Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante entrevista à TV Verdes Mares. Fortaleza (CE) Foto: Ricardo Stuckert / PR
Estagiária de jornalismo
Publicado em 18 de dezembro de 2025 às 13h31.
Última atualização em 18 de dezembro de 2025 às 13h32.
O presidente Luiz Inacio Lula da Silva afirmou, nesta quinta-feira, 18, que a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, pediu paciência na finalização do acordo entre Mercosul e União Europeia.
"A Meloni me disse que não é contra o acordo, está apenas vivendo um embaraço político com os agricultores, mas que tem certeza de que consegue convencê-los. Ela pediu para que tivéssemos paciência, que em uma semana ou um mês estaria pronto", afirmou Lula em coletiva de imprensa.
O presidente também ressaltou que o acordo entre os blocos econômicos é debatido há 26 anos, e que o tratado será mais vantajoso para os europeus do que para os sulamericanos.
Na quarta-feira, 17 Meloni disse que "seria prematuro assinar o acordo nos próximos dias", em um discurso no Parlamento nesta quarta-feira, 17. "Todas as medidas, embora tenham sido apresentadas, não foram totalmente concluídas."
"Se não for possível assinar agora por não estar pronto, eu também não posso fazer nada. Vamos aguardar amanhã, a esperança é a última que morre", disse.
Além da Itália, a França também pede o adiamento do acordo, devido às pressões da classe agrícola do país. Lula disse que conversou com a primeira-dama Brigitte Macron para ela "abrir o coração do [presidente Emmanuel] Macron, para ele aceitar o acordo com o Brasil."
"Se nós tivermos capacidade de produzir carne melhor que eles, paciência. O francês tem o direito de escolher o que é melhor para ele. A novidade é a Itália", afirmou.
De acordo com o presidente brasileiro, a importância do acordo vai além da economia, sendo também politicamente relevante.
"Da parte Mercosul, está tudo resolvido, mesmo não ganhando tudo que gostaríamos de ganhar. O acordo é mais favorável à União Europeia do que a nós", afirmou Lula.
Ele também disse que, no Brasil, há resistência ao tratado. "Tem muita gente do setor empresarial que é contra o acordo, mas fizemos questão de convencê-los da importância dele. Como dirigentes, temos que fazer o que é importante."
O acordo, finalizado em 2024, deve ser levado à votação do Conselho Europeu nesta quinta-feira, no qual cada um dos 27 países da UE tem um voto. Para bloquear a aprovação, é preciso reunir ao menos quatro países que representem 35% da população do bloco.
Caso a Itália se alinhe à França, à Polônia e à Hungria, entre outros países, haveria votos suficientes para o bloqueio.
Já o apoio ao acordo é liderado pela Alemanha e pela Espanha, assim como pela Comissão Europeia.
Se não houver apoio suficiente, a votação poderá ser adiada pela Dinamarca, que preside o Conselho atualmente.
Caso a aprovação ocorra, o acordo será assinado no sábado, 20, durante a reunião de cúpula do Mercosul. A presidente da Comissão Europeia, Úrsula von der Leyen, planeja ir à Foz do Iguaçu, cidade do Paraná que recebe o evento, para oficializar o tratado.
Após a assinatura, começaria o processo de implantação do acordo, que prevê a retirada gradual das tarifas de importação, ao longo de 15 anos.
O tratado facilitará a circulação de produtos entre Brasil e Europa. Juntos, os blocos representam cerca de 718 milhões de pessoas e economias que somam aproximadamente US$ 22 trilhões.
Serão eliminadas as tarifas de importação para mais de 90% dos produtos vendidos entre os dois blocos. Para os demais, serão estabelecidas cotas de importação com isenção ou redução tarifária. A implementação das preferências tarifárias será gradual, com prazos de até 15 anos, dependendo do produto.
Se aprovado, o acordo pode gerar um crescimento de 2% na produção do agro brasileiro, o que representa um aumento de US$ 11 bilhões anuais, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
A expectativa é de que esse tratado permita ao Brasil ampliar suas exportações agrícolas para a Europa, com destaque para setores como carnes e óleos vegetais. Ao mesmo tempo, a Europa poderá vender mais produtos, como vinhos, azeites e automóveis. Cada produto terá uma redução de tarifa diferente, aplicada em uma escala de tempo específica.
Atualmente os produtos mais vendidos do Brasil para a Europa são: petróleo bruto, café e itens relacionados à soja. Do outro lado, o país compra mais vacinas, medicamentos e autopeças.