Jihadistas atacam base aérea e ameaçam cristãos no Iraque
Militares não conseguem conter avanço de rebeldes sunitas, que deram um ultimato para que os cristãos da cidade de Mossul deixem suas casas
Da Redação
Publicado em 18 de julho de 2014 às 18h24.
Bagdá - Os insurgentes iraquianos lançaram um ataque contra uma base aérea perto da antiga fortaleza de Saddam Hussein, no norte do Iraque , informaram fontes do Exército, que tenta impedir o avanço dos insurgentes sunitas.
Os rebeldes sunitas também deram um ultimato para que os cristãos da cidade de Mossul deixem suas casas.
O Exército e o Estado Islâmico ( EI ), um grupo jihadista ultrarradical que lidera desde 9 de junho a ofensiva insurgente, divergem sobre o resultado do confronto e o número de mortes, mas um oficial da inteligência reconheceu que a base aérea havia sido atacada na noite de quinta.
A base militar, conhecida como base Speicher, está localizada poucos quilômetros ao norte da cidade de Tikrit, um antigo reduto de Saddam Hussein controlado pelos insurgentes sunitas há mais de um mês.
"Na noite passada, homens armados se infiltraram na base e conseguiram chegar à pista. Havia franco-atiradores e homens-bomba entre eles.", declarou à AFP oficial de inteligência, que estava no local no momento do ataque.
Os militares, que não conseguem impedir o avanço dos insurgentes, vinham conseguindo manter o controle da base, apesar dos vários ataques.
"Quando o combate começou, os pilotos retiraram os aviões", lançando um ataque aéreo contra um comboio do EI que se aproximava da base, mas não conseguiram impedir a destruição de um helicóptero que permaneceu no chão, acrescentou o oficial.
Uma unidade das forças especiais chegou como reforço e perdeu três dos seus membros nos combates, enquanto 35 agressores foram mortos na batalha, disse ele.
Já o IE afirmou em um comunicado que havia matado vários soldados e pilotos, derrubado dois helicópteros em voo e destruído equipamentos, reservas de combustível e instrumentos de comunicação no chão.
Outro oficial iraquiano na região também relatou um ataque contra a base Speicher, sem fornecer um registro de vítimas.
Os combatentes do EI também atacaram um posto policial perto de Balad, 70 km ao norte de Bagdá, matando seis pessoas, incluindo três policiais, informou a polícia.
Um ataque também foi relatado na aldeia vizinha de Duluïya, suscitando temores do avanço dos rebeldes em direção a Bagdá.
Cristãos fogem de Mossul
Nesta sexta, os cristãos fugiam em massa da cidade de Mossul depois que as mesquitas divulgaram um ultimato dando a eles poucas horas para partir, informou o patriarca caldeu. "As famílias cristãs vão para Dohuk e Arbil", afirmou o patriarca Louis Sako à AFP. "Pela primeira vez na história do Iraque, Mossul está sem cristãos".
Dohuk e Arbil estão situadas nas proximidades da região autônoma do Curdistão. De acordo com testemunhas, as mensagens transmitidas pelos alto-falantes de várias mesquitas exigem que os cristãos deixem a cidade até sábado.
Em uma declaração atribuída ao EI, os jihadistas já haviam advertido na semana passada a minoria cristã em Mossul, segunda maior cidade do país, onde viviam 2 milhões de pessoas antes da ofensiva dos insurgentes sunitas em 9 de junho.
"Ficamos chocados com a divulgação desse comunicado para que os cristãos se convertam ao Islã, ou pague um imposto especial, ou deixem a cidade (...) e afirmando que depois disso suas casas pertenceriam ao Estado islâmico", explicou o arcebispo Louis Sako.
O comunicado, ao qual a AFP obteve acesso, dizia: "Haverá apenas a espada" se os cristãos rejeitarem essas condições. Aproveitando-se de sua rápida ofensiva, os insurgentes liderados pelos jihadistas do EI tomaram grandes áreas do norte, do centro e do oeste do Iraque.
De acordo com o patriarca e testemunhas, várias casas foram marcadas nos últimos dias com a letra N para "Nassarah", um termo que designa os cristãos no Corão.
Antes da invasão americana de 2003, mais de um milhão de cristãos viviam no Iraque, principalmente em Bagdá. Mas por causa da violência que assola essa comunidade há mais de uma década, hoje não passam de 400.000 em todo o país.
Muitos daqueles que permaneceram no Iraque viviam antes da ofensiva jihadista na província de Nínive, da qual Mossul é a capital.