Irã abandonou tentativas de fabricar bombas nucleares em 2009, diz AIEA
Perguntado pelas acusações de Israel sobre um suposto programa nuclear militar do Irã, porta-voz da AIEA afirmou que "não debate em público" o caso
EFE
Publicado em 1 de maio de 2018 às 10h28.
Viena - A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), encarregada de vigiar o programa nuclear do Irã, afirmou nesta terça-feira que "avalia todas as informações disponíveis", embora lembrou que os especialistas concluíram em 2015 que o Irã abandonou a partir de 2009 suas tentativas para fabricar uma bomba nuclear.
Perguntado pelas revelações feitas ontem à noite por Israel sobre um suposto programa nuclear militar secreto do Irã, um porta-voz da AIEA afirmou hoje à Agência Efe em Viena que o organismo "não debate em público detalhes" relacionados com suas investigações.
Em todo caso, lembrou que a organização concluiu em 2015 que o Irã tinha tentado até 2003 de forma coordenada ter conhecimentos e materiais para fabricar uma bomba nuclear, que não foram além de estudos científicos e de viabilidade, além de adquirir certas competências e capacidades técnicas.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, apresentou ontem documentos que supostamente mostram que o Irã tem um programa nuclear militar clandestino e garantiu que Teerã está enganando o mundo, em referência ao grande acordo nuclear de 2015, verificado e vigiado pela AIEA.
O porta-voz da organização, Frederik Dahl, destacou hoje que o diretor-geral da AIEA, Yukiya Amano, apresentou em dezembro de 2015 sua análise final sobre os passados e presentes assuntos pendentes do programa nuclear do Irã.
Nesse relatório, os especialistas da organização chegaram à conclusão que até o final de 2003 o Irã dispunha de uma "estrutura organizativa para a coordenação de várias atividades relevantes para desenvolver uma bomba nuclear".
"Apesar de algumas atividades seguirem depois de 2003, já não faziam parte do esforço coordenado", explicou Dahl hoje.
"O mesmo relatório da AIEA destaca que não há indícios críveis de atividades no Irã relevantes para o desenvolvimento de explosivos nucleares depois de 2009", acrescentou o porta-voz.
"Baseado neste relatório do diretor-geral, a Junta de Governadores (o órgão executivo da AIEA) declarou que suas considerações em torno deste assunto estavam encerradas", lembrou Dahl.
"De acordo com suas práticas, a AIEA avalia todas as informações relevantes às salvaguardas (nucleares) disponíveis. No entanto, a AIEA não costuma debater em público assuntos relacionados com qualquer destas informações", concluiu o porta-voz em Viena.
As tensas investigações da AIEA sobre as atividades clandestinas do Irã começaram no início de 2003 após as denúncias de um grupo opositor iraniano e duraram mais de uma década.
Em novembro de 2011, em um de seus relatórios trimestrais sobre o Irã, o diretor da AIEA, Yukiya Amano, decidiu publicar uma série de alegações (recebidas de várias agências de inteligência) sobre possíveis aspectos militares do programa nuclear do Irã.
Durante os seguintes anos, os especialistas da AIEA negociaram com o Irã para esclarecer estas alegações.
Mas só depois de assinar em julho de 2015 o histórico acordo entre a República Islâmica e seis grandes potências (EUA, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha), a AIEA recebeu acesso e informações relevantes para esclarecer esses fatos.
Em um relatório final, apresentado por Amano em dezembro de 2015, os especialistas da AIEA deram por encerrada a investigação, que Netanyahu questiona agora com suas supostas revelações apresentadas ontem à noite em Tel Aviv.
Israel criticou desde o primeiro momento o acordo com o Irã, que limita durante pelo menos uma década amplos aspectos de seu programa nuclear, incluindo a produção de urânio enriquecido.
Junto com outros críticos do acordo, como a administração americana de Donald Trump, mas também a Arábia Saudita, grande inimigo do Irã no Golfo Pérsico, os israelenses advertem que a República Islâmica nunca abandonou a ideia de uma bomba, ou que poderia retomá-la após o final do acordo. EFE