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Morte de médico que fez alerta sobre o coronavírus gera revolta na China

Enquanto a população considera o médico um herói por ter alertado sobre o coronavírus, ele chegou a ser intimado pela polícia

Li Wenliang: foto do falecido médico diante de flores em um hospital de Wuhan (AFP/AFP)

Li Wenliang: foto do falecido médico diante de flores em um hospital de Wuhan (AFP/AFP)

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AFP

Publicado em 7 de fevereiro de 2020 às 10h16.

O médico Li Wenliang, que foi convocado pela polícia por ter feito um alerta sobre o novo coronavírus na China, morreu em consequência da doença, o que provocou uma onda de revolta entre a população ante uma crise cada vez mais grave, que matou mais de 630 pessoas.

Duas semanas depois do início da quarentena em Hubei, província onde surgiu a pneumonia viral, a epidemia infectou 31.161 pessoas na China continental, com 636 mortes, de acordo com o balanço mais recente divulgado pelas autoridades.

No restante do mundo foram confirmados 240 casos de contágios em quase 30 países e territórios, dois deles fatais, em Hong Kong e Filipinas. Milhares de turistas a bordo de três cruzeiros estão bloqueados na Ásia pela detecção do vírus a bordo de seus navios.

 

A epidemia ganhou um tom político após a morte de Li Wenliang, médico de Wuhan que no fim de dezembro fez um alerta sobre o surgimento do vírus em Wuhan, capital de Hubei.

Após a reação de revolta dos internautas chineses, as autoridades do país anunciaram a abertura de uma investigação sobre a morte de Wenliang.

Convocado pela polícia

O oftalmologista foi convocado pela polícia, que o acusou de propagar boatos ao lado de outras setes pessoas. Agora ele é considerado um herói nacional, ainda mais em comparação com os funcionários do governo local acusado de ocultar o surgimento da epidemia.

"É um herói que fez o alerta e pagou com sua vida", escreveu um de seus colegas na rede social Weibo.

"Que todos os funcionários que enriquecem com dinheiro público morram debaixo da neve", afirmou um internauta, em um comentário apagado imediatamente pelos censores.

O doutor Li, de apenas 34 anos, faleceu no hospital central da cidade, isolada do mundo desde 23 de janeiro, assim como seus 11 milhões de habitantes. O oftalmologista contraiu a doença quando tratava um paciente.

Sua morte ilustra a situação caótica dos hospitais de Wuhan, muito saturados. Um alto funcionário do governo provincial admitiu na quinta-feira que os profissionais da área da saúde não contam com equipamento de proteção contra o vírus.

Xi e Trump conversam

A morte do médico parece ter provocado estupor no regime.

Veículos da imprensa estatal como o canal CCTV e o jornal Global Times anunciaram a morte na quinta-feira, mas depois apagaram a informação das redes sociais.

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) reagiu à notícia, sem esperar a confirmação do hospital, e expressou tristeza.

O governo central anunciou uma investigação sobre a morte do médico e a prefeitura de Wuhan deu pêsames à família.

O presidente Xi Jinping assegurou a seu colega americano que o país é "completamente capaz" de derrotar o coronavírus.

Também pediu ao governo dos Estados Unidos uma reação "de forma razoável" à crise. Washington proíbe a entrada em seu território dos estrangeiros que passam pelo território chinês. No início da semana, a China acusou o país de "propagar o pânico".

Xi afirmou que a China está travando "uma guerra popular" contra a epidemia, com "mobilização nacional e medidas de prevenção e controle muito estritas", informou o canal CCTV.

Donald Trump "expressou sua confiança na força e resistência da China para enfrentar o desafio do novo surto de coronavírus" e os dois presidentes "concordaram em continuar a ampla comunicação e cooperação", indicou a Casa Branca.

Cruzeiros bloqueados

Muitos países aumentaram as restrições à entrada de pessoas procedentes da China e não recomendam viagens ao país.

Milhares de turistas e tripulantes estão confinados em cruzeiros na Ásia.

No Japão, o "Diamond Princess" permanece em quarentena após a confirmação de 61 casos a bordo, incluindo um argentino, o primeiro caso de latino-americano diagnosticado com a doença. Quase 3.700 pessoas estão retidas em seus quartos.

Em Hong Kong, 3.600 pessoas enfrentam a mesma situação no cruzeiro "World Dream", depois que três pessoas que foram passageiros do navio apresentaram resultado positivo para o coronavírus.

De acordo com as autoridades japonesas, outro cruzeiro, o "Westerdam", segue em direção ao país com pelo menos um caso confirmado a bordo.

Paralisação continua

Nas últimas 24 horas, a China continental registrou 73 mortes, incluindo 69 em Hubei. As autoridades contabilizaram 3.143 novos casos de contágio no mesmo período.

Dos mais de 31.000 casos no país, 4.800 são considerados graves. A China registra ainda 26.000 casos suspeitos.

A taxa de mortalidade do novo coronavírus, de aproximadamente 2%, ainda é considerada muito inferior que a da Sars (Síndrome Respiratória Aguda Grave), que matou 774 pessoas em todo o mundo entre 2002 e 2003.

A economia chinesa pode ser afetada por um longo tempo, pois em muitas províncias a maioria das empresas e fábricas não devem retomar as atividades antes de 10 de fevereiro, na melhor das hipóteses.

A montadora japonesa Toyota anunciou um novo adiamento, até 16 de fevereiro, da retomada da produção em suas fábricas na China.

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