Milhares de egípcios vão às ruas pedir saída de Mubarak
No 11º dia de protestos, manifestantes se reuniram e rezaram na praça Tahrir para protestar contra o governo
Da Redação
Publicado em 4 de fevereiro de 2011 às 15h46.
Cairo - Centenas de milhares de egípcios foram às ruas nesta sexta-feira para pedir a saída do presidente, Hosni Mubarak, no 11º dia de protestos, marcado pela presença de personalidades políticas, e enchendo de gente a praça símbolo da contestação no Cairo.
Estrela diplomática do mundo árabe, o chefe da Liga Árabe, Amr Moussa, muito popular no país, foi à praça Tahrir (Libertação) para ajudar na tarefa de "pacificação dos ânimos", segundo seu escritório.
Pela manhã, ele não excluiu a possibilidade de se apresentar à sucessão de Moubarak, que já disse não querer brigar por um novo mandato.
A manifestação estava sendo realizada em calma no Cairo, e os partidários do presidente, que provocaram os confrontos violentos de quarta e quinta-feiras, não estavam visíveis perto da praça, onde o exército mobilizou dezenas de veículos, que funcionaram como obstáculo.
O movimento de contestação, chamado de "Sexta-feira da Partida", esperava reunir um milhão de pessoas no país, no 11º dia de uma revolta que fez pelo menos 300 mortos e milhares de feridos, segundo a ONU.
Na praça Tahrir, dezenas de milhares de manifestantes participaram das preces de sexta-feira.
"Nascemos livres e vamos viver livres. Peço-lhes paciência, até a vitória", declarou o imã, identificado pelos fiéis como Khaled al-Marakbi, que chorou, como muitos outros, durante a oração pelos mortos.
Após a prece, os manifestantes escandiram a palavra "Irhal, irhal" (Vá embora, vá embora) em direção a Mubarak, que afirmou na terça-feira que não brigaria por um sexto mandato presidencial em setembro, depois de 30 anos no poder.
Para chegar à praça, onde milhares de pessoas passaram a noite, apesar do toque de recolher, os manifestantes precisaram atravessar um ponto de controle do exército e, depois, seis postos de passagem civis.
O ministro da Defesa, Mohamed Hussein Tantaui, foi pela manhã à praça para avaliar a situação, na primeira visita de um alto dirigente do regime, desde o começo da contestação.
"O homem já disse a vocês que não vai se apresentar", lançou à multidão, em relação a Mubarak.
"Se pararmos (o movimento), a vingança será terrível", reagiu um manifestante, Khaled Abdallah.
Numerosos egípcios haviam também respondido ao apelo à mobilização na província: eram dezenas de milhares em Alexandria (norte), 10.000 em Menoufiya (norte), 20.000 em Mahalla (delta du Nilo), 5.000 em Suez (leste), dezenas de milhares em Mansoura (delta do Nilo), 5.000 em Assiout (centro) e dezenas de milhares em Luxor (sud), segundo fontes da segurança.
A política aparente de espera do exército, que se comprometeu a não usar a força contra os manifestantes, sem se opor aos ataques contra eles, era motivo de muitas interrogações, com uma certeza, no entanto: seu papel será decisivo, seja qual for a saída da crise.
Em entrevista à jornalista Christiane Amanpour, no canal de televisão americano ABC, Mubarak disse que "estava cansado de ser presidente" mas que não podia deixar o cargo "por medo de que o país mergulhasse no caos".
A comunidade internacional continuava a fazer pressão sobre o presidente egípcio. Segundo The New York Times, os Estados Unidos discutem com dirigentes egípcios a possibilidade de Mubarak ceder o poder a um governo de transição dirigido pelo vice-presidente Omar Suleiman.
O guia supremo da Irmandade Muçulmana, principal força da oposição, Mohammed Badie, declarou que estava pronto ao diálogo com Suleiman, mas apenas após a partida de Mubarak.
Dois pequenos partidos, o Wafd (liberal) e o Tagammou (esquerda), aceitaram a oferta de diálogo de Suleiman.
O guia supremo do Irã, Ali Khamenei, cujo país mantém relações frias com o Cairo, devido ao tratado de paz assinado com Israel, fez um apelo a um regime islâmico no Egito.
Na quarta e na quinta-feira, confrontos violentos opuseram partidários do regime e os que são contra na praça Tahrir, fazendo pelo menos oito mortos e milhares de feridos, segundo fontes oficiais e médicas.
Dezenas de jornalistas estrangeiros foram agredidos, interrogados e intimidados nos últimos dias.