Maggi: "Mudamos muitas coisas e já estamos aperfeiçoando o nosso sistema" (Victor Moriyama/Bloomberg)
AFP
Publicado em 19 de outubro de 2017 às 20h08.
O ministro de Agricultura, Pecuária e Abastecimento Blairo Maggi disse, nesta quinta-feira (19), em entrevista à AFP, ter se surpreendido ao ver a França usar o escândalo da Carne Fraca, deflagrado em março deste ano, nas negociações de um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
"Para mim, foi uma grande surpresa quando o novo embaixador da França disse que o Brasil não fez nada depois da Carne Fraca", disse Maggi.
"Pelo contrário. Nós tomamos muitas atitudes, mudamos muitas coisas e já estamos aperfeiçoando o nosso sistema (de controle sanitário). Isso demonstra um desconhecimento daquilo que aconteceu" por parte do embaixador, acrescentou.
O novo embaixador francês em Brasília, Michel Miraillet, tinha dito à imprensa brasileira que autoridades locais não tinham feito nada para garantir a qualidade dos produtos depois do escândalo.
Questionada pela AFP, a embaixada da França disse lamentar que as declarações sobre a carne adulterada tenham sido divulgadas "fora de seu contexto global".
Uma porta-voz disse que Miraillet tinha declarado aos jornalista que "apesar de a investigação ligada ao escândalo revelar um bom funcionamento da democracia brasileira, lhe parecia que o Brasil não tinha compreendido corretamente a dimensão da amplitude do impacto que o escândalo teve nos países europeus".
A porta-voz ainda disse que Miraillet tinha "insistido no fato de que essas preocupações com a segurança alimentar se tornaram muito importantes para a população europeia, inclusive a francesa".
Maggi garantiu que a Carne Fraca é uma página virada, mas afirmou ter ficado surpreso com a postura de Miraillet de trazer isso para as negociações.
"Estão querendo colocar uma coisa na mesa que nós, brasileiros e o Mercosul, devemos rechaçar", afirmou.
A pedido do presidente francês, Emmanuel Macron, a cúpula da UE deve discutir sua política comercial nesta quinta-feira. Macron pede para o bloco ser mais protecionista, em meio à fase crucial das negociações de um acordo com Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
Na entrevista, Maggi também disse que o bloqueio brasileiro aos laticínios uruguaios só será interrompido quando o país vizinho provar a origem de seus produtos.
"Estamos fazendo uma verificação de denúncias que recebemos. No momento que o Uruguai apresentar as documentações necessárias que o Brasil está pedindo, nós vamos fazer a liberação", declarou o ministro à AFP.
"Nós não temos grandes motivos para fazer todo esse embargo".
O governo tomou essa medida após denúncias de produtores de que os laticínios uruguaios são provenientes de uma triangulação, o que lhes permite entrar no mercado com um preço baixo, que prejudica a concorrência.
"Tomamos uma providência e seguramos o leite do Uruguai até que ele mostre pra gente que o leite que estão produzindo lá é leite oriundo de Uruguai", disse o ministro. "Na hora em que comprovar isso, eu não tenho mecanismos para segurar", explicou.
"Eu gostaria muito de um sistema de cota. Eu não quero diminuir a quantidade de leite que entra do Uruguai. Só ter uma previsibilidade de quanto entra todos os meses", afirmou.
Contudo, o fim do bloqueio não está sujeito à criação das cotas, disse, mas à comprovação de que o leite que o Uruguai exporta é efetivamente produzido ali e não na Argentina e na Nova Zelândia, como alegam alguns representantes do setor no Brasil.
Montevidéu protesta contra a medida e garante que "é impossível fazer uma triangulação", segundo o chanceler uruguaio Rodolfo Nin Novoa.