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Maduro, o sobrevivente da crise venezuelana que permanece no poder

Apesar da impopularidade, Maduro venceu o opositor dissidente do chavismo, Henri Falcón, que enfrentou o pedido de abstenção feito pelos partidos opositores

Venezuela: Maduro recebeu 67,7% dos votos, contra 21,2% de seu principal rival, Henri Falcón (Carlos Garcia Rawlins/Reuters)
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AFP

Publicado em 21 de maio de 2018 às 09h54.

Muitos apostavam que cairia de um momento para outro. Durante seu governo, a Venezuela viveu uma das piores crises de sua história. Mas Nicolás Maduro , reeleito no domingo (21), aferra-se obstinadamente ao poder sem levar em consideração os que o chamam de "ditador".

Este ex-motorista de ônibus de 55 anos, corpulento e com um marcante bigode, governará por mais seis anos a partir de janeiro de 2019, depois de receber 67,7% dos votos, contra 21,2% de seu principal rival, Henri Falcón, que não reconheceu os resultados.

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"Voltamos a ganhar (...), somos a força da história convertida em vitória popular permanente", disse ao proclamar seu triunfo nas questionadas eleições antecipadas pelo governo. Os resultados não foram reconhecidos pelos Estados Unidos, União Europeia e vários países latino-americanos.

"Sua autoridade nasce herdada de Chávez (presidente de 1999 até sua morte, em março de 2013). Mas agora temos um Maduro diferente, que sabe que é forte e é mais agressivo", disse à AFP o diretor do instituto de pesquisas Delphos, Félix Seijas.

Durante seu governo, a Venezuela sofreu ondas de protestos que deixaram 200 mortos, a derrocada socioeconômica e o isolamento internacional.

"Há cinco anos, eu era um novato. Hoje, sou um Maduro de pé, experiente com a batalha, que enfrentou a oligarquia e o imperialismo. Aqui estou: mais forte do que nunca", descreveu-se durante a campanha.

Seus adversários, os Estados Unidos e outros países o acusam de empurrar o país para o abismo com medidas econômicas disparatadas, de submeter o povo à fome e de ser um "ditador", sustentado por militares.

Diz ser um "presidente democrático" e "vítima" dos Estados Unidos e da "guerra econômica da direita", à qual culpa pela hiperinflação e pela falta de alimentos.

Apesar de sua impopularidade de 75%, segundo as pesquisas, venceu o opositor dissidente do chavismo Falcón, que enfrentou a máquina oficial e os pedidos de abstenção dos maiores partidos opositores que consideraram a eleição uma "farsa".

Metamorfose

Ungido por Chávez para liderar a "revolução bolivariana", Maduro venceu a eleição presidencial por muito pouco, em abril de 2013, contra o opositor Henrique Capriles, inabilitado politicamente em 2017.

Dois anos depois, sofreu um duro golpe, quando a oposição arrasou nas legislativas. Mas reverteu a derrota e, desde agosto de 2017, conta com uma Assembleia Constituinte de poder absoluto.

Chávez, a quem conheceu em 1993, o considerava um verdadeiro "revolucionário". Mas adversários e ex-companheiros o acusam de enriquecer empresários amigos e a cúpula militar. "Será madurista, mas não chavista", disse à AFP Ana Elisa Osorio, ex-ministra chavista.

"Foi subestimado pelos opositores e por muitos chavistas. Mas soube aproveitar os erros de uns e de outros, conseguindo anular seus adversários dentro e fora do chavismo", comentou Andrés Cañizalez, pesquisador em comunicação política.

Um deles - observou - é Rafael Ramírez, ex-presidente da petroleira PDVSA, homem de confiança de Chávez e potencial aspirante presidencial, que foi retirado da embaixada da ONU, acusado de corrupção.

"Maduro passou por uma metamorfose e estas eleições culminam esse processo: poderíamos estar passando do chavismo ao 'madurismo'. Sem dúvida, está apontando para consolidar um espaço de poder autônomo", acrescentou Cañizalez.

Seijas acredita que tem sido "um grande equilibrista que conseguiu manter uma distribuição das cotas de poder" no chavismo.

Vamos, Nico!

Sem o carisma de Chávez, Maduro tentou imitá-lo em longas aparições diárias na TV, com a fala popularesca e a retórica anti-imperialista. Mas passou a construir sua própria imagem.

Ele se declara um "operário", dirige sua caminhonete, ri de seu inglês ruim e de quem o chama de "Ma'burro" por suas mancadas frequentes, dança salsa, bolero e reggaeton, e é muito ativo nas redes sociais.

Seu discurso moderado e capacidade negociadora como sindicalista, chanceler e vice-presidente de Chávez, mudou para os acalorados discursos contra seus adversários, a quem critica e insulta sem pudores.

Declara-se católico, é fã de beisebol e, na adolescência, foi guitarrista de uma banda de rock. Seus opositores asseguram que nasceu na Colômbia, mas ele insiste que é de Caracas.

É casado com a ex-procuradora Cilia Flores, a quem chama de "primeira combatente" e com quem dança frequentemente nos comícios. É pai de "Nicolasito", membro da Assembleia Constituinte de 27 anos, fruto de um casamento anterior.

Teve formação comunista em Cuba nos anos 1980 e viaja com frequência à ilha.

Tentando renovar sua imagem, o mote "Vamos Nico" se impôs em sua campanha, enquanto diminuíram as referências ao seu mentor.

Em 2013, o jingle da campanha dizia: "Chávez para sempre, Maduro presidente. Chávez, eu te juro, meu voto é de Maduro".

Hoje, o refrão de um reggaeton chiclete afirma: "Todos com Maduro, lealdade e futuro. O povo manda com Maduro".

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