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Merkel pode se tornar líder do mundo livre após vitória de Trump

A visita de Barack Obama nesta quinta e sexta-feira a Berlim aumenta as expectativas depositadas na chanceler alemã

Merkel: "A eleição de Donald Trump faz com que Angela Merkel seja a última defensora dos valores humanistas do Ocidente", considerou o NYT (Fabrizio Bensch)
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AFP

Publicado em 16 de novembro de 2016 às 18h50.

A eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos com um discurso populista, o autoritarismo na Rússia e na Turquia e uma União Europeia em crise levam alguns especialistas a se perguntarem se Angela Merkel se tornará a nova "líder do mundo livre".

"A expressão 'líder do mundo livre' costuma ser aplicada ao presidente dos Estados Unidos, muitas vezes ironicamente. Eu me atreveria a dizer que a partir de agora a líder do mundo livre é Angela Merkel", considerou o historiador britânico Timothy Garton Ash, professor em Oxford, em uma coluna publicada no jornal britânico The Guardian.

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A visita de Barack Obama nesta quinta e sexta-feira a Berlim aumenta as expectativas depositadas na chanceler alemã, a quem qualificou de "provavelmente a aliada internacional mais próxima nos últimos oito anos".

O presidente em fim de mandato não se despedirá da Europa no Reino Unido, aliado tradicional de Washington, mas na Alemanha, como quem passa o bastão.

Quarto mandato

"A eleição de Donald Trump faz com que Angela Merkel seja a última defensora dos valores humanistas do Ocidente", considerou o The New York Times.

Para o jornal alemão de esquerda Taz, "a importância da chanceler aumentará e ela deve manter a coesão da UE, fazer frente a Putin e a Erdogan, além de controlar Donald Trump".

E isso porque Trump é partidário do princípio "America first" (Estados Unidos primeiro), inclusive nas relações transatlânticas.

As alternativas de liderança na Europa, enfraquecida com o aumento do populismo, não são muitas. O Reino Unido estará ocupado durante anos com o Brexit e a França e Itália atravessam crises econômicas internas.

Em contexto semelhante, os alemães dão como certo a candidatura de Merkel a um quarto mandato nas eleições legislativas de 2017.

"Ela se apresentará e atuará como uma líder responsável", declarou um membro de seu partido, Norbert Röttgen, à emissora CNN.

De fato, a popularidade da chanceler aumentou desde as eleições americanas e ela poderia anunciar suas intenções no domingo.

"Diante da repercussão da vitória eleitoral de Trump na Europa, pensará sem dúvidas que sua tarefa não está terminada e que deve continuar conduzindo a Europa", considerou Daniela Schwarzer, diretora do instituto de pesquisas alemão DGAP.

Margem de manobra limitada

Em sua mensagem parabenizando Donald Trump, Angela Merkel foi muito clara e o relembrou da importância dos valores democráticos.

"As expectativas (depositadas na Alemanha) para que façamos oposição às tendências antidemocráticas são uma responsabilidade histórica e espero que estejamos à altura", resumiu à AFP Stefani Weiss, especialista da fundação alemã Bertelsmann.

Com Donald Trump, a chanceler terá que enfrontar uma tendência de retirada de Washington.

"Sob a era de Obama já se viu uma distensão na relação transatlântica e que os Estados Unidos não querem e não podem mais ser os gendarmes do mundo", afirmou a analista.

Fica por ver qual será a margem de manobra de Merkel, cujo país não faz parte do Conselho de Segurança da ONU e que, apesar do envio recente de soldados ao Mali para lutar contra os extremistas islâmicos ou à Lituânia diante da ameaça russa, não é muito partidária das intervenções militares.

Diante das intenções de Donald Trump de melhorar as relações com o presidente russo Vladimir Putin, "a política pró-ocidental de Merkel a respeito da Rússia poderia acabar em desastre", avaliou o jornal alemão Die Welt.

Trump se choca com outros pilares de Merkel, como sua política migratória generosa, a defesa do livre comércio a nível mundial e a necessidade de lutar contra a mudança climática.

"A tarefa de Merkel se complicou infinitamente", advertiu Constanze Stelznmüller, analista da Fundação Robert Bosch, em uma coluna no Washington Post.

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