Kuwait: estima-se que força de trabalho seja composta por 600 mil trabalhadores domésticos (typhoonski/Thinkstock)
Gabriela Ruic
Publicado em 4 de abril de 2017 às 13h48.
São Paulo – Uma mulher foi presa após filmar a queda pela janela da doméstica que trabalhava em sua casa sem tentar ajudá-la. O caso aconteceu na semana passada no Kuwait e vem sendo visto por organizações de direitos humanos como mais um trágico exemplo das condições desumanas que esses trabalhadores enfrentam no país.
O vídeo tem apenas 12 segundos, mas seu conteúdo é chocante. Mostra a doméstica, que é de origem etíope, pendurada do lado de fora da janela, segurando na beirada com apenas um dos braços. Ela grita desesperadamente, ao passo que sua empregadora segue filmando. Em poucos segundos, ela cai.
O que acontece a seguir é ainda mais impressionante. A empregadora leva o dispositivo com o qual filma o incidente para fora da janela e registra a queda até o momento em que a trabalhadora se choca contra o que parece ser o telhado de uma construção adjacente ao prédio. A queda, contou a jornalista Jenan Moussa, que divulgou o vídeo nas redes sociais, foi de sete andares.
Veja abaixo. Alerta: o vídeo é perturbador.
https://twitter.com/jenanmoussa/status/847790994091331584
Condições desumanas de trabalho
Inicialmente, o incidente vinha sendo tratado por autoridades e imprensa como uma tentativa de suicídio por parte da etíope, que sobreviveu com fraturas em algumas partes do seu corpo. Essa informação havia sido dada pela empregadora à polícia.
Contudo, segundo o site de notícias saudita Al Arabiya, a doméstica nega que tenha tentado tirar a própria vida. “Eu estava tentando fugir de uma mulher que tentava me matar”, disse.
Esse relato é mais um detalhe perturbador em uma história que não é rara no Kuwait. A organização Human Rights Watch se manifestou sobre o assunto lembrando que casos de abusos contra esses trabalhadores são comuns no país.
No ano passado, o governo anunciou uma série de medidas que visavam conceder mais proteção para essas pessoas. Fixou um valor mínimo de salário para empregadores domésticos (200 dólares ao mês), concedeu o direito a folga uma vez por semana e 30 dias de férias remuneradas. Estima-se que essa força de trabalho seja de 600 mil pessoas.
Embora essas proteções tenham sido positivas, o Kuwait ainda não reformou uma outra lei, explica a HRW, e que prevê que os trabalhadores domésticos imigrantes não possam se demitir ou trocar de emprego sem que seu empregador permita. Como resultado desses dois fatores, as relações abusivas e o impedimento legal, muitas dessas pessoas acabam recorrendo à meios perigosos de fuga e algumas até ao suicídio.
Em 2009, a entidade entrevistou oito mulheres que viveram um drama similar ao da etíope. Seus casos foram mascarados como tentativas de suicídios, segundo relatado por seus empregadores. De acordo com elas, entretanto, caíram pela janela tentando fugir dos abusos ou foram empurradas pelos próprios.