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Missão de observadores árabes na Síria gera controvérsia

Apesar da presença dos diplomatas, mortes continuam no país; França criticou a missão

Observadores da Liga Árabe, em meio a uma manifestação, na cidade de Idlib na Síria, segundo um vídeo do Youtube (YouTube/AFP)

Observadores da Liga Árabe, em meio a uma manifestação, na cidade de Idlib na Síria, segundo um vídeo do Youtube (YouTube/AFP)

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Da Redação

Publicado em 3 de janeiro de 2012 às 19h06.

Damasco - A Liga Árabe reconheceu que os tiros contra manifestantes anti-regime continuam na Síria, apesar da presença da missão de observadores árabes, cujo papel tem suscitado controvérsia.

Três civis foram mortos nesta terça-feira em Homs (centro) pelas forças de segurança, que fizeram disparos em vários bairros desta cidade, centro da contestação contra o regime do presidente Bashar al-Assad, informou o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Ao mesmo tempo, grupos de observadores visitaram áreas de Homs, Deraa (sul) e Idleb (noroeste), segundo a televisão estatal.

A França expressou mais uma vez suas dúvidas sobre a missão.

"As condições nas quais esta missão de observação está acontecendo devem ser esclarecidas", disse nesta terça-feira o ministro francês das Relações Exteriores, Alain Juppé, ao canal de televisão francês I-TV.

"Será que eles realmente têm acesso as informações com toda a liberdade? Aguardamos o relatório que irão fazer nos próximos dias", acrescentou.

Já para o presidente francês Nicolas Sarkozy, o presidente Bashar al-Assad deveria abandonar o poder e deixar que seu povo decida livremente seu destino. Para Sarkozy, os massacres ocorridos na Síria geram repugnância e indignação.

"A comunidade internacional deve assumir suas responsabilidades denunciando uma repressão cruel e deve assegurar-se de que os observadores da Liga Árabe tenham todos os meios e a liberdade de fazer corretamente seu trabalho", declarou Sarkozy.


O secretário-geral da Liga Árabe, Nabil al-Arabi, pediu na segunda-feira "o fim completo dos tiros" na Síria, onde a repressão sangrenta do regime já matou mais de 5.000 pessoas desde março, segundo a ONU.

De acordo com os "relatórios mais recentes" recebidos por telefone dos observadores na Síria "ainda há tiroteios e franco-atiradores" nas cidades, "é necessário uma cessação total dos tiros", acrescentou.

"Um dos objetivos da missão era garantir a libertação de 3.484 prisioneiros detidos pelo governo sírio em quatro etapas. A libertação de um novo grupo será anunciada em breve. Os tanques se retiraram das cidades e de seus arredores. Mas, de acordo com relatos, franco-atiradores continuam a operar a partir de telhados de edifícios e há violência contínua", afirmou Arabi.

Os Comitês Locais de Coordenação (LCC), que organizam as manifestações no terreno, denunciaram estas declarações em um comunicado.

Eles pediram ao chefe da Liga Árabe e aos observadores uma atitude "objetiva, imparcial e honesta, e senso de responsabilidade (...) para admitir sua incapacidade de realizar a missão sozinha e buscar ajuda de organizações internacionais".

"Queremos dizer para Nabil al-Arabi que a falta de profissionalismo dos observadores e o não cumprimento dos horários de chegada nos locais específicos fizeram com que muitas pessoas fossem mortas", ressaltaram.

"O trabalho dos observadores, que era a princípio de monitorar a implementação do plano árabe para parar a matança diária é dificultada pelo regime", disse o LCC.


"Os oficiais e soldados do exército usam roupas de policiais, conduzem veículos militares repintados e alteram os nomes dos lugares, mas isso não significa que o exército se retirou das cidades e das ruas, ou que o regime tem aplicado as disposições do protocolo" árabe, acrescentou o LCC.

Segundo eles, 390 pessoas foram mortas desde que os observadores começaram a sua missão.

Já a agência de notícias oficial SANA informou que "um grupo terrorista atacou um gasoduto perto Rastan", na província de Homs.

Mas, em na página do Facebook "Revolução síria 2011", os militantes acusam "gangues de Assad de terem explodido o gasoduto, a fim de acusar os habitantes no momento em que os observadores chegavam à região".

"O regime quer que a área seja considerada perigosa, já que agentes da segurança foram para lá em massa e por um longo tempo. As pessoas nem sequer se atrevem a se aproximar das barreiras militares", afirmaram.

O jornal privado Al-Watan, próximo do governo, anunciou que uma frota russa liderada pelo porta-aviões almirante Kuznetsov chegará nos próximos dias na base naval de Tartus (centro-oeste).

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