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Medalhista olímpico teme morrer ao retornar para casa

Ao cruzar a linha de chegada da maratona dos Jogos Olímpicos, atleta fez um poderoso protesto pela vida e a liberdade do maior grupo étnico da Etiópia

Feyisa Lilesa cruza a linha de chegada da maratona na Olimpíada: atleta protesta pela vida do povo Oroma, maior grupo étnico da Etiópia (Reuters)

Feyisa Lilesa cruza a linha de chegada da maratona na Olimpíada: atleta protesta pela vida do povo Oroma, maior grupo étnico da Etiópia (Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 23 de agosto de 2016 às 10h36.

São Paulo – Ao cruzar a linha de chegada da maratona da Olimpíada do Rio de Janeiro, Feyisa Lilesa, atleta da Etiópia, decidiu aproveitar os holofotes de uma das mais nobres provas do evento para fazer um poderoso protesto: com os braços cruzados em X sobre sua cabeça, ele mostrou o seu apoio aos Oroma, povo que vem sofrendo perseguições do governo do país.

A manifestação, no entanto, pode ter colocado o atleta no radar das autoridades da Etiópia, um dos países mais pobres e repressores do mundo. Em entrevista logo depois do fim da prova em que ficou com a medalha de prata, Lilesa disse à imprensa que corre riscos no retorno para sua terra natal. 

Eles vão me matar, prevê o maratonista, Oroma é a minha tribo, o povo Oroma protesta pelo que acha certo, pela paz, por um lugar, concluiu. Ainda segundo ele, só vive com liberdade em seu país aqueles apoiam o governo, sinalizando o grau de repressão sofridos por quem se opõe ao regime. Agora, o maratonista de 26 anos busca asilo em outro país para viver e treinar em segurança.

Oromas

O povo Oroma é o maior grupo étnico do país. Ele representa quase 35% da população, segundo dados de um censo realizado pelo governo em 2007, e é tradicionalmente formado por pequenos agricultores e pastores.

Embora tenham uma presença demográfica marcante na Etiópia, os Oroma vivem momentos de tensão contra o governo da Etiópia, que tenta há meses realocar a zona agrícola ocupada majoritariamente por eles nos arredores da capital Adis Abeba, que fica no estado de Oromia.

Desde então, o povo vem realizando uma série de protestos que são quase sempre esmagados com violência. No início do mês de agosto, por exemplo, entre 50 e 90 pessoas foram mortas por forças de segurança durante uma manifestação contra o governo e que foi chamada pelas autoridades de ilegal, como mostrou a rede Al-Jazeera.

A situação no país é delicada. Segundo um abrangente relatório divulgado pela organização não governamental Human Rights Watch (HRW), o contexto é ainda pior com os Oroma e seus protestos. De acordo com a entidade, desde novembro do ano passado, 400 pessoas morreram durante esses atos, enquanto dezenas foram presas e torturadas.

Uma investigação conduzida pela HRW revelou que as autoridades da Etiópia não poupam esforços em reprimir oposicionistas, que são presos de modo arbitrário e vem sofrendo cada vez mais com assédios em episódios de violação da liberdade de expressão.

No ano passado, essa repressão contra críticos se tornou evidente quando as eleições realizadas no país deram ainda mais poder ao partido Frente Democrática Revolucionária dos Povos Etíopes. De acordo com o que foi observado pela HRW, isso aconteceu em decorrência da falta de espaço de vozes dissonantes ou críticas do governo.

O vídeo abaixo, em inglês e sem legendas, mostra cenas que comprovam a violenta repressão dos protestos protagonizados pelos Oroma. A produção é da HRW e foi feita com base em entrevistas com testemunhas, vítimas e oficiais do governo local. Confira. 

https://youtube.com/watch?v=2k8XE4GY4a4%3Frel%3D0%26controls%3D0%26showinfo%3D0

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