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Jamaica avança na descriminalização da maconha

40 anos depois do discurso de Bob Marley de que a maconha era boa, a Jamaica caminha em direção à descriminalização da erva

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	Maconha: possuir e consumir maconha em baixas quantidades não será mais crime
 (Marc Piscotty/Getty Images)

Maconha: possuir e consumir maconha em baixas quantidades não será mais crime (Marc Piscotty/Getty Images)

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Cristina García Casado

Publicado em 3 de julho de 2014, 10h31.

Ocho Ríos - Nos anos 70, Bob Marley quis convencer o mundo de que a maconha era boa.

E 40 anos depois, a Jamaica, ilha que o viu nascer e da qual é o máximo ícone, caminha em direção à descriminalização da erva, ao permitir sua posse e consumo em pequenas quantidades.

"É uma planta. É boa para tudo. Por que as pessoas do governo que se fazem passar por gente boa nos dizem que não devemos fumar erva?", disse na década de 70 o "rei do reggae", como consta no documentário "Bob Marley: Rebel Music" (PBS, 2000).

Após anos de intenso debate, possuir e consumir maconha na Jamaica não será mais crime em quantidades inferiores a duas onças (56,7 gramas) a partir de setembro, quando se espera que o Parlamento nacional dê sinal verde ao projeto de lei aprovado pelo Conselho de Ministros em junho.

"As pessoas vêm à Jamaica por três motivos: a praia, o sexo e para fumar", disse à Agência Efe Ziggy, um jovem local que vende maconha às escondidas em sua loja de artesanato e que gosta de ser chamado assim em homenagem a um dos filhos de Bob Marley.

Ziggy chegou a ser detido há um ano, quando policiais o encontraram com um baseado na mão. Ele passou cinco horas na prisão, saiu após pagar uma fiança de 30 mil dólares jamaicanos (R$ 590), foi a julgamento uma semana depois e recebeu, por fim, uma multa de 1.000 dólares jamaicanos (R$ 19,70).

Sob a futura lei, essa quantidade de "ganja", termo cunhado pelos rastafáris e pelo qual a maconha é conhecida na Jamaica, não seria mais motivo de detenção, nem de multa.

Desde essa detenção, em 2013, a polícia visitou muitas vezes a região onde Ziggy trabalha, mas ele não voltou a se meter em problemas: esconde sua plantação de cannabis atrás da pequena loja na qual vende imagens em madeira talhada de Bob Marley fumando um baseado.

Assim que o avião pousa, o turista que chega a Jamaica começa a receber ofertas para comprar maconha. Desde o motorista que o leva ao hotel até os quiosqueiros da praia, todos o abordam com a mesma pergunta: "Quer fumar?".

Duas onças de "ganja", a quantidade permitida a partir de setembro, custam entre US$ 160 e 240 (R$ 352 e R$ 528) para os estrangeiros, enquanto um jamaicano pode consegui-la por até 1.000 dólares nacionais (R$ 19,70).


"Isso é assim porque o risco de vendê-la a um turista é muito maior. A punição é pior se você vende a um estrangeiro", afirmou à Efe "Smokey", um jamaicano de 34 anos que vende maconha em um mercado de peixes próximo à cidade turística de Montego Bay.

A maioria dos turistas compra uma bolsa com uma pequena quantidade de "ganja" ou um baseado já aceso e costuma fumá-lo nos quartos de seus hotéis ou em algum lugar discreto da praia.

"Poucos se aventuram a visitar as plantações de maconha. Só os que repetem a viagem e conhecem algum cidadão local no qual confiem se atrevem a ir", conta "Smokey".

Já os jamaicanos compram sua "ganja" nas plantações, onde ela é semeada escondida entre cultivos tropicais como o mamão, porque ali é mais barata do que nas lojas sem licença que a vendem discretamente entre pacotes de arroz e garrafas de rum.

"Se você caminha pelo centro de qualquer cidade jamaicana, vai sentir cheiro de maconha na rua. Aqui não é algo que se fuma para fazer loucura, é parte de nossa cultura. Eu fumei meu primeiro baseado aos oito anos, e meu avô viveu até os 108 sem deixar de fumar um dia de sua existência", contou "Tony", apelido pelo qual é conhecido um jovem que vende "ganja" em sua loja de alimentos em Nine Mile, cidade natal de Bob Marley.

Em Nine Mile, situada no litoral norte e parada habitual dos turistas que se hospedam na popular cidade de Ocho Ríos, está a casa onde nasceu o cantor, transformada em mausoléu após sua morte aos 36 anos em consequência de um câncer.

Na residência, é comum ver os guias do movimento rastafári - cujas crenças o cantor contribuiu para internacionalizar - fumar maconha. "É ilegal, advertem aos turistas, portanto se você fuma, é por sua conta e risco", disse "Tony".

Os países vizinhos observam o passo dado pela Jamaica na regulação desta substância, cuja descriminalização completa - e conseguinte cobrança de impostos por sua venda - é vista por alguns setores como uma oportunidade para uma região que enfrenta complexos problemas sociais e econômicos.

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