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Negociação: 'a única saída' para o conflito no Afeganistão

Os Estados Unidos esperam que os violentos golpes praticados contra os talibãs os levem à mesa de negociação

Afegãos protestam entoando lemas anti-EUA enquanto carregam um boneco representando o presidente americano Barack Obama (Noorullah Shirzada/AFP)

Afegãos protestam entoando lemas anti-EUA enquanto carregam um boneco representando o presidente americano Barack Obama (Noorullah Shirzada/AFP)

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Da Redação

Publicado em 13 de março de 2012 às 12h28.

Washington - Os talibãs pedem vingança, enquanto os Estados Unidos mantém seus planos, mas a única saída viável para o conflito no Afeganistão é a negociação, consideram os especialistas após o assassinato de 16 civis afegãos por um militar americano.

Soldados da Otan mortos por militares afegãos, manifestações violentas contra a queima de exemplares do Alcorão, imagens de marines urinando sobre cadáveres e, agora, o sangrento ataque de um sargento americano no meio da noite: os "incidentes isolados", segundo a terminologia utilizada pelos Estados Unidos, estão se acumulando.

No domingo, um soldado americano causou consternação geral ao assassinar a sangue frio 16 afegãos enquanto dormiam, antes de queimar seus corpos.

"A maior parte das vítimas são crianças inocentes, mulheres e idosos", não param de denunciar os talibãs, que juram vingar "cada uma das mortes" causadas pelos "selvagens doentes mentais americanos".

Em Washington, a Casa Branca e o Pentágono garantem que o ato, "profundamente infeliz", não põe em questão a estratégia definida pela Otan.

"Não podemos tomar um, dois ou três incidentes isolados e tirar a conclusão de uma tendência sobre os progressos realizados no Afeganistão e se há ou não uma mudança em nossos objetivos", argumenta o porta-voz do Pentágono, George Little.

A estratégia da Otan prevê treinar o exército e a polícia afegã a fim de que assumam a segurança de seus territórios até o fim de 2014, permitindo, por sua vez, a retirada de 130 mil soldados da coalizão. A partir de então, os Estados Unidos esperam que os violentos golpes praticados contra os talibãs os levem à mesa de negociação.

No entanto, diante do crescente ressentimento da população afegã, a estratégia internacional corre o risco de se chocar contra um muro, teme Moheed Yusuf, especialista da região do Instituto dos Estados Unidos para a Paz (USIP).


"Se isso continuar, não vejo como podemos nos concentrar nesta estratégia, que depende, em boa medida, da vontade do afegão comum", explica à AFP.

A estratégia atual é, segundo ele, dominada militarmente à custa da política e "esse é o problema", pois "é um beco sem saída."

Os Estados Unidos estão comprometidos com difíceis negociações com o governo afegão para concluir uma cooperação estratégica que estabelecerá as condições do apoio americano no Afeganistão para o período após 2014.

Para o especialista do USIP, a reconciliação entre afegãos e as negociações com os americanos, como as que parecem começar no Qatar, onde os talibãs abriram um escritório de representação, "constituem desde já a única opção disponível, porque a estratégia militar é inútil sem o componente político".

Apesar dos gritos de vingança, os talibãs ainda têm interesse: essas negociações deveriam, de acordo com ele, "conceder a legitimidade política com a finalidade de que ninguém possa dizer a eles que não deram a oportunidade" de uma saída negociada do conflito.

O especialista no conflito afegão do Conselho de Relações Exteriores (CFR), Stephen Biddle, não acredita que o massacre dos 16 civis vá mudar a estratégia dos Estados Unidos.

Segundo Biddle, ela se baseia em dois pilares: "a reconciliação" e "a transição" da política de segurança das forças afegãs.

"O mecanismo da transição já não é mais viável", porque a coalizão não conseguirá vencer os talibãs até 2014. "No melhor dos casos, as forças afegãs serão capazes manter o que ganhamos" até agora, afirma à AFP.

A reconciliação é a ideia que norteia a estratégia. Os talibãs têm uma tendência a negociar, porque os golpes e incursões das forças americanas os abalaram e há o risco de não viverem tempo suficiente para ver seu país livre de forças estrangeiras.

A saída existe, diz Stephen Biddle, mas ainda precisa haver "uma verdadeira negociação, em que cada parte faça suas concessões".

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