Mundo

Mineiros mantêm greve que causou 44 mortos na África do Sul

A companhia chegou a prorrogar até as 6h locais de amanhã (3h de Brasília) o ultimato dado aos mineiros para voltar ao trabalho ou sofrer demissão


	Mineiro participa de greve em Marikana, na África do Sul: a África do Sul declarou uma semana de luto oficial pelas 44 mortes, que começou hoje e termina no domingo
 (Stringer/AFP)

Mineiro participa de greve em Marikana, na África do Sul: a África do Sul declarou uma semana de luto oficial pelas 44 mortes, que começou hoje e termina no domingo (Stringer/AFP)

DR

Da Redação

Publicado em 20 de agosto de 2012 às 17h54.

Marikana - Os mineiros sul-africanos enfrentaram nesta segunda-feira a ameaça de demissão da empresa Lonmin e mantiveram, pelo décimo dia consecutivo, a greve que causou 44 mortos na mina de Marikana, a cerca de 100 quilômetros de Johanesburgo.

A companhia chegou a prorrogar até as 6h locais de amanhã (3h de Brasília) o ultimato dado aos mineiros para voltar ao trabalho ou sofrer demissão, devido às "circunstâncias atuais", em referência à extrema tensão vivida nos arredores da mina.

Em uma demonstração de força, os diretores da Lonmin compareceram em entrevista coletiva junto ao sindicato majoritário, a União Nacional de Mineiros (NUM), para exibir os números de comparecimento hoje aos postos de trabalho na mina.

O vice-presidente executivo de Mineração da Lonmin, Mark Munroe, disse que a empresa conseguiu reiniciar hoje sua produção, embora de maneira "insignificante", e comemorou que 27% dos empregados tenha comparecido ao trabalho.

"A maioria dos trabalhadores não está em greve, e não pôde ir trabalhar devido à violência que cercou essa greve ilegal", acrescentou o diretor.

A direção não mencionou, no entanto, a reunião de cerca de 3 mil pessoas pouco antes no acampamento mineiro, onde os líderes do protesto decidiram continuar a greve até conseguirem sua reivindicação de melhora salarial, e receberam o apoio de chefes tribais da zona, políticos da oposição e organizações da sociedade civil.

O novo ultimato ameaça estender, ainda mais, a situação na mina de Marikana e agravar os conflitos entre os próprios trabalhadores, encurralados entre o risco de se enfrentar nos piquetes ou perder seu emprego.

"Tenho medo de ser atacado pelos outros", confessou à Agência Efe, sob condição de anonimato, um dos empregados do exploração, que disse não apoiar a greve.

"Eu quero voltar a trabalhar, mas não farei isso até que eles (os grevistas) mandem", disse Aubrey Dambula, que trabalha em Lonmin há seis anos.


Até o fim da tarde de hoje, a Associação de Trabalhadores da Mineração e a Construção (AMCU), sindicato minoritário que iniciou a greve no dia 10, ainda não tinha alcançado um acordo com a direção de exploração de platina.

Os grevistas devem se reunir amanhã às 06h locais e avaliar o ultimato de Lonmin.

No entanto, membros dos piquetes, que pediram anonimato, disseram de forma assertiva à Efe que "ninguém vai poder ir trabalhar amanhã", em alusão a sua tentativa de impedir o acesso às instalações.

"É melhor morrer que continuar vivendo dessa maneira. Vamos seguir com a greve, (desistir) seria uma traição aos mineiros que morreram", afirmou um dos mineiros em greve.

Um número reduzido de empregados se atreveu hoje a desafiar os piquetes, que já provocaram distúrbios no início da greve, e nos quais morreram seis mineiros, dois policiais e dois guardas de segurança na semana passada.

Hoje, no hospital "Andrew Saffy" de Marikana, que acolhe mais de 70 feridos pelos disparos da polícia nos incidentes da quinta-feira passada, vários familiares consultavam uma lista com nomes dos feridos internados e mortos.

Os parentes estão partindo para cidade vizinha de Rustenburg, onde hoje se reuniu pela primeira vez o comitê ministerial designado pelo presidente da África do Sul, Jacob Zuma, para coordenar os funerais e a ajuda psicológica às famílias.

"Nunca esquecerei o que aconteceu aqui, é terrível o que a polícia fez", declarou à Efe Khonwa Yongeliswe, que viajou do Cabo Oriental, cerca de 1 mil quilômetros, para providenciar o traslado do corpo de seu cunhado, morto por disparos dos policiais na quinta-feira.

Em um tribunal de Pretória compareceram hoje pela primeira vez mais de 200 detidos durante os distúrbios da greve.

Um total de 34 mineiros, armados com paus e facões e que estavam havia vários dias em greve, foram baleados pela polícia na quinta-feira passada, quando um grupo de trabalhadores partiu para atacar os oficiais, que afirmaram ter agido em legítima defesa.

Outras dez pessoas faleceram dias antes, durante distúrbios anteriores ao massacre.

A África do Sul declarou uma semana de luto oficial pelas 44 mortes, que começou hoje e termina no domingo. 

Acompanhe tudo sobre:ÁfricaÁfrica do SulGrevesIndústriaMineração

Mais de Mundo

Kamala e Trump dizem que estão prontos para debate e Fox News propõe programa extra

Eleições nos EUA: como interpretar as pesquisas entre Kamala e Trump desta semana?

Eventual governo de Kamala seria de continuidade na política econômica dos EUA, diz Yellen

Maduro pede voto de indecisos enquanto rival promete 'não perseguir ninguém' se for eleito

Mais na Exame