Mundo

Kim acusa EUA de "má fé" na cúpula de Hanói

Kim realizou tais comentários durante sua primeira cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin

Donald Trump e Kim Jong-un: ao contrário de reunião com Putin, que o líder norte-coreano definiu como "muito boa", ele considera que o encontro com Trump foi um "fracasso" (Leah Millis/Reuters)

Donald Trump e Kim Jong-un: ao contrário de reunião com Putin, que o líder norte-coreano definiu como "muito boa", ele considera que o encontro com Trump foi um "fracasso" (Leah Millis/Reuters)

A

AFP

Publicado em 26 de abril de 2019 às 06h09.

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, considera que os Estados Unidos agiram de "má fé" durante sua cúpula com o presidente Donald Trump em Hanói, em fevereiro, e que a situação na península coreana atingiu "um ponto crítico", revelou nesta sexta-feira a agência oficial KCNA.

Kim realizou tais comentários durante sua primeira cúpula com o presidente russo, Vladimir Putin, na quinta-feira em Vladivostok, um encontro que qualificou de "aberto e amistoso".

Segundo a KCNA, Kim convidou Putin a visitar a Coreia do Norte "em um momento oportuno", e o "convite foi aceito de bom grado" pelo líder russo.

Os comentários críticos à atitude americana chegam uma semana depois de Pyongyang pedir que o secretário de Estado, Mike Pompeo, seja retirado das conversações nucleares com Washington, acusando-o de descarrilar o processo.

O líder norte-coreano disse que "a situação na península da Coreia e sua região está estancada e em um ponto crítico", segundo a KCNA.

Kim advertiu que a situação "poderá voltar a seu estado original, já que os Estados Unidos adotaram uma postura unilateral de má fé na segunda cúpula entre Coreia do Norte e Estados Unidos".

A segunda cúpula, celebrada em fevereiro em Hanói, terminou sem um acordo sobre o arsenal nuclear da Coreia do Norte.

Pyongyang pedia um alívio imediato das sanções, mas as duas partes não conseguiram chegar a um acordo sobre as concessões que a Coreia do Norte deveria fazer em troca.

Durante sua reunião com Kim, o presidente russo se posicionou como um contrapeso aos Estados Unidos, insistindo que o Norte precisa de "garantias sobre sua segurança e a preservação de sua soberania".

"Precisamos voltar ao estado no qual o direito internacional, e não a lei do mais forte, determina a situação no mundo", declarou Putin.

Kim disse ao líder russo que a paz e a segurança na península coreana dependem completamente da atitude dos Estados Unidos e que seu país "estará preparado para qualquer situação", segundo a KCNA.

Dois meses depois do grande fracasso do segundo encontro com Trump, o norte-coreano afirmou que teve um "momento muito bom" com o presidente russo em Vladivostok, e declarou que deseja reavivar os "vínculos históricos" entre Rússia e Coreia do Norte.

"Estou contente com o resultado: Kim Jong Un é alguém bastante aberto, disposto a falar de tudo", afirmou Putin ao final da reunião, a primeira deste nível desde a de 2011 entre o ex-presidente Dmitri Medvedev e Kim Jong Il.

Kim passou quase cinco horas em território russo: duas horas de reunião frente a frente com Putin, seguidas de conversas entre delegações e depois por um jantar que incluiu borsch, salada de caranguejo e ravioli siberiano de carne de rena.

"Restaurar o direito internacional"

Apesar dos repetidos convites a Kim, a Rússia permaneceu até agora afastada da espetacular distensão observada na península da Coreia desde o início de 2018.

Porém, dois meses após o fiasco de Hanói, o líder norte-coreano busca apoios na disputa com Washington e um certo reequilíbrio de suas relações entre China, seu principal aliado, e Rússia, velho aliado durante a Guerra Fria. Foi a ex-União Soviética que colocou no poder o avô de Kim e fundador da República Popular Democrática da Coreia (RPDC), Kim Il Sung.

Após a reunião na ilha de Russki, diante do porto de Vladivostok, Putin afirmou que é favorável - como os Estados Unidos - a uma "desnuclearização total" e considerou "possível" uma solução, desde que a Coreia do Norte receba "garantias sobre sua segurança e a preservação de sua soberania".

Putin destacou que pretende discutir com Washington sobre o que conversou com Kim Jong Un.

"Aqui não há segredos, não há conspirações. O próprio presidente Kim nos pediu para informar o lado americano sobre nossa posição", disse.

Moscou defende um diálogo com Pyongyang baseado em um plano definido por China e Rússia. O país já solicitou a retirada das sanções internacionais, enquanto o governo dos Estados Unidos acusou o Kremlin de ajudar a Coreia do Norte a evitar as punições.

Diálogo difícil

Após anos de aumento da tensão, em consequência dos programas nuclear e balístico de Pyongyang, Kim se reuniu em quatro ocasiões desde março de 2018 com o presidente chinês, Xi Jinping, três com o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, e duas com Trump.

Em Hanói, a Coreia do Norte tentou conseguir uma redução das sanções internacionais aplicadas para obrigar o país a renunciar a suas armas atômicas. Mas as discussões terminaram antes do previsto em consequência das profundas divergências com Washington, sobretudo pelas concessões que Pyongyang estava disposta a fazer.

O regime norte-coreano fez na semana passada críticas pesadas a Mike Pompeo, o secretário de Estado americano, e pediu que não participe mais nas negociações sobre a questão nuclear.

Pompeo, em uma entrevista na quarta-feira ao canal CBS, se expressou prudência sobre a continuidade do diálogo: "Vai ser agitado. Vai ser difícil".

A relação entre Pyongyang e Moscou teve início no período soviético.

A URSS forneceu apoio crucial a Kim Il Sung durante a Guerra Fria, mas as relações avançaram de maneira irregular, em particular porque o fundador da RDPC era um mestre na arte de jogar com a rivalidade entre chineses e soviéticos para obter concessões dos dois lados.

Pouco depois de sua primeira eleição como presidente da Rússia, Vladimir Putin tentou normalizar as relações e se reuniu em três ocasiões com Kim Jong Il, pai e antecessor do atual líder. O primeiro encontro aconteceu em Pyongyang em 2000, o que fez de Putin o primeiro governante russo a viajar à Coreia do Norte.

Acompanhe tudo sobre:Coreia do NorteDonald TrumpEstados Unidos (EUA)Kim Jong-unRússiaVladimir Putin

Mais de Mundo

Há comida nos mercados, mas ninguém tem dinheiro para comprar, diz candidata barrada na Venezuela

Companhias aéreas retomam gradualmente os serviços após apagão cibernético

Radiografia de cachorro está entre indícios de esquema de fraude em pensões na Argentina

Trump conversa com Zelensky e promete "negociação" e "fim da guerra" na Ucrânia

Mais na Exame