Mundo

J.Hawilla é envolvido em esquema de corrupção no futebol

Quando a estrutura da principal liga do país se revelou um obstáculo para seus negócios, J.Hawilla decidiu criar sua própria organização


	Quando a estrutura da principal liga do país se revelou um obstáculo para seus negócios, J.Hawilla decidiu criar sua própria organização
 (Thinkstock)

Quando a estrutura da principal liga do país se revelou um obstáculo para seus negócios, J.Hawilla decidiu criar sua própria organização (Thinkstock)

DR

Da Redação

Publicado em 5 de junho de 2015 às 07h54.

Miami - A ilha artificial Brickell Key, no centro de Miami, é o local de onde a brasileira Traffic expandiu a sua influência no futebol dos Estados Unidos.

Quando a estrutura da principal liga do país se revelou um obstáculo para seus negócios, J.Hawilla decidiu criar sua própria organização, na qual investiu US$ 4,5 milhões. Em troca, garantiu os direitos de marketing e comercialização de seus jogos.

Na mesma ilha, a cerca de 100 metros do escritório da empresa, está o apartamento de Aaaron Davidson, o principal símbolo da intrincada relação entre Hawilla e o futebol nos Estados Unidos.

Até ser preso, na semana passada, ele acumulava os cargos de presidente da Traffic USA e chairman do Conselho de Governadores da North American Soccer League (NASL), a liga criada em 2009 pelo brasileiro, equivalente à segunda divisão no país.

Além de abrir um novo mercado para Hawilla, a NASL ampliou a presença nos Estados Unidos do modelo de organização do futebol professado pela Fifa, no qual times independentes se unem em ligas ou federações.

Comparável à primeira divisão, a Major League Soccer (MLS) tem estrutura centralizada e uma empresa de marketing que negocia contratos com as redes de TV, o que era uma barreira à expansão da Traffic. Os recursos arrecadados são divididos pela liga entre os 22 clubes que a compõem.

Além disso, quem paga os salários dos jogadores é a MLS, que estabelece valores mínimo e máximo e limita o número de "estrelas" que cada time pode ter - hoje, são três.

Entre os brasileiros, o mais célebre é Kaká, contratado pelo Orlando City, clube do carioca Flávio Augusto da Silva, ex-dono da escola de inglês WiseUp.

A NASL foi fundada em 2009 e começou a atuar em 2011. Segundo documentos obtidos pelo jornalista Brian Quarstad, especialista em futebol, Hawilla recuperou os US$ 4,5 milhões que investiu com a cobrança de US$ 450 mil de cada um dos 10 times que aderiram à liga.

"A Traffic é muito agressiva e é o principal braço do Brasil no futebol dos EUA", disse o brasileiro Roberto Linck, jogador e um dos donos do Miame Dade FC, time da American Premier Soccer League (APSL), equivalente a uma quarta divisão do ponto de vista financeiro. Apesar dessa classificação, as ligas nos Estados Unidos são independentes e não existe a possibilidade de ascensão ou rebaixamento dos clubes.

Segundo Douglas Heizer, dono do Boca Raton FC, um dos objetivos de Hawilla com a criação da NASL era levar o futebol dos Estados Unidos a adotar uma hierarquia de divisões, em modelo semelhante ao sancionado pela Fifa na Europa e na América Latina. Para isso, a liga teria de chegar a um acordo com a grande MLS.

A liga fundada por Hawilla ganhou impulso em 2012, quando conquistou o Cosmos de Nova York. Com o prestígio do clube que teve Pelé no seu time, a NASL passou a ser mais agressiva na disputa com a MLS. Kartik Krishnaiyer, que trabalhou na Traffic USA e na liga criada por Hawilla, escreveu no portal World Soccer Talk que a empresa tinha "obsessão" em desafiar a posição dominante da principal liga dos Estados Unidos.

Depois da adesão do Cosmos, a companhia deu mais um passo em 2012 para ampliar sua influência no esporte: seu então vice-presidente, o colombiano Enrique Sanz, foi nomeado secretário-geral da Concacaf. Sanz foi afastado do cargo há 10 dias, depois de a investigação na qual Hawilla é réu confesso ter sido revelada.

Apesar de o colombiano não estar no primeiro grupo de pessoas indiciadas, seu perfil é idêntico a um dos co-conspiradores descritos na denúncia. A reportagem esteve em sua casa na última terça-feira, mas foi informada que ele não estava "disponível".

Com Sanz na entidade, os Estados Unidos foram escolhidos como sede da Copa América Centenário de 2016 e os direitos de comercialização do evento foram entregues à Traffic e não à Soccer United Marketing, a empresa ligada à MLS. Segundo a investigação do Departamento de Justiça, o processo foi permeado pela distribuição de propinas.

A reportagem esteve no condomínio onde Hawilla mora em Miami, mas não obteve resposta pelo interfone ou pelo telefone da residência. Na Traffic, onde trabalham 14 pessoas, funcionários repetiam o mesmo bordão: "sem comentários".

Acompanhe tudo sobre:CorrupçãoEscândalosEsportesFraudesFutebol

Mais de Mundo

Violência após eleição presidencial deixa mais de 20 mortos em Moçambique

38 pessoas morreram em queda de avião no Azerbaijão, diz autoridade do Cazaquistão

Desi Bouterse, ex-ditador do Suriname e foragido da justiça, morre aos 79 anos

Petro anuncia aumento de 9,54% no salário mínimo na Colômbia