saguão em uma noite de domingo durante a alta temporada, em dezembro.

Aliado político

A influência russa sobre Cuba e sua economia de US$ 77 bilhões data da era da União Soviética, que costumava comprar toda a produção de açúcar de Cuba e fornecia petróleo subsidiado. O produto interno bruto da Rússia é, atualmente, de cerca de US$ 2,1 trilhões.

Confrontada pelo poder do dólar e pela queda de 39 por cento do rublo em relação à moeda americana nos últimos seis meses, a influência russa está ameaçada.

A decisão de Obama “é uma notícia ruim para Putin do ponto de vista geopolítico”, disse Lipman. “É uma demonstração para o mundo de que os EUA podem projetar seu poder brando enquanto a Rússia perdeu os últimos vestígios de qualquer poder brando que já teve um dia”.

A Rússia tentou ressuscitar os laços cubanos durante o governo do presidente Vladimir Putin. Cerca de 55.000 turistas russos visitam a ilha todos os anos em um voo direto da OAO Aeroflot, um dos únicos três voos desse tipo entre Moscou e a América Latina, segundo o Instituto Nacional de Estatísticas.

Putin visitou a ilha em julho, sinalizando acordos em projetos de geração de energia e discursando ao lado de Raúl Castro no Palácio da Revolução, em Havana, após reunir-se por uma hora com Fidel Castro, fundador da revolução cubana. Ele disse que a Rússia planejava instalar em Cuba uma estação terrestre para seu sistema de navegação por satélite GLONASS, um concorrente do sistema GPS, criado pelos EUA.

Cinquenta e três anos atrás, o embargo americano sobre Cuba forçou Fidel Castro a recorrer à ajuda da União Soviética. Como parceiro na Guerra Fria, Cuba enviou milhares de soldados para lutar em nome dos soviéticos na guerra civil angolana e levou o mundo à beira de uma guerra nuclear quando se ofereceu para acolher foguetes soviéticos em 1962.

Em troca, os russos investiram em Cuba e levaram milhares de cidadãos cubanos para trabalhar e estudar na Rússia. Esse nível de cooperação acabou há tempos.

Muitos cubanos dizem querer que o turismo e os investimentos dos EUA melhorem os padrões de vida sem antagonizar com os russos ou destruir o estado de bem-estar social que o dinheiro e especialistas soviéticos ajudaram a construir.

“Nós nunca esqueceremos o que os russos fizeram por nós, eles sempre serão bem-vindos por aqui”, disse Zoe Hernández, de 42 anos, operadora da rede de telefonia em Havana. “Nossas esperanças estão com os EUA, mas os russos sempre terão nossa gratidão”.

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