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Irã busca melhorar sua imagem ao convocar visita às instalações nucleares

No entanto, EUA e as principais potências europeias como França, Reino Unido e Alemanha, todas elas muito críticas às atividades atômicas iranianas, não foram chamadas

O governo de Ahmadinejad convidou países mais benévolos a suas ambições atômicas (Spencer Platt/Getty Images)

O governo de Ahmadinejad convidou países mais benévolos a suas ambições atômicas (Spencer Platt/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 6 de janeiro de 2011 às 11h11.

Viena - O convite feito pelo Irã a vários embaixadores perante a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) para visitar suas instalações nucleares é uma tentativa de melhorar sua imagem internacional diante da próxima rodada de negociações sobre seu programa nuclear, no fim de janeiro.

Para garantir um parecer favorável, Teerã convidou países mais benévolos a suas ambições atômicas, como Rússia, China, Cuba e Egito, além da Hungria, que foi chamada em nome da União Europeia (UE).

Ficam assim excluídos deste "gesto de boa vontade" - tal como define Teerã - Estados Unidos e as principais potências europeias como França, Reino Unido e Alemanha, todas elas muito críticas às atividades atômicas iranianas.

Cuba e Egito parecem estar incluídos no grupo de convidados por serem destacados membros do Movimento de Países Não-Alinhados e do Grupo dos 77 (G77), bloco de países em desenvolvimento.

China e Rússia, dois membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, são dois países que só se somaram às sanções internacionais contra o Irã com certa reticência, já que ambos mantêm significativas relações energéticas, e inclusive nucleares, com Teerã.

Caso se concretize, a visita da delegação internacional ocorreria nos dias 15 e 16 de janeiro, poucos dias antes da nova rodada de negociações entre Irã e o chamado grupo 5+1 - formado por Rússia, China, EUA, França, Reino Unido e Alemanha -, prevista para fins de janeiro em Istambul.

A seleção dos países convidados pela República Islâmica indicaria uma tentativa iraniana de rachar o grupo de seis potências justo às vésperas da reunião, estipulada em um primeiro encontro realizado em Genebra em dezembro.

"Está claro que o Irã quer melhorar sua posição antes das negociações. Quer demonstrar que não tem nada a esconder e que seu programa (nuclear) é pacífico", assinalou em declarações telefônicas à Agência Efe Michael Adler, analista do Instituto Woodrow Wilson, de Washington.

Segundo este analista, que acompanha há anos a polêmica nuclear iraniana, trata-se de "uma jogada no marco das conversas (internacionais)".

Adler destacou, no entanto, o fato de que o roteiro da visita deve incluir não só a usina de enriquecimento de urânio em Natanz, mas também a obra de construção do reator de água pesada em Arak.

"Os inspetores da AIEA não têm o acesso que desejam a Arak. Por isso, chama a atenção que o Irã tenha incluído esse lugar na visita", ressaltou Adler.

Em Natanz, onde o Irã tem 9 mil centrífugas para enriquecer urânio, o organismo conta com exaustivas medidas de controle, incluindo câmeras de vídeo e visitas frequentes, "a cada duas semanas", indicou à Efe uma fonte próxima à AIEA.

O organismo investiga há oito anos as atividades nucleares do Irã e, devido à falta de cooperação em algumas questões essenciais, continua sem estar em condições de confirmar a natureza pacífica do programa atômico da República Islâmica.

O Governo dos Estados Unidos qualificou o convite como um "hábil truque" dos iranianos que, no entanto, "não substitui suas responsabilidades internacionais frente à AIEA".

O Conselho de Governadores da AIEA e o Conselho de Segurança das Nações Unidas exigem há cinco anos que o Irã suspenda as partes mais sensíveis de seu programa nuclear, como o enriquecimento de urânio e o reator de Arak, que produz plutônio.

Esses dois materiais, o plutônio e o urânio enriquecido, representam o cerne da polêmica por seu possível uso militar, algo que Teerã nega, alegando que só tem intenções civis. Entre os fins pacíficos enfatizados, estaria a produção de energia e a produção de isótopos radioativos para combater o câncer.

Outro fator a ser levado em conta é que os convidados que percorrerão as instalações nucleares iranianas não são cientistas, mas diplomatas, o que significa que provavelmente não terão os conhecimentos técnicos para analisar essas instalações de forma criteriosa.

Primeiro, no entanto, será necessário saber se a visita se confirma e se todos os países convidados comparecem a esta "jogada de relações públicas", como qualifica Adler.

"Mas, na realidade, não importa se a visita acontece ou não. O importante é o sinal de abertura que o Irã enviou pouco antes das negociações de Istambul", concluiu o analista

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