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Manifestações anti-Islã preocupam a Alemanha

Os protestos anti-Islã continuam a crescer na antiga Alemanha Oriental, e as autoridades estão preocupadas com a imagem do país

Manifestante participa de protesto anti-Islã em 5 de janeiro de 2015, em Berlim (Odd Andersen/AFP)

Manifestante participa de protesto anti-Islã em 5 de janeiro de 2015, em Berlim (Odd Andersen/AFP)

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Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2015 às 22h27.

Berlim - Os protestos anti-Islã continuam a crescer em Dresden, na antiga Alemanha Oriental, e as autoridades estão preocupadas com a imagem do país, apesar da mobilização antirracista que se manifesta em escala nacional.

Em um país até hoje marcado por seu passado nazista e que busca atrair imigrantes para compensar seu declínio demográfico, a multiplicação de manifestações xenófobas das últimas semanas provocou um levante geral sem precedentes, que contagiou políticos, meios de comunicação, homens de negócios e vários cidadãos, tanto nas redes sociais quanto nas ruas, todos mobilizados contra a islamofobia.

"A Alemanha virou um arco-íris, não deixemos que volte a ser preta e branca", exclamava nesta terça-feira o jornal Bild, ao publicar uma petição de 50 personalidades, que dizem "Não ao Pegida", acrônimo em alemão para o movimento "Europeus patriotas contra a Islamização do Ocidente", ao qual se opõem, entre outros, dois ex-chanceleres social-democratas, Gerhard Schröder e Helmut Schmidt.

Oliver Bierhoff, coordenador-técnico da seleção alemã de futebol, campeã do mundo, elogiou, em artigo no jornal mais lido da Europa, as virtudes da integração, fazendo coro a artistas e eclesiásticos.

Entre os partidários estão sete ministros do governo atual. O titular da pasta das Finanças, Wolfgang Schäuble, escreveu, em seu comentário: "as palavras não substituem os fatos, a Alemanha precisa dos imigrantes".

A décima primeira marcha celebrada, na noite de domingo na capital da Saxônia, pelo autodenominado grupo Pegida, reuniu 18.000 participantes, segundo a polícia. Um recorde desde que o movimento começou em outubro. Mas o movimento ficou concentrado e os "anti-Pegida" foram bem mais numerosos em escala nacional.

Milhares de manifestantes anti-Pegida foram às ruas de Colônia (sul), onde a catedral teve as luzes apagadas em sinal de protesto contra um movimento denominado de xenófobo. Em Berlim, a iluminação do Portão de Brandeburgo também foi desligada e 5.000 contra-manifestantes foram mobilizados.

Em seu discurso de Ano Novo, a chanceler alemã, Angela Merkel criticou os líderes do movimento anti-Islã, criticando pessoas com o "coração" cheio de "preconceito" e de "ódio".

"O Pegida não prejudica apenas o nosso país, mas dá uma imagem negativa da Alemanha no exterior", declarou o chefe da diplomacia alemã, Frank-Walter Steinmeier, em tuítes publicados por seu ministério, inclusive em inglês.

Os empresários também se mostram inquietos. "A impressão que manifestamos no nosso país contra os estrangeiros prejudica a Alemanha", afirmou Ingo Kramer, presidente da Federação de Empregadores.

Bode expiatório

Na marcha celebrada na noite de segunda-feira, em Dresden, entre alguns poucos 'skinheads', destacaram-se cidadãos comuns, a maioria de pessoas mais velhas, exibindo bandeiras e, às vezes, crucifixos com as cores da Alemanha.

Estes manifestantes afirmam se sentir ameaçados pela imigração nesta região da antiga Alemanha oriental, que abriga não mais que 2,2% de habitantes de origem estrangeira, um dos percentuais mais baixos do país.

Mesmo sendo minoritário, este movimento deixa constrangida uma Alemanha marcada pela ideologia racista da ditadura nazista, por sua responsabilidade no extermínio de judeus e que busca apresentar uma face de abertura ao mundo.

"Justamente na Alemanha devemos ter o ouvido sensível quando uma minoria religiosa se torna o bode expiatório dos problemas da sociedade", destacou Werner Schiffhauer, professor universitário e presidente do Conselho de Migrações, que reúne pesquisadores sobre este tema.

"Aqui, onde no passado, dissemos lutar contra a judaização da sociedade alemã, falamos hoje de uma 'islamização do Ocidente', assombrada por uma propaganda que se fecha a qualquer razão", reforçou.

"Precisamos de uma nova representação da Alemanha", avaliou Naika Foroutan, socióloga da Universidade Humbolt, de Berlim. "Durante tempo demais, a mensagem com a qual nos acostumamos foi a de que a Alemanha não era um país de imigração, enquanto a Alemanha, na verdade, era", declarou à televisão.

Em 1983, o mapa do caminho do governo formado pelos conservadores seguidores de Helmut Kohl e os liberais do FDP dizia: "a Alemanha não é um país de imigração". Atualmente, um em cada cinco moradores da Alemanha é de origem estrangeira, segundo o Escritório de Estatísticas alemão e o país se tornou, em 2012, no principal destino de imigração da Europa, recebendo naquele ano 400 mil novos habitantes, segundo a OCDE.

O país também é o principal destino das pessoas que pedem asilo na Europa. Desde o começo de 2014, a Alemanha acolheu 180.000 refugiados (um aumento de 57% com relação ao mesmo período de 2013).

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