Manifestantes pró-democracia se aglomeram na região central de Hong Kong (Carlos Barria/Reuters)
Da Redação
Publicado em 17 de outubro de 2014 às 11h05.
Hong Kong - Os manifestantes em Hong Kong se negaram a sair das áreas que tinham sido esvaziadas na madrugada de hoje pela polícia e reconstruíram as barricadas desmontadas pelas forças de segurança para seguir com a luta por democracia, que já completa 20 dias.
O corpo policial, do qual participaram centenas de agentes, começou a reestabelecer nas primeiras horas desta sexta-feira o trânsito no bairro de Mong Kok, e agora topa com centenas de manifestantes que ameaçam remontar as barricadas e voltar com o movimento pró-democrático para as ruas.
Antes mesmo de amanhecer, vários agentes, protegidos pelas equipes antidistúrbios, rodearam cerca de 50 manifestantes que passavam a noite na rua, enquanto centenas de policiais começavam a retirar as barricadas, tendas, guarda-chuva e até santuários que tinham sido instalados no populoso bairro de Mong Kok.
Os agentes utilizaram caminhões com guindastes para retirar os assentamentos dos manifestantes e, em menos de duas horas, o tráfego voltava a circular pelo bairro após quase três semanas desde que o movimento Occupy tomou vários cruzamentos na principal via deste bairro para exigir ao governo uma democracia de fato em 2017, data prevista para as eleições da ilha.
Para muitos, Mong Kok é um símbolo do movimento, um bairro de classe operária, alta atividade comercial e que conta com uma das maiores taxas de densidade populacional do mundo, que deu abrigo a manifestantes de todas as idades e camadas sociais.
"Mong Kok é o símbolo deste protesto, aqui chegam diariamente milhares de pessoas, a maioria chinesa da parte continental, explicamos como é seu governo e como podemos nos defender dele; por essa razão o movimento não deve abandonar estas ruas", explicou à Agência Efe Antonio Lu, um programador de jogos de computador que mora na região.
Ele está entre os 50 manifestantes que, no início da manhã, tomaram a Rua Nathan, - a via que atravessa o distrito de Kowloon -. A eles foram se somando mais cidadãos, que voltaram a instalar tendas, obrigando os agentes a isolar um espaço para eles na rua. Nesta situação, voltaram a se produzir novos e contínuos enfrentamentos entre manifestantes e opositores ao movimento pró-democrático.
"A polícia os tirou nesta manhã. Não deveriam estar aí de novo. Queremos nosso bairro para nós e não para um grupo de estudantes que não têm nada mais para fazer", declarou à Efe Miriam Leng, funcionária de um salão de beleza local.
A de Mong Kok é a terceira operação policial efetuada em três dias para restabelecer o trânsito nas zonas ocupadas pelo movimento Occupy, que reivindica a livre escolha de candidatos para as eleições ao chefe do governo de Hong Kong para 2017.
Além disso, se produz um dia depois de o chefe do Executivo local, Leung Chun-Ying, anunciar que o governo se dispõe a dialogar com os estudantes, apesar de insistir que não se pode reformar o sistema de eleição previsto por Pequim, pelo qual os cidadãos de Hong Kong elegerão seu líder entre candidatos pré-selecionados pelo regime.
O movimento Occupy Central, uma das três cabeças visíveis dos protestos pró-democráticos, pôs em dúvida a sinceridade mostrada ontem pelo governo para o diálogo depois que ordenou o despejo de Mong Kok, conforme relata a imprensa local.
"Não é razoável que o governo exija aos estudantes primeiro abandonar suas posições antes de começar o diálogo", indica o texto.
O Executivo de Hong Kong fixou para a próxima semana o início do diálogo entre as autoridades e os estudantes sobre a reforma eleitoral, um debate que tende a ser difícil, pois ambos os lados partem de frentes opostas.