Mianmar: tensão entre a maioria budista e os rohingyas, a maioria dos quais não tem direito à cidadania, é latente há décadas (Cathal McNaughton/Reuters)
Reuters
Publicado em 21 de setembro de 2017 às 09h49.
Sittwe, Mianmar - Manifestantes budistas de Mianmar atiraram coquetéis molotov para tentar impedir o envio de um carregamento de ajuda humanitária a muçulmanos rohingyas no Estado de Rakhine, onde a Organização das Nações Unidas (ONU) acusou os militares do país de promoverem um limpeza étnica.
Centenas de manifestantes se envolveram no esforço para impedir que funcionários da Cruz Vermelha carregassem um barco com suprimentos de ajuda, até a polícia atirar para o alto para dispersá-los.
O incidente da noite de quarta-feira refletiu a animosidade crescente e coincidiu com o momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pediu um final aos episódios de violência, que causaram preocupação a respeito da transição democrática de Mianmar.
O carregamento de ajuda partiria para o norte de Rakhine, onde ataques de insurgentes rohingyas em 25 de agosto provocaram uma repressão militar.
A violência forçou mais de 420 mil muçulmanos rohingyas a fugirem para a vizinha Bangladesh, mas muitos permanecem em Mianmar, escondendo-se por puro medo e sem alimento e outros suprimentos, disseram agentes humanitários.
Várias centenas de pessoas tentaram deter um barco carregado com cerca de 50 toneladas de auxílio em um cais de Sittwe, a capital de Rakhine, segundo o escritório de informação do Estado.
"As pessoas pensaram que a ajuda era só para os bengalis", disse o secretário do governo estadual, Tin Maung Swe, à Reuters, usando um termo que os rohingyas consideram ofensivo.
Os manifestantes, alguns empunhando varas e barras de metal, atiraram coquetéis Molotov, e cerca de 200 policiais foram obrigados a dispersá-los disparando para o alto, relataram uma testemunha e o escritório de informação do governo.
A testemunha disse ter visto algumas pessoas feridas. Oito pessoas foram detidas, segundo o escritório de informação. Nenhum dos agentes humanitários ficou ferido, disse uma porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV).
A tensão entre a maioria budista e os rohingyas, a maioria dos quais não tem direito à cidadania, é latente há décadas em Rakhine, mas degenerou em violência várias vezes nos últimos anos, quando antigas inimizades vieram à tona ao final de décadas de controle militar.
Os confrontos mais recentes começaram em agosto, quando insurgentes rohingyas atacaram cerca de 30 postos da polícia e um acampamento do Exército, matando cerca de 12 pessoas.
O governo de Mianmar afirma que mais de 400 pessoas, a maioria insurgentes, foram mortas desde então.