Jihad seduz ultraminoria em bairros carentes de metrópoles
Mohamed Merah, que matou sete pessoas na França e se proclamava um "mujahedine" ligado à Al Qaeda, é um desses jovens
Da Redação
Publicado em 22 de março de 2012 às 11h05.
Paris - Os jovens franceses de confissão muçulmana dos subúrbios pobres das grandes cidades seduzidos pela Jihad (guerra santa) - como Mohamed Merah, que matou sete pessoas e se proclamava "mujahedine" ligado à Al Qaeda -, são ultraminoritários, mas este fenômeno preocupa os especialistas.
Oriundo do bairro carente de Izards, Mohamed Merah, um francês de 23 anos de origem argelina, passou da deliquência ao islamismo radical depois de unir-se a um grupo de ideologia salafista e viajar para Afeganistão e Paquistão.
É suspeito do assassinato de sete pessoas em oito dias em Toulouse e Montauban.
"Este tipo de viagem ao Afeganistão era bastante frequente nos anos 1990, em meio à euforia pela vitória dos mujahedines contra a União Soviética", analisa Samir Amghar, doutor em sociologia e autor do livro "O salafismo de hoje".
"Certo número de pessoas viajava ao Afeganistão e Paquistão para formar-se, mas há alguns anos assistimos a um declive do 'jihadismo' devido à pressão muito eficaz dos serviços de segurança franceses e europeus", acrescentou.
"Segundo os serviços de inteligência, os salafistas são de 12.000 a 15.000 na França, mas os salafistas jihadistas são ultraminoritários", enfatiza.
Seu colega Gilles Kepel, analista político e especialista em Islã, acha "preocupante quando os salafistas impõem suas regras, por exemplo, o véu integral, a outros muçulmanos".
"Quando acontece uma ruptura com os valores republicanos franceses, se fomenta um terreno muito fértil para o Islã radical. O alvo destes fundamentalistas? Pessoas marginalizadas", assegura.
"Querem devolver a eles sua identidade, sua pureza, dizendo que é necessário aplicar uma concepção radical da religião", explica.
"Estes integristas se dirigem de maneira geral às pessoas dos bairros populares, não necessariamente às classes populares. Uma forte proporção pertence às classes média e superior, pessoas com estudo e diplomas", completa Amghar.
"Nos anos 1990, os imãs radicais podiam agir nas mesquitas em que pregavam. A partir do 11 de setembro, isso ficou difícil por causa da vigilância dos serviços de informação nas mesquitas".
O recrutamento passa agora pelas relações pessoais ou pela rede, analisa Amghar.
"Quando descobri que dois jovens de Vénissieux (centro) se encontravam na prisão de Guantánamo em janeiro de 2002, quase cai da cadeira. Perguntei a mim mesmo: 'quem enche a cabeça de nossos filhos?'", afirmou o deputado comunista André Guerin, ex-prefeito deste bairro periférico e autor do livro "Os guetos da república ainda e sempre".
Em seu livro, o político se preocupa com "o proselitismo extremamente ativo dos integristas muçulmanos que nas vizinhanças têm um terreno fértil para organizar a guetização".
"Quando pus sobre a mesa a questão do véu integral, para mim era a parte visível do iceberg", explica o deputado, que presidiu uma comissão parlamentar sobre o véu integral.
Quanto a Mohamed Merah, "será preciso ver como foi iniciado, como se nutriu do jihadismo, identificar estas redes. Todo um trabalho de formiga a ser feito", adverte Bernard Godard, co-autor do livro "Os muçulmanos na França".
"Ainda há lugares onde as pessoas estão tentadas ao salafismo. A pergunta que resta é 'que resposta dar a essa gente?'"
Paris - Os jovens franceses de confissão muçulmana dos subúrbios pobres das grandes cidades seduzidos pela Jihad (guerra santa) - como Mohamed Merah, que matou sete pessoas e se proclamava "mujahedine" ligado à Al Qaeda -, são ultraminoritários, mas este fenômeno preocupa os especialistas.
Oriundo do bairro carente de Izards, Mohamed Merah, um francês de 23 anos de origem argelina, passou da deliquência ao islamismo radical depois de unir-se a um grupo de ideologia salafista e viajar para Afeganistão e Paquistão.
É suspeito do assassinato de sete pessoas em oito dias em Toulouse e Montauban.
"Este tipo de viagem ao Afeganistão era bastante frequente nos anos 1990, em meio à euforia pela vitória dos mujahedines contra a União Soviética", analisa Samir Amghar, doutor em sociologia e autor do livro "O salafismo de hoje".
"Certo número de pessoas viajava ao Afeganistão e Paquistão para formar-se, mas há alguns anos assistimos a um declive do 'jihadismo' devido à pressão muito eficaz dos serviços de segurança franceses e europeus", acrescentou.
"Segundo os serviços de inteligência, os salafistas são de 12.000 a 15.000 na França, mas os salafistas jihadistas são ultraminoritários", enfatiza.
Seu colega Gilles Kepel, analista político e especialista em Islã, acha "preocupante quando os salafistas impõem suas regras, por exemplo, o véu integral, a outros muçulmanos".
"Quando acontece uma ruptura com os valores republicanos franceses, se fomenta um terreno muito fértil para o Islã radical. O alvo destes fundamentalistas? Pessoas marginalizadas", assegura.
"Querem devolver a eles sua identidade, sua pureza, dizendo que é necessário aplicar uma concepção radical da religião", explica.
"Estes integristas se dirigem de maneira geral às pessoas dos bairros populares, não necessariamente às classes populares. Uma forte proporção pertence às classes média e superior, pessoas com estudo e diplomas", completa Amghar.
"Nos anos 1990, os imãs radicais podiam agir nas mesquitas em que pregavam. A partir do 11 de setembro, isso ficou difícil por causa da vigilância dos serviços de informação nas mesquitas".
O recrutamento passa agora pelas relações pessoais ou pela rede, analisa Amghar.
"Quando descobri que dois jovens de Vénissieux (centro) se encontravam na prisão de Guantánamo em janeiro de 2002, quase cai da cadeira. Perguntei a mim mesmo: 'quem enche a cabeça de nossos filhos?'", afirmou o deputado comunista André Guerin, ex-prefeito deste bairro periférico e autor do livro "Os guetos da república ainda e sempre".
Em seu livro, o político se preocupa com "o proselitismo extremamente ativo dos integristas muçulmanos que nas vizinhanças têm um terreno fértil para organizar a guetização".
"Quando pus sobre a mesa a questão do véu integral, para mim era a parte visível do iceberg", explica o deputado, que presidiu uma comissão parlamentar sobre o véu integral.
Quanto a Mohamed Merah, "será preciso ver como foi iniciado, como se nutriu do jihadismo, identificar estas redes. Todo um trabalho de formiga a ser feito", adverte Bernard Godard, co-autor do livro "Os muçulmanos na França".
"Ainda há lugares onde as pessoas estão tentadas ao salafismo. A pergunta que resta é 'que resposta dar a essa gente?'"