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Isolamento e terror: como está a cidade marco zero do vírus na China

Wuhan, cidade da China mais afetada pelo novo coronavírus, tem transporte público interrompido, voos e trens cancelados e uma população aterrorizada

China: novo coronavírus deixa 26 mortos e infecta mais de 800 pessoas (Paul Yeung/Bloomberg)

Gabriela Ruic

Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 14h39.

Última atualização em 30 de janeiro de 2020 às 15h28.

Em Wuhan, a cidade que é o marco zero do novo coronavírus que se espalha pela China, um sentimento de medo se instala rapidamente.

Na manhã de quinta-feira, os cerca de 11 milhões de habitantes de Wuhan acordaram com a notícia de que a cidade está confinada, com o transporte público interrompido, voos cancelados e trens que não partirão às vésperas do feriado do Ano Novo Lunar, que tradicionalmente une famílias para dias de festa.

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É uma radical mudança para Wuhan, no epicentro de uma crise de saúde potencialmente global depois que um mercado que vende carne recém-abatida e animais vivos foi identificado como a fonte de um surto que matou 17 pessoas e infectou centenas. Com o surto, moradores questionam cada movimento.

A estudante Yi Zixuan está aterrorizada com a possibilidade de que uma refeição no domingo com amigos perto de um hospital possa tê-la exposto ao novo coronavírus, que causa pneumonia em pessoas infectadas.

“Eu não usava máscara”, disse Yi, 21 anos. “Cancelei uma viagem a Changsha durante o feriado do Ano Novo Lunar e estou até cancelando planos de ir ao cinema. Vou tentar ficar em casa o máximo que puder.”

O número de mortos pelo vírus aumentou rapidamente no último fim de semana e, com mais casos identificados, a vida em Wuhan passou de normal para estressante em questão de dias. Poucas horas depois das restrições de viagem serem anunciadas, centenas de carros enfileiravam-se no trânsito em um pedágio para uma rodovia fora da cidade.

Com um porto movimentado no rio Yangtze, Wuhan é um centro de transporte para a China central, com várias linhas ferroviárias de alta velocidade convergindo para a cidade. Um antigo assentamento britânico, ainda mantém a arquitetura daquele período. Os setores de siderurgia e automotivo estão entre os maiores empregadores.

Quando Yi saiu de casa na segunda-feira pela manhã, ela disse que cerca de 20% das pessoas usavam máscaras protetoras; à noite, estimou que o número havia subido para cerca de 80%. Em toda a cidade, as pessoas já encontram maneiras de seguir a vida, mas com cautela. A mãe de Yi ainda se reúne com amigos para jogar “mahjong”, mas agora checam a temperatura do corpo antes de jogar.

“Nosso destino está à mercê dos deuses”, disse Yi. “É difícil dizer quem carrega o vírus, então não temos outras opções.”

Para Guo Zirui, nascido em Wuhan, isso significa uma separação incomum. Um dos pais do estudante de 21 anos trabalha em um hospital local. Por isso, a família decidiu mandá-lo de volta para seu dormitório em Pequim, onde estuda na Universidade de Tsinghua.

“O hospital não é um hotel, então a equipe médica precisa voltar para casa depois do trabalho”, disse, falando por celular da estação ferroviária de Wuhan, no caminho de volta à capital na quarta-feira à tarde. “A situação ainda não está clara, e não sabemos se é seguro continuar em Wuhan.”

O feriado de Ano Novo - quando centenas de milhões de pessoas viajam na maior migração anual de humanos do planeta - representa um desafio significativo para as autoridades chinesas, que tentam conter o surto que também infectou pessoas em outros países, como Tailândia e Estados Unidos.

Na quarta-feira, a China anunciou um reforço dos controles nos centros de transporte em todo o país e aumentou a triagem de passageiros. Mas autoridades admitem que não sabem muito sobre o novo vírus, que pertence à mesma família da SARS, um surto respiratório que matou cerca de 800 pessoas há 17 anos.

Os sintomas da doença do coronavírus incluem febre, tosse ou aperto no peito e dificuldade em respirar.

A proibição de sair de Wuhan foi anunciada nas primeiras horas da manhã de quinta-feira e só entrou em vigor às 10h no horário local, provocando uma verdadeira fuga. O tráfego começou a aumentar no aeroporto internacional de Wuhan Tianhe por volta das 4h da manhã, com pessoas esperando em filas de 100 metros nos balcões de check-in, de acordo com reportagem do Beijing News.

Houve um debate acalorado nas plataformas de redes sociais da China sobre se a proibição veio tarde ou foi muito drástica. Um blogueiro chamado Rapid Reviews destacou que milhares de estudantes e trabalhadores migrantes de Wuhan já haviam retornado às suas cidades de origem, e que as autoridades perderam uma janela de oportunidade para conter o surto.

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