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Mesmo sem time em campo, a China marca golaços na Copa do Mundo

A China não participa de uma Copa do Mundo desde 2002. Em 2018, no entanto, se fez mais presente do que nunca. Entenda o que esse movimento significa

Neymar, jogador do Brasil, durante jogo da Copa do Mundo 2018: dos 19 patrocinadores oficiais do megaevento, sete são empresas chinesas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Neymar, jogador do Brasil, durante jogo da Copa do Mundo 2018: dos 19 patrocinadores oficiais do megaevento, sete são empresas chinesas (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 1 de julho de 2018 às 06h00.

Última atualização em 1 de julho de 2018 às 06h00.

São Paulo – Dalianda Wanda, Hinsense, Yadea são palavras que dizem pouco para os brasileiros que estão ligados na televisão durante os jogos na Copa do Mundo 2018 na Rússia. Estas são empresas chinesas de diferentes setores e sua aparição nas laterais dos campos dizem muito sobre a China, um país que sequer está participando deste que é o maior evento esportivo do planeta.

Aproveitando a lacuna deixada por grandes patrocinadores ocidentais, afugentados pelos recentes escândalos de corrupção envolvendo a poderosa Fifa, a China quer usar essa projeção para mexer nas peças do tabuleiro estratégico e geopolítico global, além de mostrar ao mundo que suas empresas estão prontas para competir com grandes marcas internacionais.

Os números da China nesta Copa do Mundo impressionam e sinalizam que esse movimento é mais do que mera empolgação com astros do futebol mundial.

Segundo a consultoria Zenith, em pesquisa divulgada pelo Quartz, o país que mais gastou com propaganda no torneio é a China (835 milhões de dólares) e ela é também a sede de sete dos 19 patrocinadores oficiais. E isso sem falar na quantidade de visitantes chineses, o oitavo maior público numa lista de dez países tradicionais no esporte como Alemanha, Argentina e Brasil.

A parceria com a Rússia, apesar das divergências históricas que marcaram o passado, está sendo fundamental. E essa é uma relação que vai muito bem, obrigado: o presidente chinês, Xi Jinping, presenteou o presidente russo, Vladimir Putin, com a primeira “Medalha da Amizade” já concedida pelo país.

“Essa aproximação tem um impacto profundo no espaço internacional”, avalia Luis Fernandes, professor do Instituto de Relações Internacionais (IRI) da PUC-Rio e especialista na reconfiguração das relações de poder do sistema internacional no pós-guerra fria.

“A China é o país de maior dinamismo econômico”, explica Fernandes, “e a Rússia controla um dos maiores arsenais nucleares do planeta”. Uma combinação que pode rearranjar as relações de poder num momento em que os Estados Unidos perdem cada vez mais influência. “A presença chinesa em megaeventos de projeção internacional, na forma das empresas ou pelo próprio estado, seguirá assertiva”, prevê o professor.

Boleiros chineses

Se no campo estratégico, os planos da China vão bem, no esportivo, ainda há muito o que ser feito, mas nada que já não esteja no radar de Xi, líder por tempo indeterminado. Fã de futebol, ele já anunciou que irá lançar a candidatura chinesa para disputa da sede do torneio em 2030 ou 2034 e que pretende tornar o país uma potência nesse quesito.

Neste ponto, a estratégia é tão ousada quanto aquela usada na geopolítica: o número de campos de futebol vai saltar de 11 mil para 70 mil; e 50 mil escolas irão privilegiar o ensino de futebol para formar, até 2025, 50 milhões de jogadores. O planejamento estatal chinês foi capaz de elevar o país a potência econômica. Se a China será tão bem sucedida no futebol quanto na economia, ainda é uma questão em aberto.

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