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Líbano libera maconha medicinal para salvar economia abalada pela covid-19

Medida deverá gerar 1 bilhão de dólares para o país, afetado por uma crise sem precedentes; governo não consegue pagar salários dos servidores

Maconha medicinal: o consumo de bebidas alcoólicas e substâncias ilegais é considerada uma grave transgressão aos preceitos religiosos (OpenRangeStock/Getty Images)

Maconha medicinal: o consumo de bebidas alcoólicas e substâncias ilegais é considerada uma grave transgressão aos preceitos religiosos (OpenRangeStock/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 22 de abril de 2020 às 16h57.

O Líbano aprovou a liberação no cultivo de maconha para fins medicinais e industriais para salvar sua economia. A nova legislação já começa a valer a partir desta semana. Mesmo antes da parada de parte do setor produtivo em função da quarentena provocada pelo coronavírus, em 15 de março, a economia do país já vinha cambaleando. 

A libra libanesa se desvalorizou 50% em relação ao dólar desde janeiro, a maior queda da história. Anos seguidos de descontroles nos gastos públicos fizeram com que a dívida pública atingisse 150% do PIB no final do ano passado. O poder público não consegue mais pagar o salário integral dos servidores e os bancos, sem liquidez, liberam apenas o equivalente a menos de 300 dólares por semana para saques. Com a iniciativa privada parcialmente em pausa devido à covid-19, o risco de um mergulho no abismo aumentou ainda mais. 

Muitos países do Oriente Médio foram pegos de surpresa com a notícia. Em geral, o consumo de bebidas alcoólicas e substâncias ilegais é considerada uma grave transgressão aos preceitos religiosos. “O mais incrível é a medida ter passado no Parlamento libanês, que conta com vários membros do Hezbollah, um grupo xiita bastante conservador”, diz o fotógrafo Kareem Azhour, de 35 anos. Em maio de 2019, o grupo proibiu a realização da Parada Gay em Beirute. 

A produção legalizada da maconha poderá injetar cerca de 1 bilhão de dólares por ano na economia, segundo estudos preliminares da consultoria McKinsey. A planta é cultivada, ilegalmente, no Vale do Bekaa, no leste do país, perto da fronteira com a Síria.

Segundo o escritório das Nações Unidas de prevenção ao tráfico de drogas e ao crime organizado, o Líbano é um dos cinco maiores produtores mundiais da substância. A droga costuma seguir para a Síria, que há quase dez anos está imersa em uma guerra civil, a Jordânia e outros países da região. 

Agora, com a legalização, o governo libanês acredita que poderá ajudar a suprir a demanda mundial pela cannabis voltada ao uso medicinal e industrial, que não é recreativo. O mercado global da planta movimentou cerca de 18 bilhões de dólares no ano passado, segundo do Banco de Montreal, no Canadá, principalmente na fabricação de remédios.

Nos Estados Unidos, o setor gera cerca de 10 bilhões de dólares por ano. Resta saber se no Líbano os produtores do Vale do Bekaa deverão optar pelo caminho da legalidade, pagando impostos.

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