Tanques turcos na fronteira com a Síria: jihadistas seguem avançando pelo território sírio (Bulent Kilic/AFP)
Da Redação
Publicado em 30 de setembro de 2014 às 15h18.
Mursitpinar - Os jihadistas do grupo Estado Islâmico (EI) seguiam avançando nesta terça-feira em direção a Ain al-Arab, e estavam a poucos quilômetros dessa cidade curda da Síria, apesar dos novos bombardeios aéreos da coalizão liderada pelos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, a Força Aérea britânica realizou seus primeiros bombardeios contra o EI no Iraque, enquanto forças curdas lançaram uma ofensiva de três frentes contra o grupo jihadista no norte do país.
"Posto de artilharia terrorista do Estado Islâmico destruído por uma bomba guiada Pavewai IV quando enquanto atacava tropas curdas", indicou o Ministério da Defesa britânico em uma mensagem no Twitter.
"Os soldados estão lutando no centro de Rabia", cem quilômetros ao norte de Bagdá, depois de terem conquistado dois povoados, anunciou uma autoridade curda.
Na Síria, "o EI está agora a dois ou três quilômetros de Kobane (nome curdo da localidade). Apenas um vale separa os jihadistas da cidade", afirmou à AFP Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), uma ONG com sede na Grã-Bretanha.
Na segunda-feira, o EI estava a cinco quilômetros desta terceira maior cidade curda da Síria, perto da fronteira com a Turquia. Várias localidades próximas a essa cidade, na província de Aleppo, já estão em poder dos jihadistas.
Vinte foguetes foram disparados pelos jihadistas contra o centro de Ain al-Arab, deixando três mortos na segunda-feira, segundo o OSDH.
Se tomarem essa localidade, os jihadistas passarão a controlar uma longa faixa territorial contínua ao norte da Síria, ao longo da fronteira com a Turquia.
Diante deste avanço, os Estados Unidos e vários países árabes bombardearam duas vezes posições do EI, segundo o OSDH, que não informou os alvos dos ataques.
Nesta terça-feira, os jihadistas do EI libertaram mais de 70 estudantes curdos que haviam sido sequestrados pelo grupo no norte da Síria em maio, de acordo com o OSDH.
Esses estudantes faziam parte de um grupo de 153 pessoas que o EI havia sequestrado em 29 de maio quando voltavam da cidade de Aleppo, onde tinham prestado exames, para Ain al-Arab.
A ofensiva dos jihadistas nesta região, iniciada em meados de setembro, provocou um êxodo de 160.000 pessoas que se refugiaram na Turquia. Na segunda-feira, outras 15.000 pessoas passaram pela fronteira fugindo dos novos confrontos.
Reforço militar da Turquia
A Turquia reforçou na segunda-feira a mobilização militar em torno do posto fronteiriço de Mursitpinar (sul), depois que três morteiros caíram em seu território. Ancara posicionou tanques e veículos blindados no local, de acordo com um fotógrafo da AFP.
A Turquia havia se mostrado até agora reticente em participar de uma intervenção militar contra os jihadistas, mas o governo conservador islâmico apresenta nesta terça-feira um projeto de mandato autorizando a intervenção de seu Exército no Iraque e na Síria.
Se o Parlamento - que debaterá a partir de quinta-feira o assunto - autorizar, a Turquia se juntará à coalizão liderada pelos Estados Unidos, e da qual participam 50 países, com diversos níveis de envolvimento.
A Turquia foi acusada de ter apoiado os grupos armados que lutam contra o regime do presidente sírio, Bashar al-Assad.
O líder sírio condenou nesta terça os ataques da coalizão liderada pelos EUA contra os extremistas islâmicos em seu país, denunciando "uma agenda oculta" dos Estados Unidos no Oriente Médio.
"Combater o terrorismo não pode ser feito por esses países que ajudaram a criar grupos terroristas dando apoio logístico e financeiro e espalhando o terrorismo em todo o mundo", disse o presidente sírio, citado pela agência de notícias oficial Sana, usando a expressão terroristas para designar também os rebeldes moderados.
Mais de 4.000 operações aéreas
Além de Ain al-Arab, a coalizão também bombardeou as imediações da localidade de Tall Abyad, na fronteira com a Turquia e situada na província de Raqqa (norte da Síria), principal reduto do EI.
Os ataques aéreos também tiveram como alvo dois áreas sob controle do EI na província de Deir Ezzor (leste), informou o OSDH.
A ofensiva aérea lançada na Síria no dia 23 de setembro pelos Estados Unidos e seus aliados deixou mais de 200 mortos entre os jihadistas e 22 entre os civis, informou a ONG.
Já os bombardeios americanos contra posições do EI no Iraque começaram em 8 de agosto.
Os britânicos, que começaram a participar dos bombardeios no Iraque, não querem se envolver na Síria.
"Trata-se de uma missão que vai durar não apenas meses, e sim anos, mas acredito que temos que estar preparados para este compromisso", disse o primeiro-ministro britânico David Cameron aos deputados em Londres.
O Exército americano realizou 4.100 operações aéreas desde 8 de agosto nos dois países, segundo uma autoridade militar americana. A isso se somam 400 voos realizados por países árabes.
Diante da ameaça representada pelo avanço dos jihadistas para os cristãos do Oriente Médio, o Vaticano indicou que convocará os embaixadores na Santa Sé para abordar a crise de quinta-feira a sábado.