O Cardeal Leopoldo Brenes celebra missa para novos diáconos na Catedral Metropolitana de Manágua, Nicarágua (AFP)
Agência de notícias
Publicado em 8 de agosto de 2024 às 19h20.
O governo da Nicarágua anunciou, nesta quinta-feira, 8, que enviou ao Vaticano sete sacerdotes que, segundo a oposição, haviam sido detidos na semana passada, em meio a uma nova onda de prisões de religiosos da Igreja Católica.
"Ontem, quarta-feira, 7 de agosto, partiram da Nicarágua para Roma sete sacerdotes nicaraguenses, que chegaram bem e foram recebidos pela Santa Sé", disse a esposa do presidente Daniel Ortega e vice-presidente, Rosario Murillo, ao ler um comunicado.
Os sacerdotes enviados ao Vaticano são Edgar Sacasa, Ulises Vega, Marlon Velázquez, Víctor Godoy, Harvin Torres, Jairo Pravia e Silvio Romero, segundo relatórios do portal digital *El Confidencial*, crítico do governo de Ortega e editado na Costa Rica.
Os sete faziam parte de um grupo de 13 religiosos que foram detidos ou colocados em prisão domiciliar pela polícia nicaraguense há uma semana em Matagalpa, no norte do país, de acordo com o Coletivo Nicaragua Nunca Más.
Não houve nenhum relatório sobre os outros padres detidos, nem por parte do governo nem da oposição.
Ortega e Murillo sustentam que a Igreja apoiou os protestos de 2018 contra o governo, os quais deixaram mais de 300 mortos, segundo a ONU, e considerados por Manágua uma tentativa de golpe de Estado patrocinada por Washington.
Murillo chamou os religiosos de "filhos do demônio" ou "agentes do mal" que fazem "terrorismo espiritual".
"Várias paróquias foram cercadas e pelo menos 12 sacerdotes foram detidos arbitrariamente, alguns deles com paradeiro desconhecido e em situação de desaparecimento forçado", disse o coletivo após as detenções.
O governo de Ortega, no entanto, não se referiu às prisões e nem classificou o envio dos sete sacerdotes ao Vaticano como expulsão.
O jornalista nicaraguense Emiliano Chamorro, exilado nos Estados Unidos, indicou na rede social X que "a Igreja Católica está sendo crucificada pelo casal ditador", em referência a Ortega e Murillo.
Ele questionou o silêncio dos bispos e cardeais que ainda estão na Nicarágua diante das novas expulsões.
"Enquanto a ditadura de Daniel Ortega desterrava 7 dos 13 sacerdotes sequestrados, os bispos da Conferência Episcopal estavam reunidos em Manágua, mas como de costume, não houve uma carta pastoral ou comunicado sobre a situação do país", acrescentou Chamorro em sua publicação.
Há uma semana, um grupo de especialistas das Nações Unidas denunciou que o governo da Nicarágua mantém ataques "sistemáticos" contra a Igreja Católica e outras confissões cristãs desde os protestos de 2018.
De abril de 2018 até março de 2024, o grupo constatou "73 casos de prisões arbitrárias de membros da Igreja Católica e de outras confissões cristãs", embora tenha afirmado que "o número total pode ser ainda maior".
O governo de Ortega libertou em janeiro dois bispos católicos, incluindo Rolando Álvarez, e outros religiosos, e os enviou para Roma.