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Na Colômbia até os cachorros trabalham para ganhar a vida

Lei do país confere privilégios como salário e aposentadoria aos animais


	Cachorro farejador: na Colômbia, classe é reconhecida
 (Kelley Balcomb-Bartok)

Cachorro farejador: na Colômbia, classe é reconhecida (Kelley Balcomb-Bartok)

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Da Redação

Publicado em 8 de dezembro de 2013 às 08h27.

Bogotá, 8 dez (EFE).- Ter um 'dia de cão' deixou de ser algo negativo na Colômbia, onde a lei confere aos caninos vários privilégios como horários reduzidos, aposentadorias antecipadas e salários.

'Estes animaizinhos trabalham melhor que qualquer um', disse à Agência Efe um vigilante de banco no norte de Bogotá, que acompanha Luna, uma cadela de seis anos.

Como ela, milhares de cães prestam serviços em todo o país. Estima-se que cerca de 3.500 estejam apenas na capital como parte da luta contra o terrorismo e as drogas que o Estado colombiano e as empresas de segurança iniciaram há mais de duas décadas.

'Depois de tantos fatos terem ocorrido, um bom cachorro passa segurança aos nossos visitantes. As pessoas confiam que não vão entrar pessoas com elementos estranhos ou contaminados', explicou Javier Martínez, responsável pela segurança em um prédio, que em 2010 sofreu um atentado com carro-bomba.

O poderoso olfato destes animais, aliado a sua alta capacidade de adaptação e aprendizagem, atraiu várias empresas, bancos e comércios alimentado uma tendência. De acordo com números do Ministério da Defesa do país, mais de 40 empresas do setor de segurança utilizam esse serviço.

As raças preferidas, segundo a polícia, são labrador e golden retriever, para a detecção de explosivos e narcóticos, e rottweiler, pastor alemão, boxer e fila, para a defesa, a vigilância e o ataque.

Os caninos chegaram a altas instâncias de organismos de proteção do Estado. Eles estão no exército, na Bolsa de Valores da Colômbia, em hospitais e auxiliam equipes de resgate.

O reconhecimento destes cachorros treinados na Colômbia 'chegou tão longe' que, segundo registros do Corpo de Bombeiros de Bogotá, alguns deles já colaboraram com as equipes de resgate nos atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos (2001) e no terremoto do Haiti (2010).

Enquanto a taxa de desemprego dos humanos é de 7,8% na Colômbia, a dos cachorros é nula. Tamanha é a capacidade para trabalhar e a atenção dedicada aos bichos que, em 1994, o governo criou a Superintendência de Vigilância e Segurança Privada (SuperVigilancia), entidade encarregada do controle às instituições que oferecem o serviço dos caninos.

Desde o início de seu funcionamento, o órgão controla o tempo total de trabalho dos animais, que segundo vários decretos não devem superar seis horas de trabalho com revezamentos constantes a cada 120 minutos.

Além disso, foi estipulado 'expressamente' que o pagamento dos animais seja realizado com 'brinquedos, ossos, ou artigos comestíveis' de seu agrado.

Também foi regulamentado que a 'idade para aposentadoria' destes animais não supere os sete anos de idade para a inveja dos colombianos. No país, a idade mínima para solicitar a aposentadoria é de 60 anos para os homens e 55, para as mulheres, o equivalente a 15 a mais do que a dos cachorros.

Para exercer esta atividade os animais devem passar por várias provas de adestramento, possuir um chip de identificação e ter um lugar adequado para o intervalo.

Em média, contratar o serviço de um estes animais pode custar entre 600 mil e 800 mil pesos (cerca de R$ 700 e R$ 940), como constatou a Efe em um levantamento feito com várias empresas de segurança da capital.

No entanto, nem todos apoiam que os cachorros sejam trabalhadores. Organizações de defesa dos animais se opuseram durante anos a participação dos cachorros nestes trabalhos e, inclusive, consideraram a atividade 'um negócio fictício', apesar da regulação governamental.

'Algumas vezes os cachorros não foram treinados. Em outras situações, devido aos turnos de trabalho, que podem durar todo o dia, eles já não farejam por cansaço e são obrigados a continuar. Às vezes até recebem tapas', denunciou à Agência Efe Norman Garavito, inspetor da Fundação Amigos do Planeta (FAP).

Garavito assegurou que encontrou 'evidências', durante trabalhos de revisão da FAP com outras organizações similares. Segundo ele, as empresas de vigilância fazem isto 'por negócio'.

O inspetor disse que o pagamento mensal para o binômio vigilante-cachorro deveria ser de oito salários mínimos (cerca de US$ 2.500 ou R$ 5.889) e isto não acontece.

Perante estas denúncias, a SuperVigilancia confirmou à Efe que 'estão realizando as revisões pertinentes'. No caso de encontrarem irregularidades 'poderão ser aplicados regimes punitivos'.

Apesar disso, a febre dos cachorros guardiões na Colômbia tende a aumentar, pois, como resumiu o responsável pela segurança Javier Martínez, 'essa é a melhor maneira para tirar das pessoas essa percepção de insegurança com uma cara amigável'. EFE

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