Morte de mulá Omar ameaça unidade e futuro do Taleban
O anúncio do governo afegão da morte do líder, confirmada hoje por seus próprios seguidores, veio referendar uma realidade que para muitos já era evidente
Da Redação
Publicado em 30 de julho de 2015 às 16h30.
Cabul - A notícia da morte do líder supremo dos talibãs, o mulá Omar, representa um duro golpe para a unidade deste grupo insurgente, põe em xeque as conversas iniciadas com o governo do Afeganistão e deixa o movimento talibã entre a ruptura e novas aventuras como a do Estado Islâmico (EI).
O anúncio feito pelo governo afegão na quarta-feira da morte do líder talibã, confirmada hoje por seus próprios seguidores, veio referendar uma realidade que para muitos era evidente há tempos.
O dirigente talibã não aparecia em público desde que foi tirado do poder em 2001 após a invasão americana, mas em duas ocasiões enviou mensagens de felicitação pelo fim do Ramadã, o mês de jejum muçulmano.
Há menos de 15 dias, os talibãs divulgaram uma mensagem atribuída a ele na qual pela primeira vez o líder insurgente aceitava que a solução política para a guerra afegã era legítima.
A mensagem, ainda hoje no site talibã, foi elogiada pelo presidente afegão, Ashraf Ghani, que agradeceu a mulá Omar por sua flexível postura em relação às conversas.
O mulá Omar exercia um papel importante como símbolo da unidade para os comandantes talibãs, que lutam contra o governo e o contingente militar internacional presente no país há 14 anos.
Essa unidade, segundo afirmaram analistas consultados pela Agência Efe, não poderá ser mantida perante a iminente luta interna por poder e a reacomodação de forças e posições, o que representará a mais que segura ruptura entre as diferentes facções.
O segundo no comando e chefe militar talibã, o mulá Akhtar Muhammad Mansour, considerado próximo ao Paquistão e apontado como favorito para assumir a liderança talibã, não tem o respaldo da família de Omar, nem do escritório dos talibãs no Catar nem do mulá Abdul Qayum Zakir, número três do grupo insurgente, segundo disse à Efe o diplomata afegão Ahmad Sayeedi.
"Vendo estas fendas, os talibãs não se manterão juntos após a morte do mulá Omar", disse este especialista em insurgência.
Sayeedi acrescentou ainda que o mulá Omar tinha sugerido como sucessores o mulá Obaidullah, já morto, e o mulá Brother, atualmente sob prisão domiciliar no Paquistão, razão pela qual, em sua opinião, quem assumir a liderança não será aceito por todos os grupos talibãs.
A insurgência mantida durante 14 anos também se debilitará após a morte de seu líder. Alguns de seus comandantes aceitarão as conversas de paz que começaram este mês com o governo e aqueles que se oponham não terão mais alternativa que unir-se ao braço local do Estado Islâmico, declarou à Efe o ex-oficial de inteligência afegão, Javid Kohistani.
"O status de Amirul Muminin (comandante dos fiéis, outorgado a Omar) respaldado por 1.500 ulemás (doutores no Corão) já não é viável para os talibãs; portanto as fatwa (ordens do comandante) não serão efetivas nem aceitas pelos comandantes talibãs", opinou Kohistani.
Em sua opinião, este será o último ano durante o qual os talibãs mostrarão todo seu poder militar.
Vários comandantes talibãs desertaram nos últimos meses para unir-se ao EI, motivo pelo qual o grupo insurgente advertiu Abu Bakr al-Baghdadi, líder dessa organização, para que não criasse uma segunda frente jihadista no país se não queria se ver confrontado e derrotado pela força.
Mas o anúncio da morte do mulá Omar chegou após a tão ansiada primeira rodada de conversas entre os talibãs e o governo, no último dia 7 de julho, e o momento em que se preparava a segunda, adiada a pedido dos insurgentes perante os últimos eventos.
"A morte do mulá Omar terá sérias consequências para as conversas de paz no curto prazo e as complicará mais, mas em longo prazo é vista como uma oportunidade para o governo alcançar uma paz com aqueles insurgentes a quem seus companheiros não permitiram buscar um acordo no passado", disse à Efe Mohammad Natiqi, da delegação afegã nas conversas.
Nesse sentido, Natiqi lembrou que as facções mais influentes dos talibãs são o grupo do mulá Akhtar Mansour e a rede Haqqani, que mostraram no passado o desejo de conseguir um acordo para acabar com a guerra.
"Se o governo alcançar um acordo com estes dois grupos, os demais talibãs não terão outro remédio que submeter-se ao acordo de paz", concluiu Natiqi.
Cabul - A notícia da morte do líder supremo dos talibãs, o mulá Omar, representa um duro golpe para a unidade deste grupo insurgente, põe em xeque as conversas iniciadas com o governo do Afeganistão e deixa o movimento talibã entre a ruptura e novas aventuras como a do Estado Islâmico (EI).
O anúncio feito pelo governo afegão na quarta-feira da morte do líder talibã, confirmada hoje por seus próprios seguidores, veio referendar uma realidade que para muitos era evidente há tempos.
O dirigente talibã não aparecia em público desde que foi tirado do poder em 2001 após a invasão americana, mas em duas ocasiões enviou mensagens de felicitação pelo fim do Ramadã, o mês de jejum muçulmano.
Há menos de 15 dias, os talibãs divulgaram uma mensagem atribuída a ele na qual pela primeira vez o líder insurgente aceitava que a solução política para a guerra afegã era legítima.
A mensagem, ainda hoje no site talibã, foi elogiada pelo presidente afegão, Ashraf Ghani, que agradeceu a mulá Omar por sua flexível postura em relação às conversas.
O mulá Omar exercia um papel importante como símbolo da unidade para os comandantes talibãs, que lutam contra o governo e o contingente militar internacional presente no país há 14 anos.
Essa unidade, segundo afirmaram analistas consultados pela Agência Efe, não poderá ser mantida perante a iminente luta interna por poder e a reacomodação de forças e posições, o que representará a mais que segura ruptura entre as diferentes facções.
O segundo no comando e chefe militar talibã, o mulá Akhtar Muhammad Mansour, considerado próximo ao Paquistão e apontado como favorito para assumir a liderança talibã, não tem o respaldo da família de Omar, nem do escritório dos talibãs no Catar nem do mulá Abdul Qayum Zakir, número três do grupo insurgente, segundo disse à Efe o diplomata afegão Ahmad Sayeedi.
"Vendo estas fendas, os talibãs não se manterão juntos após a morte do mulá Omar", disse este especialista em insurgência.
Sayeedi acrescentou ainda que o mulá Omar tinha sugerido como sucessores o mulá Obaidullah, já morto, e o mulá Brother, atualmente sob prisão domiciliar no Paquistão, razão pela qual, em sua opinião, quem assumir a liderança não será aceito por todos os grupos talibãs.
A insurgência mantida durante 14 anos também se debilitará após a morte de seu líder. Alguns de seus comandantes aceitarão as conversas de paz que começaram este mês com o governo e aqueles que se oponham não terão mais alternativa que unir-se ao braço local do Estado Islâmico, declarou à Efe o ex-oficial de inteligência afegão, Javid Kohistani.
"O status de Amirul Muminin (comandante dos fiéis, outorgado a Omar) respaldado por 1.500 ulemás (doutores no Corão) já não é viável para os talibãs; portanto as fatwa (ordens do comandante) não serão efetivas nem aceitas pelos comandantes talibãs", opinou Kohistani.
Em sua opinião, este será o último ano durante o qual os talibãs mostrarão todo seu poder militar.
Vários comandantes talibãs desertaram nos últimos meses para unir-se ao EI, motivo pelo qual o grupo insurgente advertiu Abu Bakr al-Baghdadi, líder dessa organização, para que não criasse uma segunda frente jihadista no país se não queria se ver confrontado e derrotado pela força.
Mas o anúncio da morte do mulá Omar chegou após a tão ansiada primeira rodada de conversas entre os talibãs e o governo, no último dia 7 de julho, e o momento em que se preparava a segunda, adiada a pedido dos insurgentes perante os últimos eventos.
"A morte do mulá Omar terá sérias consequências para as conversas de paz no curto prazo e as complicará mais, mas em longo prazo é vista como uma oportunidade para o governo alcançar uma paz com aqueles insurgentes a quem seus companheiros não permitiram buscar um acordo no passado", disse à Efe Mohammad Natiqi, da delegação afegã nas conversas.
Nesse sentido, Natiqi lembrou que as facções mais influentes dos talibãs são o grupo do mulá Akhtar Mansour e a rede Haqqani, que mostraram no passado o desejo de conseguir um acordo para acabar com a guerra.
"Se o governo alcançar um acordo com estes dois grupos, os demais talibãs não terão outro remédio que submeter-se ao acordo de paz", concluiu Natiqi.