Mulheres imigrantes vencem barreiras no mercado de trabalho
Entre os principais obstáculos que as mulheres relatam estão preconceito de gênero, menor credibilidade e até maior dificuldade de financiamento
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de agosto de 2018 às 15h36.
Última atualização em 24 de agosto de 2018 às 16h03.
Boston – Na era das divulgações por hashtags, o empoderamento feminino tem alçado voos altos e mostrado mulheres que se destacam por conseguirem com sucesso exercer atividades paralelas às profissionais: esposa, dona de casa, mãe e avó, como exemplos para jornadas que consomem as 24 horas do dia. Junte a todos esses ingredientes outro fator relevante: ser imigrante .
Cada vez mais as mulheres criam coragem para começar um negócio, encarar as oscilações de mercado ou exercer cargos executivos. Entre os principais obstáculos que as mulheres relatam estão preconceito de gênero, menor credibilidade pelo fato de o mundo dos negócios ser mais tradicionalmente associado a homens e até maior dificuldade de financiamento.
Um estudo do Babson College, faculdade de Business em Wellesley, Massachusetts, mostrou que, enquanto as mulheres detêm cerca de 40% dos negócios nos Estados Unido s , apenas perto de 5% de todos os investimentos de capital e apenas 3% do financiamento de capital de risco vão para empresas chefiadas por elas. Quer mais? O estudo indica que, se as mulheres começassem com o mesmo capital que os homens, poderiam somar 6 milhões de empregos à economia norte-americana em cinco anos – 2 milhões deles apenas no primeiro ano.
A Assistente Legal Marinalva Harris retrata bem a mulher imigrante. Ela reúne todos os ingredientes que as #mulheresjuntas ou #mulheresativas poderiam se orgulhar. Ela é casada, cria uma filha que acaba de sair da adolescência e se tornou avó no início do mês quando sua primogênita deu à luz uma menina.
“O ciclo feminino em nossa casa é forte. Todas somos mulheres trabalhadoras e que lutam pelas igualdades”, disse Marinalva.
Além de exercer todos esses papéis, ela trabalha mais de 12 horas por dia como assistente num escritório de advocacia especializado em imigração.
“Aqui, num ambiente (escritório) como este, todos se humanizariam. São tantos os casos que vemos de pessoas que precisam mudar de vida. Então, quando eu vejo o advogado George Maroun Jr. conseguir legalizar alguém eu me realizo junto”, explica.
No escritório, o Marinalva é lembrada pelas colegas como uma "mulher de grande coração". Isso porque não é incomum vê-la intercedendo por clientes que não podem pagar. “O escritório tem uma base muito boa e um índice de sucesso grande, mas eu não conseguiria dormir sabendo que alguém que precisava de ajuda esteve próximo a mim e não fiz nada. Isso não seria eu”, afirma.
Especialistas garantem que o preconceito ainda é um grande desafio para as mulheres, mas elas estão vencendo.
A brasileira Glória Abruzini viveu mais de 10 anos como imigrante entre temporadas na Europa e nos Estados Unidos. “Só quem sai de seu país para viver sabe das dificuldades. Eu sonhei em ser professora, me formei em Matemática e um dia me vi limpando banheiros como house cleaner. E sabe o que foi melhor? Descobri que eu era capaz de fazer aquilo e muito mais. Coloquei como meta que deveria vencer não importando o que estaria fazendo, desde que fosse algo honesto e digno.”
Glória voltou ao Brasil e hoje comanda um restaurante no Nordeste do país atendendo a turistas. “Aprendi muito no exterior e tento colocar na prática o que vi por lá.”
Com a netinha no colo durante a entrevista, Marinalva Harris explica que essa versatilidade das mulheres é fruto de conquistas recentes. “Vivemos ainda numa época em que precisamos provar todos os dias a nossa capacidade. Graças a Deus temos feito a nossa parte.”