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Milton Keynes: lar da "maioria silenciosa" que votou no Brexit

Milton Keynes tem um dos mais altos índices de emprego e de crescimento do Reino Unido, e se apresentava como terreno fértil em favor da UE

Milton Keynes: , a 80 km de Londres, o município não é um sonhado destino turístico, mas um lugar de economia florescente que pode causar inveja a outros lugares do reino (Cnyborg/Wikimedia Commons)

Milton Keynes: , a 80 km de Londres, o município não é um sonhado destino turístico, mas um lugar de economia florescente que pode causar inveja a outros lugares do reino (Cnyborg/Wikimedia Commons)

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AFP

Publicado em 13 de janeiro de 2017 às 16h38.

Há dinheiro e trabalho no próspero município de Milton Keynes, perto de Londres, mas ali também houve vitória do Brexit no referendo de junho de 2016.

Assim como nos Estados Unidos, no Reino Unido não é só a classe trabalhadora que vive o lado ruim da globalização.

"Continuamente estamos subestimando a maioria silenciosa", afirma Richard Heffernan, professor na Open University, primeira universidade de ensino à distância do país, instalada em Milton Keynes desde 1969.

Hefferman vive há 47 anos nesse município, fundada na década de 60 e que é considerada um termômetro da política britânica. "Me diga como vota Milton Keynes e lhe direi como vota o país", diz um ditado.

O município tem um dos mais altos índices de emprego e de crescimento do Reino Unido, e teoricamente se apresentava como terreno fértil em favor do status quo do país dentro da União Europeia (UE).

No referendo de 23 de junho, 51% dos eleitores optaram pela saída do país da UE, muito perto dos 52% nacional que votaram pelo Brexit.

Como no caso da vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, o resultado do Brexit é frequentemente apresentado como uma vitória das classes populares das zonas pós-industriais, especialmente no norte da Inglaterra, sobre as elites liberais urbanas, começando pela de Londres.

Ruptura de estereótipos

Milton Keynes, comunidade de 250.000 habitantes criada em 1967, rompe com esses estereótipos.

Com suas vias urbanas, suas modernistas esculturas de cimento e suas numerosas rotatórias, Milton Keynes, a 80 km de Londres, não é um sonhado destino turístico, mas um lugar de economia florescente que pode causar inveja a outros lugares do reino.

Volkswagen, Mercedes-Benz e o banco espanhol Santander estão instalados ali, oferecendo trabalho. O lugar ainda conta com uma pista de esqui que atrai milhares de visitantes.

"Quando chegamos aqui em 1984, a cidade respirava otimismo e agora tudo continua igual", relata Diana Miller, de 69 anos, enfermeira aposentada, que votou pelo Brexit.

Duas razões motivaram o voto pela saída da UE: o fluxo de imigrantes procedentes da Europa Oriental e a importância da soberania nacional.

Em Milton Keynes, o segundo motivo contou muito mais. "Não foi tanto pela imigração como por questões de soberania e de democracia" explica Diana.

No referendo de 1975 sobre a permanência do país na Comunidade Econômica europeia "votamos por um mercado comum, mas não por perder nossa soberania", explica a mulher. "Somos um país poderoso, apreciamos nossa independência" acrescenta.

"Há muitas oportunidades nessa cidade, há trabalho para todos e eu jamais irei embora daqui", diz Katherine Moore, de 31 anos, que trabalha com restauração.

Preservar o sistema de saúde pública NHS é a "única razão" pela qual Katherine Moore votou pelo Brexit, e não pelos migrantes estrangeiros.

Coelhos deslumbrados

O ex-primeiro-ministro David Cameron, que organizou o referendo defendendo a permanência na UE, pôde comprovar as preocupações locais em um debate televisionado ao vivo de Milton Keynes, quatro dias antes da votação.

A um público cético, inclusive hostil, Cameron teve que dar explicações sobre a economia, a imigração e a eventual adesão da Turquia à UE.

Segundo Richard Heffernan a transmissão alertou a classe política, com maioria pró-UE, sobre a ameaça real de uma vitória do Brexit.

"A elite liberal foi incapaz de compreender as inquietudes das classes médias e populares", assegura.

"Hoje, os políticos são como coelhos deslumbrados pelos faróis de um carro. Se dão conta que as pessoas que conduz não os querem. Mas não sabem o que fazer".

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