Milhares de migrantes esperam fim da 'expulsão automática' na fronteira entre EUA e México
As autoridades americanas utilizavam esta norma para impedir a presença de centenas de milhares de migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos com a esperança de escapar da miséria ou fugir da violência e corrupção
Agência de notícias
Publicado em 11 de maio de 2023 às 07h07.
A norma sanitária que permite expulsar a maioria dos migrantes que chegam à fronteira entre Estados Unidos e México expira nesta quinta-feira, 11, mas solicitar asilo pode ser tão difícil quanto antes para muitos deles a partir de sexta-feira, 12.
Às 23H59 horário de Washington (0H59 de Brasília, sexta-feira) o governo suspenderá a norma conhecida como "Título 42", uma política ativada durante a pandemia para supostamente impedir a propagação da covid-19, mas que na prática bloqueou a possibilidade de solicitação de asilo.
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As autoridades americanas utilizavam esta norma para impedir a presença de centenas de milhares de migrantes que tentam entrar nos Estados Unidos com a esperança de escapar da miséria ou fugir da violência e corrupção.
"Título 42" chega ao fim depois das idas e vindas nos tribunais, onde os republicanos, que acusam o presidente democrata Joe Biden de ser negligente, fizeram o possível para que a norma continuasse em vigor.
O governo americano se prepara há mais de um ano para o momento, com uma série de medidas que incluem recompensas para os migrantes que iniciam os trâmites de seus pedidos antes de chegar à fronteira por meio do aplicativo CBP One, dos programas de reencontro familiar ou das permissões humanitárias para cotas de venezuelanos, haitianos, nicaraguenses e cubanos.
"Atravessar não é uma opção"
Variação mensal de detenções na fronteira pelo Título 8 desde outubro de 2019 e pelo Título 42 desde que começou a ser aplicado de março de 2020 a março de 2023.
Mas também há punições, como a maior dificuldade de acesso ao asilo para os que não adotam as "vias legais" ou não iniciam os pedidos em um país de trânsito na viagem para os Estados Unidos. Uma decisão que rendeu a Biden comparações com o antecessor, o republicano Donald Trump, partidário de uma política migratória rígida.
Em duas cidades fronteiriças do lado mexicano, Ciudad Juárez e Matamoros, as travessias de migrantes aumentaram esta semana.
Mas alguns venezuelanos que viajam em grupo preferem aguardar para marcar uma consulta pelo aplicativo CBP One. O horário será ampliado na sexta-feira e passará a funcionar 23 horas por dia.
"Atravessar o rio não é uma opção porque vamos perder todos os direitos de um processo legal caso nos concedam a oportunidade de entrar nos Estados Unidos. Podemos entrar, mas eles podem nos expulsar automaticamente porque entramos ilegalmente", disse o venezuelano Andrés Sanchez.
Ele faz referência ao aplicativo do 'Título 8', que já está sendo utilizado e permite expulsar qualquer pessoa que entrar no país sem visto ou a documentação necessária.
O secretário de Segurança Nacional, Alejandro Mayorkas, insistiu na quarta-feira: "Aqueles que não usam vias legais para entrar nos Estados Unidos não são elegíveis para asilo".
Com poucas exceções, os migrantes serão expulsos para seus países de origem e, no caso de cubanos, nicaraguenses, haitianos e venezuelanos, para o México.
Um ativista, que pediu para não ser identificado, declarou à AFP que muitos migrantes que conseguiram entrar nos últimos dias foram expulsos para o México pela fronteira da Califórnia, a quase 1.000 quilômetros de distância.
Mayorkas repete há vários meses que "a fronteira não está aberta", mas as autoridades preveem um aumento do fluxo durante os próximos dias.
"Eu tive sorte"
"Será caótico por algum tempo", admitiu Biden. O governo mantém mais de 24.000 policiais na fronteira, ao lado de outros 1.100 novos coordenadores de patrulha fronteiriça.
O prefeito de El Paso, cidade americana na fronteira, concorda com o presidente.
"Vai ser algo difícil, muito difícil todos os dias. Temos que seguir nos preparando para o desconhecido", declarou Oscar Leeser.
Nem todos revelam nervosismo. Alguns migrantes estão felizes.
"Foi uma viagem com muitos problemas, tivemos que dormir no chão, passamos fome, mas não perdemos a fé em Deus e estamos aqui (...) Na primeira vez me devolveram (deportaram) e não perdi a fé e tentei novamente", declarou à AFP o venezuelano Cleiber Colmenares, 26 anos, pai de dois filhos, em Brownsville.
Eibor Tovar recebeu a intimação para comparecer a uma audiência com um juiz da imigração em novembro.
"Eu tive sorte, recebi a intimação antes dos outros, Algumas pessoas foram convocadas para 2026. Estou feliz porque agora posso continuar, o que eu quero é trabalhar", declarou à AFP em El Paso.