Imagem de arquivo da bandeira da Rússia (Richard Heathcote/Getty Images)
AFP
Publicado em 26 de novembro de 2018 às 06h52.
Última atualização em 26 de novembro de 2018 às 07h00.
A Rússia confirmou neste domingo (25) ter capturado três navios da Marinha Ucraniana no Estreito de Kerch, que liga o Mar Negro ao Mar de Azov, e admitiu ter feito uso da força na ação.
O Conselho de Segurança e Defesa ucraniano, reunido em caráter de urgência, propôs na madrugada de segunda-feira ao presidente Petro Poroshenko a reintrodução da lei marcial durante 60 dias.
A decisão precisa ser validade pelo Parlamento ucraniano, que celebrará uma sessão extraordinária na tarde de segunda-feira, mas o voto a favor da medida não é garantido.
"Para obrigar os navios militares ucranianos a parar, foram usadas armas", declararam os serviços de segurança russos (FSB), afirmando que "os três navios da Marinha ucraniana foram revistados".
"Três membros do pessoal ucraniano feridos receberam atendimento médico. Suas vidas não correm perigo", acrescentaram os FSB.
"Tendo violado a fronteira russa esta manhã, os navios ucranianos - o Berdyansk, o Nikopol e o Yani Kapu - tentaram novamente, em 25 de novembro, às 19h00 [hora de Moscou], realizar ações ilegais nas águas internacionais russas", indicaram as forças de segurança russas.
Segundo estes, os navios ucranianos não teriam respondido aos pedidos legais dos navios de autoridades russas, que lhes ordenaram que parassem e teriam "realizado uma manobra perigosa".
A Marinha de Guerra ucraniana havia acusado mais cedo a Rússia de capturar três navios militares no estreito de Kerch, após ter atirado em sua direção.
O presidente ucraniano "denunciou um ato agressivo da Rússia, buscando uma escalada premeditada" nesta região e convocou neste domingo seu gabinete militar, segundo comunicados oficiais.
"As forças especiais russas capturaram" esses três navios, anunciou em um comunicado o comandante das forças navais ucranianas, acrescentando que havia "informações segundo as quais dois marinheiros ucranianos estariam feridos".
Pouco antes, a Marinha ucraniana havia acusado a Rússia de atirar contra estas embarcações que tentavam entrar do Mar Negro no Estreito de Kerch, que separa a Crimeia da Rússia e marca o acesso ao Mar de Azov.
"Os navios blindados de artilharia 'Berdiansk' e 'Nikopol' foram atingidos por disparos do inimigo e não podem mais navegar. O rebocador 'Iany Kapu' teve que parar", acrescentou em um comunicado a Marinha ucraniana.
As tensões no Mar de Azov se intensificaram neste domingo. A Ucrânia acusou a Rússia de colidir contra um navio ucraniano e, em seguida, impedir sua passagem ao pequeno mar, situado entre a Crimeia e o leste da Ucrânia, cenário de uma guerra com os separatistas pró-russos.
Segundo a Marinha ucraniana, os guardas fronteiriços russos se chocaram neste domingo contra um de seus rebocadores no mar Negro, em frente à Crimeia, anexada em 2014 a Moscou, no âmbito de ações abertamente agressivas contra navios ucranianos para impedir-lhes o acesso ao mar de Azov.
Uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU foi convocada para esta segunda-feira, anunciou a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Nikki Haley. De acordo com fontes diplomáticas, o encontro foi solicitado tanto pela Rússia como pela Ucrânia.
Em Bruxelas, a União Europeia e a Otan pediram uma "desescalada" nas tensões na região e pediram a Moscou para "restaurar a liberdade de passagem" mo estreito de Kerch.
"Nós esperamos que a Rússia restaure a liberdade de passagem pelo estreito de Kerch e chamamos todas as partes a agir com máxima moderação a fim de se ter êxito em uma desescalada imediata da situação", declarou a UE em um comunicado. A Otan também apelou "à moderação e à desescalada", através de um porta-voz.
Os acontecimentos no mar de Azov mostram aonde pode levar "o desprezo às regras de base da cooperação internacional", considerou a UE em seu comunicado, destacando que "a construção da ponte de Kerch [pela Rússia, ndr] foi efetuada sem o consentimento da Ucrânia e constitui uma nova violação da soberania e da integridade territorial" deste país.
A UE "não reconhece e não reconhecerá a anexação ilegal da Crimeia pela Rússia", concluiu o comunicado.
A Otan declarou, por sua vez, "apoiar totalmente a soberania da Ucrânia e sua integridade territorial, inclusive seus direitos de navegação em águas territoriais".
"Pedimos à Rússia para garantir um acesso sem obstáculos nos portos ucranianos no mar de Azov, conforme a lei internacional", concluiu uma porta-voz da Otan.