Membros da Irmandade Muçulmana protestam no Egito: grupo rejeita "radicalmente" o novo texto porque se trata de "uma Constituição ilegítima", diz porta-voz (Amr Abdallah Dalsh/Reuters)
Da Redação
Publicado em 2 de dezembro de 2013 às 09h24.
Cairo - A Irmandade Muçulmana afirmou nesta segunda-feira que não reconhece o novo projeto de Carta Magna, aprovado ontem pelo comitê constituinte, e advertiu sobre novos protestos para reivindicar "a legitimidade da Constituição anterior", da corte islamita.
O porta-voz da confraria, Islã Taufiq, disse à Agência Efe que o grupo rejeita "radicalmente" o novo texto porque se trata de "uma Constituição ilegítima".
"Foi elaborada sequestrando o presidente do país (o deposto Mohammed Mursi) e com uma Comissão dos 50 - como é conhecido o comitê constituinte - reunida em segredo sem que o povo egípcio pudesse escutar ou ver o que faz ", criticou o porta-voz islamita.
O comitê constituinte do Egito aprovou ontem o projeto de Carta Magna, apesar da falta de consenso inicial sobre quatro artigos, dois dos quais ficaram sem definição à disposição do presidente interino, Adly Mansour.
Um dos pontos em discussão foi o que estabelece um sistema eleitoral misto para as próximas legislativas que beneficia em teoria os candidatos individuais em detrimento dos partidos políticos.
Também não foi aprovado em primeira votação o artigo que fixa as datas das eleições legislativas e presidenciais, cuja ordem de realização também será definida por Mansur.
"Como pode um presidente interino, empossado provisoriamente por um ministro golpista, ter em suas mãos decisões tão importantes quanto estabelecer a ordem no qual devem acontecer as eleições parlamentares e presidenciais?", questionou Taufiq.
Os islamitas consideram que "a situação é ridícula" porque há cinco meses foi estabelecido um roteiro no qual estava definida a ordem eleitoral, com as parlamentares primeiro.
"Estão se contradizendo e demonstrando que são um regime golpista que age por interesses pessoais e que procura obter uma legitimidade que não conseguirá, enquanto milhares de pessoas continuarem saindo às ruas", opinou.
A confraria e outros grupos afins convocaram novas manifestações para insistir na legitimidade da Constituição de 2012, votada há exatamente um ano e suspensa pelos militares em julho.
O porta-voz denunciou, além disso, que o comitê constituinte é presidido por Amre Moussa, ex-secretário geral da Liga Árabe e ex-candidato presidencial, mas também "ministro do regime ditatorial de (Hosni) Mubarak".
Finalmente, Taufiq pediu a libertação de todos os detidos desde o golpe militar contra Mursi em 3 de julho porque "não se pode redigir uma Constituição que defenda liberdades e democracia enquanto houver centenas de pessoas presas por defender sua liberdade".
A reforma constitucional, incluída no roteiro traçado pelo exército após a destituição de Mursi, reduz o tom islamita da Carta Magna anterior e reforça o papel da Forças Armadas.
Entre os novos 42 artigos do projeto constitucional, que agora precisa ser aprovado em plebiscito popular, destaca a proibição dos partidos religiosos.
Nos últimos meses a Irmandade Muçulmana manteve a pressão nas ruas, enquanto as autoridades reprimiram suas manifestações e detiveram seus principais líderes, acusados de incitar a violência.