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Líderes começam a se perguntar: como será o mundo depois da pandemia?

As previsões não são boas. Governos em colapso, fome, economias em crise e extremistas com mais poder estão entre os cenários mais sombrios

 (Kena Betancur/Getty Images)

(Kena Betancur/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 19 de maio de 2020 às 14h43.

Enquanto a pandemia de coronavírus causa estragos em muitos países, líderes políticos e empresariais já começam a pensar como será o mundo quando a pior fase do surto passar.

As previsões não são boas.

Governos em colapso, fome, economias em crise e extremistas com mais poder estão entre os cenários pós-pandemia mais sombrios. No entanto, mesmo perspectivas menos drásticas têm um tom sombrio, com alianças políticas em ruínas e baixas expectativas de que as economias se recuperem rápido o suficiente para atenuar o impacto de centenas de milhões de empregos perdidos.

As divisões antes do surgimento do vírus se ampliam mais rapidamente. A disputa entre EUA e China sobre as origens e a resposta ao vírus agora ameaça o acordo comercial que poderia ajudar o mercado global a se recuperar. A briga pela distribuição de uma possível vacina divide aliados. Enquanto a ONU é deixada de lado, governos autocráticos intensificaram ataques às liberdades civis.

A esperança de que os países possam momentaneamente deixar de lado as diferenças para combater o coronavírus praticamente evaporou.

“Esta pandemia está quase tão perto de um asteroide que atinge a Terra quanto você possa imaginar em termos de ameaça comum”, disse Richard Fontaine, diretor-presidente do Center for a New American Security, em Washington. “Além de não haver cooperação significativa, se tornou apenas mais um vetor para concorrência.”

Muitos países, tendo visto a resposta “America First” à pandemia, terão receio de depender muito do governo de Washington. A maior economia do mundo, que possui muitas das principais universidades e pesquisadores, não conseguiu garantir testes e equipamentos médicos suficientes para combater o vírus, que já matou mais de 86 mil americanos.

Ao mesmo tempo, as demandas da China por concessões em troca de equipamentos extremamente necessários - geralmente de baixa qualidade - e sua contínua recusa em permitir uma investigação completa sobre a origem do vírus tornam a nação asiática a opção menos atraente para países espremidos entre as superpotências.

“O dano corrosivo é bastante profundo”, disse William Burns, ex-vice-secretário de Estado dos EUA que agora é presidente do Carnegie Endowment for International Peace. “A crise da pandemia é um doloroso acelerador de muitas tendências no cenário internacional - fragmentação entre estados, foco no nacionalismo restrito, agravamento da competição entre grandes potências e desordens regionais.”

A pandemia deve eliminar US$ 8,5 trilhões do PIB global e colocar 130 milhões de pessoas nas fileiras da extrema pobreza, segundo a ONU. Mais de 100 países recorreram ao Fundo Monetário Internacional para ajuda.

“Vamos ver um papel maior do governo na economia, porque essa é a única maneira de injetar algo nela”, disse Nathalie Tocci, diretora do Instituto Italiano de Assuntos Internacionais em Roma. “Haverá um papel maior do governo na recuperação econômica, mas também uma atenção maior para evitar aquisições hostis, principalmente com a China em mente.”

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