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Mudanças climáticas favorecem disseminação do zika

O aumento das temperaturas representa uma ameaça em mais de uma forma, indicaram especialistas antes da "Cúpula do Zika", que será realizada em Paris


	Zika: "As mudanças climáticas contribuíram para expandir o habitat dos mosquitos", explicou Moritz Kraemer
 (Mario Tama/Getty Images)

Zika: "As mudanças climáticas contribuíram para expandir o habitat dos mosquitos", explicou Moritz Kraemer (Mario Tama/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 19 de abril de 2016 às 10h41.

As mudanças climáticas favorecem a proliferação do zika e de outros vírus transmitidos por mosquitos, advertem os especialistas, em um momento em que a Europa e os Estados Unidos se preparam para enfrentar uma epidemia que já provocou estragos na América Latina.

O aumento das temperaturas representa uma ameaça em mais de uma forma, indicaram especialistas antes de uma importante "Cúpula do Zika", que será realizada em Paris na próxima semana.

"As mudanças climáticas contribuíram para expandir o habitat dos mosquitos", explicou Moritz Kraemer, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Oxford e autor de um novo estudo que traçou a zona onde vivem duas espécies que transmitem diferentes vírus aos humanos.

O Aedes aegypti - também conhecido como o mosquito da "febre amarela" - é o principal vetor do zika, que se propagou em Brasil, Colômbia e Caribe desde o fim de 2014, e que está vinculado a um aumento de malformações congênitas e transtornos neurológicos pouco frequentes em adultos.

O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos confirmou nesta semana que o vírus provoca a microcefalia que reduz o cérebro do feto.

Outra espécie, Aedes albopictus, também vive na faixa tropical do resto do mundo mas, diferentemente do aegypti, colonizou 20 países do sul da Europa desde o início dos anos 1990.

Na última década, gerou surtos de dengue e chingungunha, duas doenças virais que provocam febre alta, dores de cabeça e musculares e, em casos muito raros, a morte.

Os testes de laboratório demonstraram que o albopictus é - no jargão dos especialistas - competente para transmitir o zika, e portanto pode causar sua expansão na Europa.

"Veremos o zika vírus na Europa no próximo verão", disse Anna-Bella Failloux, virologista do Instituto Pasteur, que copatrocina esta conferência de dois dias a partir de 25 de abril. "Já vimos este cenário em 2010 com a dengue e a chicungunha", lembrou.

O zika já foi detectado em albopictus selvagens da África e da Ásia, indicou Lyle Petersen, encarregada da investigação de doenças infecciosas transmitidas por vetores do centro nacional para doenças infecciosas de Fort Collins, Colorado.

Humanos que infectam mosquitos

A chegada de um vírus a uma nova região ocorre geralmente quando um mosquito é infectado por um humano, e não o contrário, destacam os investigadores.

As mudanças climáticas também agravam a situação, acelerando a transmissão do zika vírus do estômago do mosquito a sua saliva, ingressando na corrente sanguínea da vítima quando ela é picada pelo inseto.

"Em temperaturas mais quentes, este período de tempo é encurtado, favorecendo a ocorrência de uma transmissão antes que o mosquito morra", disse Petersen.

O tempo de maturação do mosquito cai de duas semanas a uma dezena de dias se a temperatura passar de 25 a 28ºC. O próprio vírus se replica mais rápido em condições mais quentes.

Os especialistas afirmam, no entanto, que as mudanças climáticas não são o único - nem mesmo o mais importante - fator.

"É importante, mas o aumento dos intercâmbios internacionais em viagens e comércio - em poucas palavras, a globalização - são os mais importantes", disse Herve Zeller, chefe do departamento de doenças infecciosas do Centro Europeu para a Prevenção e o Controle de Doenças.

As armas disponíveis

Além dos viajantes humanos, os ovos do Aedes são quase indestrutíveis e podem sobreviver a longos períodos de transporte a bordo de cargueiros ou aviões.

"Os mosquitos invasores ou 'exóticos' podem se estabelecer rapidamente", disse Zeller.

A densidade da população e as condições de saúde são outros fatores chave, responsáveis por fazer com que um surto em países pobres tenha consequências mais graves que um no mundo desenvolvido.

Até o momento, diante da ausência de cura ou vacina contra qualquer um destes vírus transmitidos pelos mosquitos, a única forma de frear sua expansão é evitar ser picado.

Isso significa reduzir seu número, ao mesmo tempo eliminando o ambiente que os favorece ou exterminando-os, embora os mosquitos tenham se tornado resistentes aos inseticidas que, por sua vez, são tóxicos aos humanos.

No Brasil e na Flórida há experimentos em curso com mosquitos modificados geneticamente. Outra estratégia é dispersar machos estéreis que produzem descendência inviável ou modificar a imunidade do próprio mosquito ao vírus.

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