Desastres naturais: além de sua posição central no seio da família são muitas as mulheres que trabalham em profissões relacionadas à saúde (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de março de 2015 às 22h25.
Na linha de frente tanto no lar quanto nos hospitais, as mulheres são as primeiras vítimas de catástrofes naturais e epidemias, mas também atuam como peça-chave na prevenção.
"Elas são as pessoas mais expostas aos desastres", afirmou a diretora do Programa de Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), Helen Clark, em entrevista recente à AFP.
No mundo, as mulheres e as crianças estão 14 vezes mais sujeitas a morrer numa catástrofe natural do que os homens. E quando sobrevivem e são deslocadas, 20% acabam sendo vítimas de algum tipo de violência sexual - segundo estimativas da ONU apresentadas na Terceira Conferência Mundial das Nações Unidas para a Redução do Risco de Desastres.
"Existe toda uma série de razões [que explicam esta taxa superior de mortalidade]. Elas podem estar presas em casa, cuidando dos membros da família ou dos filhos", explicou Clark, ex-primeira ministra da Nova Zelândia.
"Em algumas sociedades, quando ocorre este tipo de desastre, a mulher não pode, por motivos culturais, deixar a casa. Nestas condições, como ela poderia 'escapar' e salvar sua vida?", ressaltou.
"O desafio é fazer que as mulheres participem completamente, promover a igualdade", afirma a diretora da ONU, durante a conferência dedicada ao tema, celebrada em março em Sendai, no Japão.
"Elas devem se tornar o motor da mudança necessária para nossa sociedade e para o mundo econômico", insistiu Clark.
A análise é a mesma no terreno das catástrofes e da saúde pública, como o que ocorreu no caso da epidemia de Ebola que assolou o oeste da África.
Ali, foram as mulheres que pagaram mais caro, garante Remi Sogunro, representante na Libéria do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA)
Além de sua posição central no seio da família, que faz delas as primeiras vítimas, são muitas as mulheres que trabalham em profissões relacionadas à saúde, como enfermeiras, auxiliares ou médicas.
"As mulheres tentam ajudar o país a frear o vírus do Ebola, e morrem no exercício de suas funções", lamenta Sogunro.
'Não há mulheres suficientes aqui'
Mesmo em países desenvolvidos como o Japão devem ser feitos mais esforços para melhor envolver as mulheres na redução de risco, afirmou o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe.
Quatro anos após o terrível terremoto e tsunami que atingiu o Japão em março de 2011, Abe lamentou que a maioria dos participantes nos programas organizados no arquipélago para a prevenção de desastres seja de homens.
"No entanto, se um dia um grande terremoto ocorrer, a maioria das pessoas que estarão em casa serão mulheres", argumentou o premiê de um país de mentalidade percebida como retrógrada e machista pelo Ocidente.
"É repugnante ver tão poucas mulheres" entre os participantes do fórum de Sendai, avaliou Rachel Kyte, vice-presidente do Banco Mundial para mudanças climáticas, explicando que ela era a única representante feminina na maioria das reuniões.
"É preciso mudar isso, não há número suficiente de mulheres aqui", afirmou Kyte, convencida de que elas têm a chave para o problema.
"Em quase todas as comunidades em todo o mundo são as mulheres que estão atentas a tudo o que acontece. Eles sabem quem é fraco e vulnerável, quem precisa de ajuda, quais relações as pessoas mantêm".