Esta estudante de Haifa disse acreditar que o problema "não é apenas religioso", e considera que "a sociedade é muito patriarcal e que as mulheres são menos do que os homens" (©AFP/File / Gali Tibbon)
Da Redação
Publicado em 4 de maio de 2012 às 15h43.
Jerusalém - Dezenas de mulheres israelenses - e também alguns homens - marcharam nesta sexta-feira com poucas roupas pelo centro de Jerusalém para defender o direito de se vestirem como quiserem e para protestar contra as justificativas para o assédio que recebem.
Integrantes do movimento conhecido internacionalmente como "SlutWalk" ("Marcha das Vadias", no Brasil), as participantes percorreram as ruas do centro da parte ocidental da cidade diante da perplexidade de transeuntes e cantando lemas como "Basta! Culpem o estuprador", "Meu corpo é só meu" ou "Não significa não, que parte do "não" você não entendeu?".
O "SlutWalk" nasceu em abril do ano passado no Canadá depois que um policial de Toronto sugeriu que, para não sofrerem ataques, as mulheres deveriam "evitar se vestirem como putas".
"Israel não é diferente de outros países ocidentais na hipocrisia social e na maneira de controlar as mentes das mulheres", disse à Agência Efe a estudante e assistente social Diana, de 22 anos, que liderava sem complexos a manifestação vestindo um top justo.
Para a jovem, nascida em Jerusalém e filha de um venezuelano, trata-se de "um problema de dupla moral".
"A sociedade diz que precisamos ser bonitas e sexy de acordo com as normas, mas ao mesmo tempo nos acusam de sermos provocadoras e de usarmos nossa sexualidade para conseguir muitas coisas".
"Não é um problema só religioso, ou dos haredim (ultra-ortodoxos judeus). Os haredim só expressam o que está dentro da mente da maioria das pessoas na sociedade secular", disse Diana.
Em sua passagem pelo centro da cidade santa, as manifestantes, algumas delas protegendo os seios apenas com cartazes, se depararam com ultra-ortodoxos. Parte deles as observou com perplexidade, outra com irritação e reprovação. Os policiais que acompanharam o protesto tiveram que afastá-los em algumas ocasiões para que não enfrentassem as mulheres.
"É preciso se vestir com modéstia. Não me ofende a título pessoal que andem assim pelo centro da cidade, mas cada um tem que atuar de uma determinada forma para conseguir a salvação", afirmou Dov, um ultra-ortodoxo que incentivava as pessoas a rezar enquanto a manifestação passava pela repleta rua Ben Yehuda.
No entanto, para Rebeca Huge, uma israelense de 24 anos que participava do protesto, "a solução não é se vestir mais recatada, mas educar as pessoas que não importa a maneira de se vestir".
"Não é nada bom que tenhamos que ir com medo para a rua e que se alguém me disser ou fizer algo, ainda possa dizer: "é porque ela se viste como uma puta". Não, eu quero usar o que quiser e ele não pode me tocar", explicou Niva Lejtman, que levava um cartaz com a inscrição: "Um sorriso não é igual a um convite ao estupro".
Esta estudante de Haifa disse acreditar que o problema "não é apenas religioso", e considera que "a sociedade é muito patriarcal e que as mulheres são menos do que os homens".
A "SlutWalk" foi realizada em Jerusalém após ter passado em outras cidades israelenses de estilo de vida mais laico, como Haifa e Tel Aviv.
Na cidade santa, onde a religião e a comunidade ultra-ortodoxa estão muito mais presentes do que no resto do país, é preciso uma grande ousadia para participar de uma manifestação como esta. Uma de suas principais organizadoras foi Sarit, uma estudante que conseguiu reunir centenas de pessoas em um grupo no Facebook.
"Não existe desculpa ou razão alguma para assediar as mulheres, não importa como se vestem ou se comportam. Simplesmente queremos os mesmos direitos de qualquer homem", afirmou.