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Maduro comemora Constituinte e zomba de críticas dos EUA

O presidente da Venezuela insiste que a nova Assembleia irá trazer paz depois de quatro meses de manifestações que deixaram mais de 120 mortos

Venezuela: países de toda as Américas, assim como União Europeia, criticaram a criação da Assembleia, que terá o poder de reescrever a Constituição (Miraflores Palace/Reuters)

Venezuela: países de toda as Américas, assim como União Europeia, criticaram a criação da Assembleia, que terá o poder de reescrever a Constituição (Miraflores Palace/Reuters)

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Reuters

Publicado em 31 de julho de 2017 às 12h10.

Caracas - O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, comemorou nesta segunda-feira a eleição de uma Assembleia Constituinte que deve dar amplos poderes ao governista Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), e zombou das críticas dos Estados Unidos de que a votação foi uma afronta à democracia.

Ao menos 10 pessoas foram mortas durante protestos realizados no domingo por opositores do impopular presidente de esquerda venezuelano, que insiste que a nova Assembleia irá trazer paz depois de quatro meses de manifestações que deixaram mais de 120 mortos.

Países de toda as Américas, assim como União Europeia, criticaram a criação da Assembleia, que terá o poder de reescrever a Constituição.

Os EUA --o principal mercado para o petróleo do país-membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep)-- classificaram a votação como uma fraude, e autoridades de Washington disseram estar preparando sanções contra o setor de petróleo venezuelano.

"Um porta-voz do imperador Donald Trump disse que eles não reconhecerão os resultados da eleição da Assembleia Constituinte da Venezuela", disse Maduro a uma plateia de apoiadores entusiasmados após a conclusão do pleito.

"Por que diabos deveríamos nos importar com o que Trump diz?", acrescentou. "Nós nos importamos com o que o povo soberano da Venezuela diz".

Os críticos de Maduro caracterizaram a eleição como uma tomada de poder descarada com o intuito de mantê-lo no comando, apesar do repúdio despertado por uma crise econômica que está provocando desnutrição e tornando difícil para os cidadãos obterem produtos básicos na nação de cerca de 30 milhões de habitantes.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) disse que 8,1 milhões de eleitores foram às urnas no domingo. A oposição estimou que só 2,5 milhões de votos foram depositados.

Aliados do PSUV obtiveram 545 assentos na nova Assembleia, que terá o poder de reescrever a Constituição, dissolver instituições estatais, como o Congresso atualmente dominado pela oposição, e demitir funcionários dissidentes.

Maduro prometeu que a nova Assembleia irá "reestruturar" rapidamente a Procuradoria-Geral. A atual procuradora-geral, Luisa Ortega, criticou duramente o plano de convocação da Constituinte.

Líderes da oposição rejeitaram a votação, que também viram como uma fraude, e pediram a seus apoiadores que voltassem a protestar a partir do meio-dia.

"A Assembleia Constituinte não irá resolver nenhum dos problemas do país, só significa mais crise", disse o líder oposicionista Henrique Capriles em uma coletiva de imprensa, pedindo uma nova rodada de protestos ao meio-dia desta segunda-feira.

"A partir de amanhã, uma nova etapa da luta começa", afirmou Capriles.

Nações latino-americanas repudiaram a votação. Várias se recusaram a reconhecer os resultados, e a UE se uniu à condenação.

A UE disse que a Assembleia Constituinte não pode ser parte da solução negociada para a crise do país, observando que foi eleita sob circunstâncias dúbias e muitas vezes violentas.

No domingo, o número 2 do PSUV, Diosdado Cabello, insinuou que a Constituinte realizará sessões no mesmo palácio legislativo do atual Congresso, que a oposição conquistou em uma vitória expressiva em 2015.

"Eles nos chutam porta afora e voltamos pela janela", disse ele em uma coletiva de imprensa. "Jamais nos rendemos. Insistimos e insistimos até vencermos. Hoje nos sentimos vitoriosos".

A oposição realizou um referendo extraoficial sobre o plano de Maduro no início de julho, quando mais de 7 milhões de eleitores rejeitaram sua Assembleia Constituinte e votaram a favor da antecipação das eleições.

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