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Kahn diz desconhecer outros réus em novo escândalo sexual

O ex-número um do FMI, de 65 anos, disse ainda que "nunca" foi ao Carlton, hotel de luxo de Lille e que deu o nome ao caso


	Dominique Strauss-Kahn: o depoimento de Strauss-Kahn deve acontecer na próxima semana
 (Kenzo Tribouillard/AFP)

Dominique Strauss-Kahn: o depoimento de Strauss-Kahn deve acontecer na próxima semana (Kenzo Tribouillard/AFP)

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Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2015 às 19h47.

Lille - Quase quatro anos após ter sua carreira política arruinada por um escândalo sexual nos Estados Unidos, o ex-diretor do FMI Dominique Strauss-Kahn negou, em audiência em um tribunal francês nesta segunda-feira, conhecer dois dos principais acusados neste novo escândalo sexual.

Em seu breve comparecimento nesse primeiro dia de processo por acusações relacionadas à prostituição, na cidade francesa de Lille (norte), DSK, como é chamado na França, garantiu nunca ter-se reunido com o cafetão "Dodo la Saumure", nem com René Kojfer.

A acusação aponta os dois como os organizadores das festas com prostitutas, das quais Strauss-Kahn teria participado.

O ex-número um do Fundo Monetário Internacional (FMI), de 65 anos, disse ainda que "nunca" foi ao Carlton, hotel de luxo de Lille e que deu o nome ao caso. Seria para lá que René Kojfer, responsável pelas Relações Públicas do estabelecimento, teria levado as prostitutas.

Nesta primeira audiência dedicada a questões de procedimento, DSK parecia sério, mas tranquilo, acompanhado de seu advogado, Henri Leclerc, e ao lado dos outros 13 acusados. Entre eles, além de "Dodo la Saumure", há um policial, um advogado e empresários.

Os magistrados do Tribunal Correcional de Lille se recusaram a realizar a audiência a portas fechadas.

O processo deslancha nesta terça-feira de manhã, quando o tribunal interrogará Kojfer. Já o depoimento de Strauss-Kahn deve acontecer na próxima semana. O julgamento deve durar ao menos três semanas.

Acusado de ser o principal beneficiário e instigador das noites libertinas em Paris e Washington, Strauss-Kahn corre o risco de ser condenado a dez anos de prisão e a pagar uma multa de mais de um milhão de euros.

Desde o amanhecer, pelo menos 300 jornalistas, incluindo profissionais de 20 veículos estrangeiros, aguardavam novidades em frente ao Palácio da Justiça para comentar o "caso Carlton", a nova aventura judiciária deste que foi um dos mais poderosos do planeta.

A defesa de Dominique Strauss-Kahn não mudou: tratará seu cliente como um adepto da libertinagem, e não de prostitutas, que desconhecia a qualidade das jovens mulheres que participaram das noites.

"É realmente querer nos fazer acreditar que ele é ingênuo", declara Jade, uma das prostitutas interrogadas durante a investigação - particularmente severa contra DSK, segundo uma fonte judiciária.

O advogado de Jade, Gérald Laporte, pedirá que as audiências sejam a portas fechadas. Três cenários são possíveis: o pedido ser aceito, recusado, ou que haja uma sessão privada.

Jade é uma das duas únicas prostitutas a serem convocadas nessa primeira fase do julgamento, mas duas outras desejam ser chamadas, de acordo com uma associação que as apoia.

'Rei da festa'

Ao final da instrução, os juízes estimaram que DSK não poderia ignorar que as mulheres a ele apresentadas eram prostitutas remuneradas e que, além disso, as noites eram organizadas especialmente para ele - o "rei da festa".

O gosto extremo desse ex-ministro por mulheres já havia destruído sua carreira política.

O "caso Carlton" teve início paralelamente ao escândalo de Nova York, quando uma camareira do hotel Sofitel o acusou de estupro.

Em maio de 2011, imagens de DSK algemado e cercado de policiais rodaram o mundo. O caso terminou com um acordo financeiro confidencial entre o acusado e a camareira Nafissatou Diallo. Dessa vez, porém, ele terá sua vida sexual exposta ao público.

A investigação preliminar no "escândalo Carlton" foi aberta pela Polícia Judiciária de Lille, após denúncias anônimas. Os investigadores se concentram na frequentação do hotel Carlton e do hotel de Tours, onde René Kojfer é suspeito de contratar prostitutas para satisfazer alguns clientes.

Ele "nunca gastou um centavo", afirma seu advogado Hubert Delarue.

A polícia grampeou o celular de René Kojfer e, dessa forma, descobriu vários nomes, incluindo o de Dominique Strauss-Kahn.

Os investigadores passaram a monitorar uma rede de personalidades suspeitas de contratar os serviços de jovens mulheres colocadas à disposição pelo responsável das relações públicas.

Entre eles, estão o empresário David Roquet; o empreiteiro especializado em material hospitalar Fabrice Paszkowski; Emmanuel Riglaire, um advogado de Lille; e David Roquet, ex-presidente de uma filial da empresa de obras públicas Eiffage.

O chamado círculo libertino contaria ainda com o policial Jean-Christophe Lagarde e com Dominique Strauss-Kahn.

Segundo a acusação, esses homens se encontravam regularmente para tais noitadas no norte da França, mas também em Paris, ou em Washington, sede do FMI, para onde três viagens foram organizadas quando DSK ainda dirigia o Fundo.

Nesta segunda, o caso pode ganhar ainda mais atenção, com a exibição pela emissora Canal+ de um documentário que afirma que escutas telefônicas de vários protagonistas do "caso Carlton" foram realizadas por nove meses, entre junho de 2010 e fevereiro de 2011, antes da revelação do escândalo de Lille.

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