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Manipular partida de futebol é mais fácil do que fazer gol

O jornalista canadense Declan Hill chegou a escrever um livro sobre o assunto: "The Fix: Organized Crime and Soccer" ("A manipulação: crime organizado e futebol")

Partida de futebol: normalmente a corrupção começa na Ásia e é orquestrada com a cumplicidade de redes mafiosas do Leste Europeu. (Dino Panato/ Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 5 de fevereiro de 2013 às 16h25.

Paris - A manipulação de uma partida de futebol é quase uma brincadeira de criança. Normalmente, começa na Ásia, é orquestrada com a cumplicidade de redes mafiosas do Leste Europeu, e se espalha pelo mundo, até chegar aos campeonatos mais disputados.

Provocador, o jornalista canadense Declan Hill chegou a escrever um livro sobre o assunto. Publicada em 2008, a obra, intitulada "The Fix: Organized Crime and Soccer" ("A manipulação: crime organizado e futebol", em tradução livre) é considerada a bíblia para os investigadores da corrupção esportiva.

Mais recentemente, o prestigioso instituto francês de relações internacionais IRIS lançou relatório oficial em que reúne diversos documentos sobre o assunto. Tudo muito chocante!

"O mecanismo é clássico", afirma Christian Kalb, consultor especialista no universo de apostas. "Na base, temos o financiador que é, 99% das vezes, asiático. Ele trabalha com operadores, normalmente ilegais, com quem faz as apostas. Na Europa, esse financiador recruta homens que se encarregam do esquema de corrupção. Na maior parte das vezes são croatas ou, ao menos, pessoas da região balcânica."

Nos dois últimos emblemáticos casos de corrupção no futebol, o mandante era o mesmo: Dan Tan, "poderoso chefão" de Cingapura, que muitos suspeitam estar na origem do escândalo revelado pela Interpol nesta segunda-feira.

Ele esteve por trás do caso de mais de 300 partidas manipuladas especialmente na Alemanha e na Suíça, assim como o episódio ocorrido em 2011 e 2012 na Itália, que ficou conhecido como Calcioscommesse (aposta de futebol, em tradução literal). "Dan Tan é como um Bin Laden dos esportes", aponta Kalb. "Mas agir contra ele não é nada fácil".


Na Europa ou na América no Sul, os capangas de Dan Tan recrutam, primeiramente, intermediários. "Os contatos entre as duas partes não são diretos. Existem intermediários entre manipuladores e jogadores. São antigos treinadores ou ex-jogadores que gozam de boa reputação no meio e podem facilmente convencer seus seguidores", explica Declan Hill.

Normalmente, mais do que a tentação de ganhar alguma coisa, a chantagem é o melhor recurso para corromper um jogador: dependência de jogo, problemas com álcool, escândalos sexuais, adultério, casos de doping... Vale tudo para convencer um envolvido numa partida de futebol a influenciar o placar.

E quando há remuneração, ela pode chegar facilmente à casa dos 20 a 30 mil euros quando se trata de um grande campeonato.

"No início, não se pede necessariamente que o envolvido perca a partida, trata-se mais de uma jogada específica. Mas uma vez colocado o dedo na engrenagem, ele se torna mais influenciável e, assim, exige-se mais", explica Christian Kalb. "Um jogador pode agir assim durante toda sua carreira".

No Livro negro da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro), publicado em 2012, a entidade estimava que a taxa de jogadores abordados em alguns países do Leste poderia representar de 50% a 60% do total.


Neste quadro, normalmente o alvo dos manipuladores é o time mais fraco, "já que se uma equipe de pouca expressão perde de propósito, ninguém desconfia de nada", nota Hill. O interesse é, então, apostar em placares exatos. "Se o timinho perde de 7 a 1 em vez de 1 a 0, isso pode logo representar uma cota de 20 contra 1. Para 100 mil euros, ganha-se 2 milhões!", calcula Christian Kalb.

Na pesquisa que realizou nos países do Leste europeu, o instituto francês IRIS também constatou que a cada cinco jogos corrompidos, quatro terminavam com o placar "encomendado".

Nesse ponto, cabe ao financiador colocar para funcionar sistemas de apostas dispersos em vários operadores, legais ou não, para diluir as quantias e passar por controles cada vez mais sensíveis às grandes apostas. Em geral, o financiamento é feito com dinheiro sujo, e a operação possibilita sua lavagem. Mas aí é outra história...

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Paris - A manipulação de uma partida de futebol é quase uma brincadeira de criança. Normalmente, começa na Ásia, é orquestrada com a cumplicidade de redes mafiosas do Leste Europeu, e se espalha pelo mundo, até chegar aos campeonatos mais disputados.

Provocador, o jornalista canadense Declan Hill chegou a escrever um livro sobre o assunto. Publicada em 2008, a obra, intitulada "The Fix: Organized Crime and Soccer" ("A manipulação: crime organizado e futebol", em tradução livre) é considerada a bíblia para os investigadores da corrupção esportiva.

Mais recentemente, o prestigioso instituto francês de relações internacionais IRIS lançou relatório oficial em que reúne diversos documentos sobre o assunto. Tudo muito chocante!

"O mecanismo é clássico", afirma Christian Kalb, consultor especialista no universo de apostas. "Na base, temos o financiador que é, 99% das vezes, asiático. Ele trabalha com operadores, normalmente ilegais, com quem faz as apostas. Na Europa, esse financiador recruta homens que se encarregam do esquema de corrupção. Na maior parte das vezes são croatas ou, ao menos, pessoas da região balcânica."

Nos dois últimos emblemáticos casos de corrupção no futebol, o mandante era o mesmo: Dan Tan, "poderoso chefão" de Cingapura, que muitos suspeitam estar na origem do escândalo revelado pela Interpol nesta segunda-feira.

Ele esteve por trás do caso de mais de 300 partidas manipuladas especialmente na Alemanha e na Suíça, assim como o episódio ocorrido em 2011 e 2012 na Itália, que ficou conhecido como Calcioscommesse (aposta de futebol, em tradução literal). "Dan Tan é como um Bin Laden dos esportes", aponta Kalb. "Mas agir contra ele não é nada fácil".


Na Europa ou na América no Sul, os capangas de Dan Tan recrutam, primeiramente, intermediários. "Os contatos entre as duas partes não são diretos. Existem intermediários entre manipuladores e jogadores. São antigos treinadores ou ex-jogadores que gozam de boa reputação no meio e podem facilmente convencer seus seguidores", explica Declan Hill.

Normalmente, mais do que a tentação de ganhar alguma coisa, a chantagem é o melhor recurso para corromper um jogador: dependência de jogo, problemas com álcool, escândalos sexuais, adultério, casos de doping... Vale tudo para convencer um envolvido numa partida de futebol a influenciar o placar.

E quando há remuneração, ela pode chegar facilmente à casa dos 20 a 30 mil euros quando se trata de um grande campeonato.

"No início, não se pede necessariamente que o envolvido perca a partida, trata-se mais de uma jogada específica. Mas uma vez colocado o dedo na engrenagem, ele se torna mais influenciável e, assim, exige-se mais", explica Christian Kalb. "Um jogador pode agir assim durante toda sua carreira".

No Livro negro da Federação Internacional dos Jogadores Profissionais de Futebol (FIFPro), publicado em 2012, a entidade estimava que a taxa de jogadores abordados em alguns países do Leste poderia representar de 50% a 60% do total.


Neste quadro, normalmente o alvo dos manipuladores é o time mais fraco, "já que se uma equipe de pouca expressão perde de propósito, ninguém desconfia de nada", nota Hill. O interesse é, então, apostar em placares exatos. "Se o timinho perde de 7 a 1 em vez de 1 a 0, isso pode logo representar uma cota de 20 contra 1. Para 100 mil euros, ganha-se 2 milhões!", calcula Christian Kalb.

Na pesquisa que realizou nos países do Leste europeu, o instituto francês IRIS também constatou que a cada cinco jogos corrompidos, quatro terminavam com o placar "encomendado".

Nesse ponto, cabe ao financiador colocar para funcionar sistemas de apostas dispersos em vários operadores, legais ou não, para diluir as quantias e passar por controles cada vez mais sensíveis às grandes apostas. Em geral, o financiamento é feito com dinheiro sujo, e a operação possibilita sua lavagem. Mas aí é outra história...

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