Diariamente multidões se reúnem em Alexandria e no Cairo para os protestos contra Mubarak (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 1 de fevereiro de 2011 às 17h04.
São Paulo - "Minha mãe não consegue sair de casa há três dias", diz Mostafa Mansour, um jovem egípcio de 25 anos que mora no Brasil desde 2007. Ela, uma senhora de 59 anos, vive sozinha em Alexandria, uma das mais importantes cidades do Egito. Junto com a capital, Cairo, ela tem sido palco de grandes manifestações que pedem a renúncia do ditador egípcio Hosni Mubarak.
O jovem, que é casado com uma brasileira e dá aulas de língua árabe, contou à reportagem de Exame.com que fala com a mãe todos os dias pelo telefone celular. "Não usamos o fixo porque temos medo de que esteja grampeado. O governo tem menor controle sobre os celulares", explica. Segundo ele, o acesso à internet está fora de questão.
Na segunda-feira (31), a mãe de Mostafa saiu de casa para comprar alimentos, mas teve que voltar em menos de uma hora, por causa dos protestos. "Ela disse que a cidade está violenta. Viu tanques de guerra nas ruas, e de casa ela consegue ouvir os gritos." E a visão das manifestações foi o máximo que a professora de inglês conseguiu, já que os supermercados estão com os suprimentos contados. Arroz é um dos itens mais difíceis de encontrar.
"Hoje (1º) ela não vai conseguir sair de novo", disse o rapaz, que liga para Alexandria de sete a oito vezes por dia para ter certeza de que a mãe está bem. Nesta terça-feira, as ruas da cidade voltaram a ficar agitadas. Segundo informações de agências internacionais, quase 50 mil pessoas se reuniram diante de uma importante mesquita da cidade para protestar.
Repressão
Assim como a mãe de Mostafa, a maioria dos habitantes da cidade não tem saído de casa. "Eles estão com muito medo. Domingo foi o pior dia. A polícia passou pelas ruas do bairro intimidando as pessoas, dizendo para não irem aos protestos”, afirma.
Segundo o jovem, além da intimidação, o governo de Mubarak resolveu manter a população sob controle por outros métodos. "Minha mãe disse que todos estão sem os canais de TV. Não conseguem mais assistir à CNN, Al Jazeera (principal canal de notícias em árabe). Agora as televisões só sintonizam o canal estatal, que faz muita defesa do governo", diz Mostafa.
Medo
O rapaz conta ainda que as multidões de manifestantes, que antes eram formadas basicamente por jovens, começam a ganhar mais reforços. "Minha mãe diz que antes, as pessoas que estavam protestando eram da faixa dos 16 aos 35 anos. Mas hoje ela disse que até crianças de seis, sete anos, estavam na rua".
"Nosso maior medo é que o governo resolva aumentar a violência. Segundo minha mãe, agora, quando 50 pessoas morrem em um protesto, é uma coisa normal. Queremos que isso acabe. Tem que terminar uma época de 30 anos em que meu país foi governado com mão de ferro. Nós queremos uma democracia, como em qualquer lugar normal do mundo."