EXAME.com (EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 13 de junho de 2013 às 07h48.
Caracas - Apenas cinco meses após ter realizado suas últimas eleições presidenciais, a Venezuela se encontra atualmente imersa em uma nova campanha eleitoral, mais intensa e frontal, que se antecipou ao seu início formal devido ao cronograma curto e sem exigências do poder eleitoral.
Embora o próximo dia 2 de abril seja a data oficialmente marcada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) para iniciar a campanha, o presidente interino, Nicolás Maduro, e o candidato opositor, Henrique Capriles, há dias se lançaram à caça de votos por todo o país em uma 'campanha de fato' com um claro clima de confronto, concordaram os analistas consultados pela Efe.
'O tempo é breve e nenhum dos dois candidatos tem tempo a perder', considerou a doutora em Ciências Políticas, Elsa Cardozo.
Para a acadêmica, o reduzido tempo transcorrido desde que no dia 9 de março foi convocada a eleição de 14 de abril foi marcado por uma campanha 'motivadora do voto, tanto do lado do chavismo pela ausência de (Hugo) Chávez como do lado da oposição pela perda das presidenciais de outubro e das regionais de dezembro'.
Buscando combater a abstenção, Capriles e Maduro percorrem até três estados por dia com assembleias cidadãs, comícios políticos e caminhadas por bairros, contrastando com os atos reduzidos de Chávez em outubro por conta de seus problemas de saúde.
Não só o cronograma de campanha, de apenas nove dias (de 2 a 11 de abril) torna peculiar esta eleição presidencial, mas também as circunstâncias excepcionais na qual foi convocada: após a morte no último dia 5 do presidente Hugo Chávez, que pela primeira vez em 14 anos não estará à frente da campanha governista.
'Esta é uma campanha eleitoral bastante intensa onde há elementos inovadores e elementos surpreendentes', comentou o professor de Ciências Políticas da Universidad Central da Venezuela (UCV), Nicmer Evans.
Como inovador está justamente o fato de que Chávez não é o candidato presidencial o que, segundo Evans, 'injeta uma condição muito particular à campanha porque as pessoas estão na expectativa de ver qual é a atitude de Maduro'.
E, para o analista político, o elemento surpreendente é a mudança de discurso de Capriles com relação ao que usou em outubro perante Chávez.
'Que o estilo de campanha de Chávez e Maduro seja de um tom elevado, quase raivoso e irreverente, isso não é nada surpreendente, mas surpreende que isto também seja assumido por um candidato que tinha uma estratégia 'gandhista'', declarou.
Com a vantagem de ter uma campanha presidencial no currículo e de não enfrentar agora o invicto e carismático líder bolivariano, Capriles optou por desafiar diretamente Maduro e usa uma dialética mais frontal para desentranhar 'as verdades' do país como a insegurança e os altos índices de inflação e escassez.
'Capriles tem o desafio de combinar esse estilo mais firme, confrontador do entorno do presidente, com o cuidado com o que foi sua essência como candidato de governar para todos os venezuelanos e não dividir com seu discurso', disse Cardozo.
A respeito de Maduro, a analista também observa uma mudança de tom de quem foi durante seis anos o ministro das Relações Exteriores de Chávez, caracterizado por um tom 'conciliador' e que agora passou a um 'estilo mais ofensivo que parece forçado'.
Assim como fazia Chávez, Maduro protagoniza longas horas de transmissões televisivas para 'tentar projetar ele mesmo', considerou Cardozo, tentando imprimir um estilo pessoal de marido e pai de família, enfatizando seu passado humilde como motorista de ônibus, embora sempre sob a sombra de Chávez.
'Nicolás tem um estigma, que é eternamente ser comparado com o presidente. Sua grande luta, que já está conseguindo transmitir, é fazer entender que ele não é Chávez, mas condutor de seu legado de uma visão mais coletiva', ponderou Evans.
Com um recesso pela Semana Santa, a pré-campanha eleitoral começa a contar os dias para elevar-se oficialmente à categoria de campanha, quando o CNE iniciará seus trabalhos de ente reitor.
'O único motivo pelo qual o CNE poderia ser criticado é o fato de não ter definido claramente as datas de campanha eleitoral', declarou Evans ao assinalar que estes quase 15 dias de atividades foram praticamente 'um limbo eleitoral'. EFE